Ego

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Sabe aquele momento em que você para e pensa: "meu deus, isso é ciclo sem fim de sofrimento"? Você inclusive destrincha e teoriza cada parte dele, desde o começo até o recomeço, tudo pra encontrar uma lógica naquela tempestade de merda que 'tá acontecendo com você. Soa familiar? Eu aposto que sim, porque eu já escrevi sobre isso. Você já leu sobre isso, aqui. Mas, acontece que... Bom, aquele não é um ciclo sem fim. A verdade é que você, provavelmente, assim como eu, só interpretou metade de tudo de forma errada.

E agora 'tá sofrendo por causa disso.

Em total contradição com "Compass VI" e "Acaso", eu fiz uma pequena recapitulação do que eu acho que a minha vida amorosa realmente foi, até agora. Eu não sei se a recapitulação 'tá certa, mas que foi necessária, certamente foi; porque já não dava pra eu continuar justificando meus atos errôneos e viciosos numa, convenhamos, adivinhação que eu fiz, enquanto estava magoada, como se aquela fosse a única escolha que eu tivesse. Parte daquilo que eu escrevi antes até pode ser verdade, não me entenda mal, mas é inegável o meu olhar enviesado sobre uma realidade naturalmente incerta, e, embora sejam dois textos muito bons, a lógica ali não me faz bem. Na verdade, a "lógica" me cega e me faz culpar qualquer outra pessoa no mundo pelos meus próprios problemas — e isso, embora seja muito reconfortante pro meu ego, não me leva a lugar nenhum e muito menos funciona pra sempre.

Por isso, eu decidi escrever e dissertar sobre algo realmente novo, dessa vez. Sobre a minha culpa no cartório, e sobre o ato de tomar responsabilidade pelas decisões que, embora inconscientes, ainda eram só minhas pra tomar. Sobre, ainda, o modo com o qual eu interpretava a minha vida, baseado numa visão frágil de mim mesma (mesmo quando essa visão já tinha mudado). Mas, claro: em razões de contexto, eu preciso compartilhar a tal da recapitulação aqui com vocês, não preciso?

A minha trajetória, sob luzes nunca antes vistas.

Foi o seguinte, meus caros: eu era insegura sobre mim mesma (não era só o mundo que me fazia sentir assim, era eu também) e, por isso, eu buscava aprovação esperando e querendo que alguém fosse gostar de mim. Foi desse jeito desde o início, desde o meu primeiro 'crush' no pré. Porém, mesmo quando eu fui lá e, anos depois, melhorei a minha autoestima, o que eu fiz? Continuei buscando alguém pra gostar de mim — porque, agora, eu supostamente era merecedora disso. Eu finalmente me via como um alguém foda, então por que não achar que eu deveria ter alguém, certo? Mas era o ego falando na minha cabeça. Eu tinha muita inveja das minhas amigas naquela época justamente por isso: elas tinham tudo aquilo que eu, no fundo, queria — aquilo que eu nunca tinha tido, desde pequena, que era a atenção dos meninos que eu gostava. Mas eu não estava pronta pra ter nada com ninguém ainda, justamente porque o motivo de eu querer tanto a atenção específica daqueles caras era, apenas e somente, pra me sentir reafirmada. Tanto isso se aplica que, quando alguém que eu não queria aparecia e gostava de mim, eu fugia — e o fato de ter alguém gostando de mim, ali, não mudava em nada a minha insegurança sobre mim mesma.

Porque era ego.

Sempre foi sobre 'ego' (ferido) e sobre 'não estar pronta', e não sobre a rejeição perpétua e generalizada que eu tanto me doía a respeito. Rejeição essa que, inclusive, eu cheguei a usar como justificativa, de novo e de novo, pro meu ato interminável de buscar alguém; eu pensava ser "um alguém machucado em busca de cura", mas na verdade eu era só "um alguém egocêntrico em busca de culpados". E sou assim até hoje, na verdade — não vou negar. Mas escrever tudo isso é um começo pra fazer as coisas mudarem. Mudarem para o que deveriam ter sido desde o começo.

Eu genuinamente quero acreditar que eu não preciso ser vista sob os olhos de mais ninguém (em momento algum da vida) pra, enfim, me tornar válida e completa. Porque foi nisso que eu, abertamente ou não, acreditei durante todos os meus dezenove anos: que uma vida só vale a pena caso tiver tido amor. E esse pensamento, sozinho, não é perigoso (muito pelo contrário, ele é verdadeiro), mas a idealização dele, a distorção dele em prol de ações que apenas te deixam em segundo plano, é. Ele passa a ser assim que arranca o direito da "plenitude enquanto sozinho/solteiro" de você. O amor romântico não é ruim, mas ele também não é tudo — ou sequer "o melhor de tudo", como eu gostava de deixar passar. E compreender isso é apenas o primeiro passo, mas, meu deus, como é importante. Poucas coisas são tão importantes assim.

O parágrafo de conclusão, portanto, eu dedico ao fim dos "ciclos infinitos" que iniciaram esse texto e que por tanto tempo me atormentaram. Revolução essa de fins só meus, mesmo que tanto tenha a ver com os outros.

Algo NovoWhere stories live. Discover now