O dia passou rápido — já estava quase de noite. Niragi, em seu quarto, tocava seu baixo para se divertir. Podia não amar ninguém e nem ele mesmo, mas amava de coração o seu baixo preto e branco. Aprendia, atualmente, a tocar Lonely Day do SOAD no seu queridinho. Mas, calma aí, não se considerava metaleiro, já que era super seletivo em relação às bandas que ouvia. E SOAD era uma delas.
— E aí, filho? Qual é a de hoje?
— Tô na mesma, mãe. Lonely Day.
— System of a Down, né? — Parecia orgulhosa. — Eu amava.
— Ótimo gosto, heh. Eles tão no meu top 5.
— Um dia iremos num show deles. — Alisava os cabelos do filho, carinhosamente.
— Obrigado, mãe. Te amo.
— Te amo, filhote. Fica bem, tá? Tô aqui, qualquer coisa.
É, na realidade, talvez amasse alguém. Não sabia o exato significado de amar e nem se amor de família era um "amor verdadeiro", mas sabia que se sentia bem com sua mãe. Nos seus momentos de felicidade, como este, tinha a capacidade de raciocinar e utilizar a empatia e, por isso, temia perder esses momentos algum dia. Então, seu cérebro lhe fez o favor de emendar os acontecimentos recentes e buscar alguma interligação entre seus sentimentos — então, lembrou-se de como estava Chishiya logo antes da aula acabar.
Após o ocorrido, Niragi não via mais Chishiya como "os outros" e, no momento, compreendia que estava apenas tentando se enganar para que se afastasse de todos. Chishiya também era um excluído e admirava isso nele, de não precisar se encaixar. Sentia que precisava de alguém assim. E para isso, precisaria pedir desculpas por tudo e o mais rápido possível.
Niragi: Chishiya, tá ocupado?
Chishiya: oq tu quer?
Niragi: Mas tá ocupado?
Chishiya: agr n ne
Chishiya: fala
Niragi: Só uma pergunta estranha
Niragi: Tu mora perto da escola?
Chishiya: pra q tu qr saber
Chishiya: vai me matar?
Niragi: N, doente
Niragi: Pq eu faria isso?
Chishiya: me diga vc ne lol
Chishiya: mas moro, do lado da praça
Niragi: Ótimo, eu tb moro por aí
Niragi: Enfim, vou ser direto
Niragi: Podemos conversar?
Chishiya: eu ns oq vc quer
Chishiya: mas se tentar me bater dnv, n ficarei quieto igual a antes
Chishiya: e eu posso ir agr se quiser
Niragi: Perfeito
Niragi: To indo
Suguru arrumou-se um pouco mais do que devia antes de seguir ao seu destino. Então, sentou-se num banco e, enquanto esperava Shuntaro, jogava deitado um jogo de tiro no seu celular.
— Niragi?
— Bost..Oi! — Endireitou-se, chateado após perder a partida. — Você realmente veio.
— S-Sim, né. — Chishiya tinha ficado um pouco retraído, mas Niragi não entendeu o motivo. — Blusa foda, mas fala aí. O que foi?
— Valeu. Bem, não vou conseguir falar de tudo, então vou resumir. Eu só me sinto que tô num momento de bem-estar agora, que consigo pensar de forma clara, sabe? Por isso também precisava falar logo. Nem sempre fico desse jeito e, sabe, tu participou de um desses momentos. É, eu... — Colocava as mãos no cabelo, com certa vergonha. — Só queria me desculpar por tudo. E...quando eu te vi daquele jeito ontem, lembrei que eu já fui assim. Então, me desculpa, Chishiya. Eu devia ter pensado mais antes de agir.
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O Enigma
FanfictionNuma realidade dominada por aqueles mais comunicativos e agradáveis, é natural que a maioria das pessoas pouco sociáveis se sinta um tanto deslocada. Isso, portanto, não é muito diferente do que vive o adolescente Suguru Niragi - autodenominado excl...