O Enigma

Prólogo

Era um domingo, 27 de dezembro. A escola já se preparava para os encerramentos após as provas finais dos alunos, determinantes em relação às suas aprovações ou reprovações. E, após a checagem, comunicavam aos pais dos estudantes.

— Filho, precisamos conversar.

Niragi sabia que não havia escapatória. Faltou inúmeras aulas e provas e, embora mostrasse seu laudo psiquiátrico, não tinha jeito. Também sabia que seu pai poderia recorrer à justiça, mas nenhum dos três gostaria: sua mãe não iria querer "passar vergonha", seu pai não iria querer se estressar e Niragi não queria pensar na chance de ser humilhado pela classe por reprovar.

— Já sei o que vão dizer. Pelo menos, sei que nós três concordamos dessa vez.

— Mas me diga, filho — Sua mãe, visivelmente decepcionada, segurava o boletim de notas nas mãos. — Você se saiu bem nas provas que fez. Por que não te deram mais uma chance?

— Sei lá, não entendo esse colégio. Também não quero saber mais dele, só quero ir pra qualquer outro. Ninguém presta lá.

Os pais não entendiam 100% o motivo da raiva do mais jovem Suguru, mas sabiam que o histórico de bullying que o filho sofreu na sua antiga escola o impactava em fortes níveis. Por isso, também evitavam bater de frente com o garoto no quesito acadêmico.

Então, nas férias, foi decidido: estudaria na escola mais próxima de sua casa, uma tal de Sem Fronteiras. Ela continha apenas estudantes do ensino médio, diferentemente de sua anterior que, mesmo Niragi sendo do 2º ano, teria que aturar crianças do 6º perturbando a sua paz de espírito. Isso, ao menos, foi um alívio.

Além disso, pelas fotos do Instagram, o garoto viu que Sem Fronteiras parecia uma escola arrumadinha. Inclusive, por causa dessas postagens, lembrou que o seu tio Aguni era professor de lá — meio que gostava do jeito fechadão dele, porém não sabia se isso ajudaria ele e os outros alunos. Mas, sinceramente, não queria pensar muito nisso; só lhe importava entrar e sair da escola sem arrumar problemas para si, já que mal lidava com os que tinha.