008| esquecer

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DÉBORA

   Eu queria muito desaparecer. Só sumir pra onde nem eu me encontre.

  Ontem eu dei uma de bêbada louca e tentei dar um beijo no Thiago. E cara, eu não sei que merda tinha na minha cabeça, além de muita cachaça, pra ter feito aquilo. Eu sinto que eu acabei com algo que a gente tinha acabado de recuperar.

  Isso que é foda.

  Sentei na cama um pouco desolada. Agora que a merda tava pronta, não tinha mais o que fazer. Então era melhor ir logo enfrentar a vergonha que eu tava e ir falar com o Thiago.

  Se bem que nem vai precisar de ir até ele, já que escutei passos do lado da porta antes dela abrir devagar.

— Tá acordada já? — Ele perguntou entrando pra dentro do quarto com um short de pijama e sem camisa.

— Tô. — Disse simples nem conseguindo encarar ele.

— Eu só vim aqui pra pegar uma roupa, pode voltar a dormir se você quiser, Debinha. — Ele disse entrando em uma porta que não era do banheiro.

  Vi a deixa perfeita pra falar logo sem precisar o olhar.

— Thiago, desculpa por ontem parça. Bebi de mais, fiz merda. — Falei um pouco alto pra ele escutar de lá de dentro.

  Recebi um silêncio de poucos segundos. Logo ele tava ali na porta me encarando com um sorriso enquanto vestia uma camiseta básica.

— Debinha, tá suave. Já esqueci dessa fita, esquece também!

  Eu sei que eu queria muito que ele levasse na boa, mas eu detestei ouvir que não foi absolutamente nada pra ele. Isso só mostra o quão emocionada eu tava sendo. Pro Thiago eu sou uma irmã, e sempre vai ser só isso.

— Beleza. Vou pegar minhas coisas e vou meter marcha. — Falei levantando da cama gigante.

— Oxi, espera um pouco. Eu vou almoçar lá na minha mãe, vamo comigo!?

— A gente marca outro dia.

  Fui pro banheiro lembrando que minhas coisas estavam ali. Coloquei a roupa rápido, dei um jeito no cabelo e sai atrás do meu tênis. O Thiago nem ali tava mais.

  Achei meu par de Mizuno embaixo da cama. Calcei com certa pressa.

— Aí, parça. Pelo o menos toma café, eu te levo. — Thiago entrou de novo no quarto.

— Eu tô suave, Thiago. — Falei levantando já pronta.

— Beleza, só vou colocar um tênis pra gente ir.

  Assenti saindo do quarto. Não tinha como eu voltar sozinha na real, não trouxe bilhete e só tenho dinheiro no cartão. Vai ser mó b.o pra comprar passagem.

  Desci as escadas me deparando com uma sala bem grande. Fui sentar no sofá pra esperar.

  Quando o Thiago desceu com os capacetes, nós fomos pra moto dele em silêncio, assim como foi o caminho inteiro.

— Entregue, maloqueira. — Estacionou na frente dos prédios.

— Valeu, parça! — Desci da moto entregando o capacete pra ele.

  Ia dar as costas pra entrar logo no cacete do prédio, mas ele me chamou.

— Ei? Se despede pelo o menos?! — Abriu os braços.

  Meio a contra-gosto eu dei um abraço nele.

— Tchau, Thiago. — Disse finalmente dando as costas.

  Eu sei que ele percebeu que eu não tava levando na boa tudo isso, mas eu nunca consegui ser falsa. Sou transparente até de mais, não sei esconder nada.

  Se ele iria fingir que nada aconteceu, isso era com ele, pra mim aconteceu e eu não vou esquecer tão rápido.

VEIGH

   Dos predinho fui pra minha mãe um pouco pensativo.

  A Débora tava muito estranha. Eu entendo o desconforto, mas ela não era assim de levar as coisas tão a sério. Ela ter me dado um selinho seria motivo pra ficar me zoando.

[...]

— Mãe coloca pra mim? — Pedi sentando na mesa.

  Todo maloqueiro nato pede pra mãe colocar comida pra ele em casa, essa é a verdade.

— Um cavalo velho desse, Thiago. — Ela riu indo colocar meu prato.

  Tinha passado um tempo já e a postura da Débora ainda tava me incomodando. Por que ela ia se importar tanto com esse bagulho?

— Tá pensando no que? — Dona Miriam percebeu e eu suspirei.

— A Débora ontem me deu um selinho bêbada.

  Minha mãe sabia de tudo da minha vida, eu contava tudo sempre por ela sempre ter sido suave comigo.

— Oxi. — Ela me olhou mostrando o quanto tava passada.

— O foda foi que eu disse pra gente esquecer essa fita, e ela ficou mó estranha.

  Minha mãe sorriu assentindo como se tivesse entendido.

— Mas você é tonto hein, garoto.

— Ih, aonde eu errei já?

  Ela negou colocando o meu prato na minha frente.

— Eu não vou falar nada, quem tem que te falar é a Deborinha. — Deu de ombros encostando em uma das paredes.

— Ela não vai me falar nada, tá mó fechada de novo. — Dei uma garfada na melhor comida do mundo.

— Lógico que ela na vai falar, você já falou pra ela esquecer. Quer o que?

  É, fazia sentido. Mas mesmo assim, querer esquecer é uma opção que eu tenho certeza que ela mesmo optaria em fazer.

— Conhece a Débora não?

— Justamente por isso. Vocês sempre viram ela como alguém insensível, mas é bem o contrário disso.

  Mas isso era incontestável. Eu nunca vi a Débora sentindo nada além de raiva. Sempre pensei que o sensível da relação fosse eu.

— Tá, e eu faço o que então?

— Chama ela pra conversar, né?! Pergunta como ela sente com tudo isso.

  Isso era muito lenga lenga pra se retratar de Débora. Se eu chego e pergunto como ela se sentiu com essa parada, ela vai me esculachar.


 

 

MANDRAKA - VeighWhere stories live. Discover now