Não sou justo

699 80 21
                                    


Isabel revirou o quarto inteiro à procura de lençóis ou cordas ou qualquer coisa que a ajudasse a descer pela janela. Mas eles não deixaram muitas opções e depois ela não conseguiria, as janelas eram muito estreitas, seu quadril mal passaria por uma delas, fora a altura era gigantesca. O castelo de Cair Paravel ficava na encosta de um morro, ela só não despencaria a altura do castelo, como do morro.

Logo ela ouviu a porta ser aberta e sem pensar duas vezes ela pegou um castiçal perto e arremessou na direção do príncipe.

– Me deixa sair! – Ela gritou frustrada, quando ele se desviou do objeto. – Ou me mata logo!

– Se acalme, Isabel.

– Ah, óbvio! Estou bem mais calma agora! Me mata logo, seu idiota! – Ela grunhiu e ele a segurou pelos pulsos de forma severa.

– Se acalme. – Ele mandou, também irritado. – Eu não posso matar você. Eu bem queria, mas não posso.

– Você? O senhor "eu posso tudo"?! – Isabel riu ironicamente e o rapaz a jogou contra a parede, a assustando. Seu olhar era mortal.

– Eu não posso. Eu adoraria esfolar essa sua carinha no chão, mas eu não posso. – Ele grunhiu baixinho, olhando-a tão perto.

Isabel emudeceu, ele a centímetros dela. Os olhos cheios de ira, ela realmente via o desejo dele e quase podia imaginá-lo esfaqueando-a e a destroçando de todas as formas possíveis. Ele tinha um cheiro levemente amadeirado e masculino e sua pele era muito clara, ela podia ver uma veia pulsando em seu pescoço.

Algo no olhar assustado dela o atraiu, ele até se lembrou porque mandou os soldados se afastarem dela na floresta, foi por esse olhar. Ele adorava o olhar de pânico e horror quando se aproximava das pessoas, mas ali tinha algo que particularmente o atraía e o incomodava.

– Eu preciso achar minha irmã. – Ele disse. Não, ele não tinha a menor intenção de confidencializar isso. Mas foi tão automático, tão involuntário, que só se deu conta que disse quando saiu de seus lábios.

Isabel continuou encarando-o confuso e ele se martirizou profundamente por ter contado isso. Mas agora não tinha volta.

– Eu tenho uma irmã. E ela tem dezoito anos agora. Por isso perguntei sua idade, eu preciso de alguém com a mesma idade dela que seja virgem. Alguém puro. Porque é somente assim que eu a acharei.

– Eu... eu nem sabia que tinha irmã. – A menina murmurou confusa. A Feiticeira tinha mais filhos?

– É complicado explicar. Mas descobri que ela ainda está em algum lugar de Narnia e eu preciso encontrá-la.

Ele finalmente soltou seus pulsos e parecia frustrado e cansado. Bel nunca achou que fosse vê-lo tão vulnerável e quase se odiou por momentaneamente se compadecer.

– Bom, não é como se você fosse machucar alguém. Eu ajudo, se isso me fará ir embora. O que eu faço? – Ela acabou aceitando. Afinal, ela não tinha outra escolha senão ajudá-lo, e isso não parecia algo que poderia ser ruim. Ele a olhou um pouco surpreso.

– Eu preciso conquistar sua confiança. Eu já disse. – Ele resmungou e Isabel concordou e parecia pensar sobre, mas acabou rindo. – Qual a graça?! – Ele perguntou irritado.

– Desculpe, eu realmente estou disposta a ajudar, mas não consigo fazer milagre. E como isso fará você achar sua irmã?

– Eu quebrei a confiança dela. Eu preciso conquistá-la através de um "espelho", que é você.

– Certo. – Isabel caminhou pelo quarto pensativa. Ela sabia que era impossível confiar naquele crápula, mas talvez pudesse manipular seus sentimentos? Talvez pudesse forçar qualquer coisa para se ver livre dali.

CRUEL PRINCE, Edmundo Pevensie  ⋅⋆⊱ As Crônicas de Nárnia.Where stories live. Discover now