Capítulo 21

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PESADELO

Hoje eu tava na maior vontade de só ficar em casa,sem ter que levantar e bater cabeça com ninguém,ficar só na minha,sossegado. Papo reto,tem dias que eu tô só o pó e não é porque eu cheiro muito não

O lance é que não dá pra largar tudo de mão,assim,nem que seja por um dia. Tem muito malandro que só espera nós dormir pra dar uma de esperto

Já mandei muito vacilão pra vala por tentar passar por cima de qualquer ordem minha ou por tentar ser mais esperto que eu. Neguin hoje já tão tudo ciente de como funciona o sistema por aqui

Ou me obedece ou toma tiro

Levantei da cama sem pique nenhum,mas tinha que continuar de pé. Fui tomar um banho gelado pra ver se despertava,mas não adiantou muita coisa. Tava precisando de cafeína,mas não manjo nem de ferver uma água

A pior parte de morar sozinho é essa,parceiro. Não tenho habilidade nenhuma na cozinha,e nem tenho paciência pra fazer esse bagulho. Já pensei em colocar alguma velha pra trabalhar aqui,mas prefiro não arriscar,não gosto de ninguém solto pela minha casa

Peguei o revólver e a carteira e fui direto no bar do seu Zé. É o primeiro lugar que eu vou assim que eu saio de casa. Já é sagrado eu tomar pelo menos um café lá de manhã,pra ver se eu acordo

A rua tava praticamente vazia,ainda era cedo,então só tinha umas pessoas saindo pro trampo e uma ou outra criança brincando na rua. Elas me olhavam quando eu passava e acenavam pra mim e nas poucas vezes que eu devolvia o gesto,elas sorriam e voltavam a brincar

Atravessei as portas do bar e fui direto sentar em um dos bancos que ficavam em frente ao balcão. Em pouco tempo o Zé se aproximou já trazendo um copo com café,colocando na minha frente

-Vai querer algo pra comer? -ele perguntou colocando o pano no ombro

-Tá de boa -neguei e a mulher dele saiu de dentro da cozinha

-Come pelo menos um pãozinho,meu filho -Marta disse sorrindo. Eles eram as únicas pessoas que eu tinha um certo afeto por aqui,me conheciam desde moleque

-Melhor aceitar logo -ele riu limpando o balcão e eu assenti,ela saiu e minutos depois colocou um prato com pão na chapa na minha frente

Comi ali sem ter pressa,o Zé puxava um assunto de vez em quando,mas nada prolongado,já que não parava de chegar gente pra ele atender. Pra um bar pequeno como esse,até tinha uma clientela boa

-Bom dia Marta -a Clara apareceu cumprimentando a mulher,que se aproximou sorrindo pra ela- Oi -disse quando me viu,só balancei a cabeça e voltei a tomar café- Quanta educação -sussurrou

-Como é? -perguntei e ela arregalou os olhos

-Não disse nada -respondeu nervosa

-O que vai querer,querida? -Marta perguntou e Clara olhou pros salgados

-Vou querer duas coxinhas,pra levar,por favor -pegou o dinheiro na bolsa e entregou pra mulher,quando recebeu a sacola com os salgados- Obrigada

-Por nada -sorriu- Como tá a Ana?

-Ela tá bem -proferiu- Ela tá trabalhando agora mesmo

-Que bom que ela conseguiu um emprego -Clara assentiu sorrindo e elas se despediram

Terminei de comer em poucos minutos e já levantei logo pegando a carteira pra pagar pelo o que eu tinha consumido. Marta me olhou em reprovação e eu nem dei bola

-Não precisa,esse é por conta da casa -ela disse recusando o dinheiro

-Vem com essa de novo não -coloquei a grana no balcão- Tô indo lá

Minha perdição Where stories live. Discover now