ANA
Me encontrava agora as exatas uma e meia da tarde,preparando o almoço para levar pra Clara no trabalho. Ela chegou do primeiro emprego lá do asfalto tarde e não conseguiu sequer comer alguma coisa e foi correndo pra loja aqui do morro
Como eu não tinha nada pra fazer,resolvi preparar uma marmita pra ela,com almoço e lanche da tarde. Até porque,não me custava nada fazer isso e levar pra ela,afinal,ela já faz bastante coisa por mim
E por mais que eu tente colocar na minha cabeça que ela é minha irmã,que ela me ama e que não está fazendo nada por obrigação,eu não consigo. Me sinto péssima por morar aqui e não contribuir com nada financeiramente,mesmo ela dizendo que não preciso me incomodar
Sei que a Clara se esforça bastante nos dois trabalhos e querendo ou não,uma pessoa a mais na casa,resulta em mais gastos e não quero que ela fique sobrecarregada
Minha mente gira em torno disso e eu não consigo esquecer o quanto eu sou inútil,sou simplesmente uma pessoa que não sabe fazer nada e que se depender de mim mesmo pra viver,eu estou perdida
Odeio relembrar do Paulo e principalmente as coisas que eles jogava na minha cara,mas não posso negar que algumas delas eram verdades e que agora,elas se repetem continuamente na minha cabeça
"Você é uma imprestável,Ana"
"Se não fosse por mim,você passava fome"
"Você não faz nada direito,nem pra fazer uma comida você serve"
"Nunca vai ser nada na vida,até você sabe disso"E nossa...parece que a cada frase é cravada uma faca no meu coração. Meus olhos já estavam inundados de lágrimas e minhas mãos já começavam a tremer involuntariamente
Deixei a comida de lado e fui até o quarto rápido pegando um dos meus remédios,mas quando percebi,vi que tinham acabado e isso só fez minha situação piorar. Como vou controlar isso agora?
Respirei fundo e soltei o ar devagar,fiz isso inúmeras vezes. Tentei me acalmar e aos poucos eu consegui. Terminei,ainda trêmula,a comida da Clara e organizei elas em uma bolsinha térmica
Fui até o banheiro e lavei o meu rosto,tentando disfarçar a vermelhidão que o choro me causou. Penteei os cabelos e passei um pouco de maquiagem pra disfarçar. Por isso eu odeio chorar,fico extremamente vermelha
Escutei a porta abrir e de imediato peguei o rodo do banheiro. Fui em passos cautelosos até a sala,pronta pra bater em quem tinha invadido a casa e quase bati com a madeira na cabeça do Dudu,que se afastou assustado
-Que porra é essa? -perguntou juntando seu boné que caiu no chão
-Pensei que tivessem invadindo a casa -dei de ombros e levei o rodo pro lugar dele,voltando pra sala e o vendo de braços cruzados
-Cê é louco Ana,tu ia rachar minha cabeça -disse indignado e eu prendi o riso- Tá achando engraçado,porque não é contigo
-Tudo bem,me desculpa -fui até ele e o dei um abraço- Desculpe por quase matar você
-Tá com o olho vermelho,por que? Cheirou pó? -perguntou quando me afastei
-Claro que não -revirei os olhos- Tava cortando cebola pro almoço da Clara -menti sutilmente e ele não pareceu perceber
-Almoço? Tô com a maior fome mesmo -entrou na cozinha sem dizer mais nada e eu fui atrás dele
-Como eu já sabia que você vinha alguma hora,eu fiz pra você também -abri o microondas e tirei um prato com as panquecas de carne que eu tinha feito
-Fez a boa pica-pau -sentou a mesa e começou a comer
-Eu vou indo,vou levar isso pra Clara -avisei pegando a bola
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Minha perdição
FanficAna é uma adolescente estonteante,tímida e de coração doce,mas nem sempre as coisas são como parecem. Por trás do seu jeito bondoso e empático,existe uma garota repleta de traumas. Pesadelo é linha de frente do Complexo da Maré,homem rígido e frio,n...