Capitulo 16

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ANA

Me encontrava agora as exatas uma e meia da tarde,preparando o almoço para levar pra Clara no trabalho. Ela chegou do primeiro emprego lá do asfalto tarde e não conseguiu sequer comer alguma coisa e foi correndo pra loja aqui do morro

Como eu não tinha nada pra fazer,resolvi preparar uma marmita pra ela,com almoço e lanche da tarde. Até porque,não me custava nada fazer isso e levar pra ela,afinal,ela já faz bastante coisa por mim

E por mais que eu tente colocar na minha cabeça que ela é minha irmã,que ela me ama e que não está fazendo nada por obrigação,eu não consigo. Me sinto péssima por morar aqui e não contribuir com nada financeiramente,mesmo ela dizendo que não preciso me incomodar

Sei que a Clara se esforça bastante nos dois trabalhos e querendo ou não,uma pessoa a mais na casa,resulta em mais gastos e não quero que ela fique sobrecarregada

Minha mente gira em torno disso e eu não consigo esquecer o quanto eu sou inútil,sou simplesmente uma pessoa que não sabe fazer nada e que se depender de mim mesmo pra viver,eu estou perdida

Odeio relembrar do Paulo e principalmente as coisas que eles jogava na minha cara,mas não posso negar que algumas delas eram verdades e que agora,elas se repetem continuamente na minha cabeça

"Você é uma imprestável,Ana"
"Se não fosse por mim,você passava fome"
"Você não faz nada direito,nem pra fazer uma comida você serve"
"Nunca vai ser nada na vida,até você sabe disso"

E nossa...parece que a cada frase é cravada uma faca no meu coração. Meus olhos já estavam inundados de lágrimas e minhas mãos já começavam a tremer involuntariamente

Deixei a comida de lado e fui até o quarto rápido pegando um dos meus remédios,mas quando percebi,vi que tinham acabado e isso só fez minha situação piorar. Como vou controlar isso agora?

Respirei fundo e soltei o ar devagar,fiz isso inúmeras vezes. Tentei me acalmar e aos poucos eu consegui. Terminei,ainda trêmula,a comida da Clara e organizei elas em uma bolsinha térmica

Fui até o banheiro e lavei o meu rosto,tentando disfarçar a vermelhidão que o choro me causou. Penteei os cabelos e passei um pouco de maquiagem pra disfarçar. Por isso eu odeio chorar,fico extremamente vermelha

Escutei a porta abrir e de imediato peguei o rodo do banheiro. Fui em passos cautelosos até a sala,pronta pra bater em quem tinha invadido a casa e quase bati com a madeira na cabeça do Dudu,que se afastou assustado

-Que porra é essa? -perguntou juntando seu boné que caiu no chão

-Pensei que tivessem invadindo a casa -dei de ombros e levei o rodo pro lugar dele,voltando pra sala e o vendo de braços cruzados

-Cê é louco Ana,tu ia rachar minha cabeça -disse indignado e eu prendi o riso- Tá achando engraçado,porque não é contigo

-Tudo bem,me desculpa -fui até ele e o dei um abraço- Desculpe por quase matar você

-Tá com o olho vermelho,por que? Cheirou pó? -perguntou quando me afastei

-Claro que não -revirei os olhos- Tava cortando cebola pro almoço da Clara -menti sutilmente e ele não pareceu perceber

-Almoço? Tô com a maior fome mesmo -entrou na cozinha sem dizer mais nada e eu fui atrás dele

-Como eu já sabia que você vinha alguma hora,eu fiz pra você também -abri o microondas e tirei um prato com as panquecas de carne que eu tinha feito

-Fez a boa pica-pau -sentou a mesa e começou a comer

-Eu vou indo,vou levar isso pra Clara -avisei pegando a bola

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