XX- Valete de Copas

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#DarkoMoranguinho

Capítulo não revisado.

Passos rápidos. Tão rápidos que o impacto dos tênis surrados contra as pedras brutas, produziam um chiado semelhante ao roer de um coelho contra uma superfície maciça. A respiração ricocheteou o vento e atingiu as próprias bochechas magras, causando quentura. Estava quase lá, contava os minutos de encontrar a flor que havia plantado há poucas semanas, já grande e exalando perfume.

Os fios já bem crescidos eram sua marca registrada e o vento já o recebia com uma rajada que os alongava  da posição anterior, ajudando-o a ver o ambiente com mais clareza.

Sentiu a energia metamórfica, aliás, houvera sentido antes mesmo de sair de casa. Odiava o sentimento de estar sempre em perigo mas não podia evitar a ânsia de visitar o local de paz.

— Hmm — o gemido assustou o rapaz.

Uma pausa bruta. As orbes escarlate varreram o local, buscando pelo dono do som. Era estranho, o jardim já era de seu domínio e não tinha quem desse ares por ali. Farejando como um cão em busca de um osso perdido, suas pernas o levaram até próximo a única árvore presente ali.

Em um outono cinzento, encontrou algo que por muito custou a se dar o direito de acreditar. Um garoto, caído sobre as folhas secas que um dia foram laranja vivo; fios dourados caiam esparramados sobre o cinza da estação, o corpo magro com poucas marcas que deixavam o branco pálido avermelhado. Os olhos eram dourados, as mãos cobriam parcialmente as partes que o tecido surrado faltaram cobrir.

— Um anjo.

Suspirou em meio a crença de que aquele ser era de fato celestial. Plantou flores pela esperança e recebeu o símbolo literal em favor.

— Deus — os fios banhados pelo sol moveram juntamente aos lábios.

— Você está machucado, anjo — o de olhos escarlate ajoelhou-se perante o outro, a mão receosa estendeu turva diante dos olhos dourados — Consegue me entender?

— Deus — repetiu em tom choroso, encolhendo-nos corpo magro contra si mesmo — Senhor, me salve!

Franzindo o cenho, o dono daquele jardim tocou a pele dos ombros do anjo; que elevou os olhos, vendo pela primeira vez um ser vivente naquele mundo. Não esperou sentir nada além de medo, acabou por encontrar algo que o céus não tinham de oferecer.

O escarlate profano chocou em um baque direto contra o dourado angelical, um sentimento cru cresceu à mercê das divergências que já era proclamada atraente daquele banho de olhares esmerados, que parecia despi-los da libido. Naquele segundo, instante e futura eternidade, era deles e de mais ninguém o direito de escolher o oposto.

— Lindo — foi a primeira palavra que ele direcionou ao dono do jardim e não deixou que morresse assim — Profanamente lindo.

Nem o mais belo dos anjos, pertencente aos céus, se igualava a criatura de orbes sangue, era tão diferente de um anjo porém o mais próximo que aquele mundo poderia oferecê-lo do paraíso. Pele alva beijada pelo sol que morria para que a lua renascesse, de toque quente que acolheu os sentimentos doloridos que rodeavam a mente do celestial.

— Como veio parar aqui? — Questionou — Foi expulso do céu?

Ele não sabia como responder a pergunta, as lembranças dos últimos momentos no paraíso pareciam mais um sonho distante do que a vida que ele costumava ter. Os ombros subiram e desceram ao que os olhos esbugalhados deixaram o brilho dourado de apagar.

The Saints of the blood ♱ Jjk + Pjm Kde žijí příběhy. Začni objevovat