Cuidarei de você

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Narradora


Maya levantou-se rapidamente, se desprendendo dos braços de Gabriella, e correu com tudo de si na tentativa de alcançar os paramédicos, não deixaria sua mulher sozinha nunca mais. A loira desceu os lances de escadas correndo, pois as portas do elevador já haviam sido fechadas, seu coração dava pontadas, mas ela não podia ligar menos para isso.

A capitã chegou a tempo de ver os homens entrando na ambulância e não perdeu tempo em entrar junto.

- So-sou a um-mulher dela! -Respondeu ofegante.

Fez menção em tocá-la, mas o paramédico falou em um inglês perfeito, demonstrando ser americano também:

- Não a toque. Se você quer ajudá-la, não a toque. Eles irão fazer exame de corpo de delito... isso pode salvá-la!

Maya acenou angustiada.

- Po-pode ao menos cobri-la?

- Não queremos comprometer as digitais. Logo logo esse pesadelo irá acabar. -O homem garantiu colocando uma máscara no rosto da morena e olhando para Maya, que tinha os olhos vidrados em Carina.

Bishop analisou minuciosamente todo o corpo da morena. As marcas da luta que foi para se livrar das mãos daquele homem. Sua intimidade coberta apenas pela calcinha box preta que Maya sabia que ela amava usar para dormir. A marca arroxeada perto de seu tórax mostrava que ali deveria ter alguma fratura, o rosto vermelho e o nariz sangrando um pouco, mas a loira sabia que não estava quebrado. Nos braços da italiana, grandes marcas de mãos já roxas se espalhavam por ali.

Carina se remexeu e Maya entrou em alerta.

- Maya... -Sussurrou DeLuca de olhos fechados e franzindo o cenho.

- Estou aqui, amor! Estou aqui! -Maya disse suave aproximando o rosto do ouvido da morena.

Carina abriu os olhos e começou a se movimentar inquieta.

- Maya! Maya, você está bem? Maya, você...- a respiração da mulher se tornou irregular, mesmo de máscara- Maya!

- Calma, meu amor, fica calma! -Maya disse com a voz embargando e permitindo que uma lágrima escorresse por seu rosto.

O paramédico pegou rapidamente uma luva e entregou a Maya, segurando Carina pelos braços pedindo calma, o que só deixou a italiana mais apavorada ainda.

Ela começou a ter uma crise de pânico ao ter o paramédico acima de si segurando seus braços firmemente e falando algo que seu pavor não entendia.

- Solta ela! -Maya pediu e tomou o lugar do homem.

Ele percebendo que estava piorando a situação e se afastou começando a dar instrução do que Maya fazer, mas a loira rapidamente disse a ele que também era paramédica, o que facilitou tudo.

- Calma, minha linda, está tudo bem! -Maya falava carinhosamente para a morena apavorada.

As lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Carina e um choro doído foi se libertando de seu corpo, apertando o coração de Maya que só queria puxar a mulher para seus braços e transmitir toda a segurança do mundo para ela.

- Chegamos!

Maya desceu junto da maca, segurando firmemente a mão da Dra. DeLuca e seguindo os médicos que chegaram. Logo veio uma Gabriella Aurora mais calma e vestida com um jaleco gritando a todos que só queria mulher no caso.

- Preciso que a solte. -Dra. Aurora pediu para Maya.

Maya olhou para a ruiva e sentiu os olhos marejarem.

- Não me peça isso, por favor! Eu não sei se consigo.

- Por favor, Maya, confie em mim. Ela estará comigo e não vou falhar dessa vez, ninguém a machucará!



Maya Bishop



Vi dor, sinceridade e culpa nos olhos de Gabriella.

- A culpa não é sua! -Falei olhando os olhos verdes brilhantes a minha frente- Você levará minha vida lá pra dentro e preciso que dê tudo de si lá, então por favor, não deixe essa culpa te dominar.

Gabriella me abraçou e com o impacto dos nossos corpos juntos larguei a mão de Carina e a abracei forte.

- Perdonami!

- Está tudo bem, Dra. Aurora. Vai lá! -Falei para a ruiva e ela saiu com Carina e outras médicas para uma sala.

Fui para um corredor vazio e escorei-me na parede descendo até o chão, escondi meu rosto entre os joelhos e os braços e chorei. Minha vontade era de gritar de ódio, mas não consegui. Senti uma mão em meu ombro e logo vi o mesmo paramédico da ambulância com uma sacolinha.

- Dra. Aurora pediu para entregá-la. É seu celular, pediu para você avisar ao irmão da paciente.

- Obrigada! -Balbuciei um agradecimento e logo um café foi estendido a mim.

- Levaram o canalha para outro hospital. Ele estava mal e não sei se vai resistir. Se te conforma, o pênis dele misteriosamente desapareceu durante o trajeto. -Ele disse sentando-se ao meu lado- Ele não conseguiu fazer o ato em si, mas com certeza ela ficará com traumas pelo resto da vida...

Eu queria dizer que era mais complicado que isso. Que aquele canalha nojento já havia machucado demais Carina, que ela já era muito traumatizada por todas as merdas que aconteceram em sua vida. Mas somente ingeri aquele café e não permiti que mais nenhuma lágrima caísse. Preciso ser forte e tirar Carina daqui e levá-la para casa!

- Eu espero que ele morra. -Falei firme com os olhos focados em um ponto fixo na parede a minha frente.

- Não acha que a morte seria pouco para o que ele merece?

- Não. Não o quero no mesmo mundo que minha mulher. -Disse e fitei o paramédico.

Ele sentou-se ao meu lado no chão e ficou ali me fazendo companhia.

- Há quanto tempo são casadas? -Perguntou depois de algum tempo.

- Não somos casadas ainda. -Falei- Mas vou pedi-la em casamento quando tudo isso passar!

- Ela será uma mulher de sorte. Você parece verdadeiramente amá-la.

- Não, eu que sou uma mulher de sorte. Carina é... -Abri um sorriso enorme de puro orgulho- ela é uma mulher incrível e todos que a conhecem são felizes por tê-la em suas vidas!

Ele sorriu e ficamos ali por alguns minutos, até eu finalmente ter coragem de pegar meu celular e discar o número de Andrea e levar ao ouvido, o que foi a deixa para Matteo sair para voltar aos seus afazeres. Agradeci veementemente sua companhia e o vi partir.

- Alô? -Ouvi a voz de uma mulher do outro lado.

- Andrew? -Indaguei.

- O Dr. DeLuca está no meio de uma cirurgia. Pediu para a senhora deixar o recado.

- Aqui é Maya Bishop. Diga a ele que é muito importante.... é sobre sua irmã. -Falei a última parte com a voz embargada e baixinha.

Ouvi um burburinho do outro lado e enquanto esperava respirei fundo tentando aliviar o aperto no peito por ter de dar aquela notícia ao DeLuca mais novo.

- Maya? O que houve? -Sua voz soou abafada do outro lado por conta, provavelmente, da máscara.

- Preciso que você venha até a Itália. -Falei com a voz trêmula.

- Por quê? -Perguntou apreensivo.

- Sua irmã... ela... Carina está precisando de você, Andrew. Carina ela... ela realmente precisa de você! -Falei e senti algumas lágrimas caírem.

- Me diga ao menos se ela está ferida? -Senti toda sua preocupação do outro lado.

- Ela está machucada, estamos no hospital, mas ela ficará bem... por favor, Andrew, venha! Aqui eu explico tudo.

- Está bem! -Ele disse- Irei hoje ainda no primeiro voo. Cuide de minha irmã enquanto chego.

E desligamos. Andrew foi gentil em não fazer muitas perguntas, talvez por perceber que eu não tinha condições de falar, pois minha garganta estava fechada e a boca seca, o que causou embargo na voz do início ao fim da ligação.

Comecei a bater minha cabeça na parede atrás de mim. Tudo aquilo era minha culpa. Eu poderia ter evitado isso... tudo isso! Eu só precisava ter vindo com ela, era só eu ter insistido em vir. É claro que ele tentaria alguma coisa com ela, como não pensei nisso? Eu salvo vidas todos os dias e quase a perdi, foi por tão pouco. Eu poderia ter vindo antes também, poderia ter pegado o voo na hora que vi que ela estava com Gabriella. Poderia ter feito qualquer coisa, poderia ter evitado de alguma forma... eu só precisava que nada disso tivesse acontecido... eu só queria... só quero ela bem!

Levantei-me e fui caminhando até a sala de espera, procurei alguma notícia, mas ninguém sabia de nada. Fiquei sentada por alguns minutos, mas a agonia da espera me deixava aflita e ansiosa. Então eu levantava, caminhava, bebia água, café e ninguém aparecia. Até que depois de algumas horas, Gabriella veio até mim com o semblante abatido, pálida e trêmula.

- Onde ela está? -Fui até ela perguntando.

- Descansando...

- Como ela está?

Gabriella suspirou cansada e logo seus olhos marejaram.

- Ela teve ferimentos superficiais. Mas ficará de observação por esta noite. Suas costelas estão muito sensíveis, então demos morfina e como ela estava muito agitada, tivemos que sedá-la.

- Posso ficar com ela? -Perguntei ansiosa. Não consegui contar quantas vezes fiquei na ponta dos pés desde o início de nossa conversa.

- Claro, eu... -Gabriella fechou os olhos e passou as mãos pelos cabelos avermelhados- Permiti que você ficasse com ela essa noite, ela vai precisar muito de você.

- Obrigada, Gabriella, por tudo.

Os olhos verdes me fitaram e vi tanta culpa neles que me compadeci dela dando um passo a frente e segurando em seu braço.

- Ela precisará depor amanhã, será tão... -ofegou. Sua respiração se tornando irregular- tão difícil. Me desculpe, Maya! Eu não a protegi, eu não...

A abracei apertado e senti meu ombro molhar com suas lágrimas.

- Calma, Gabrella! Você sabe que não tem culpa de nada, a culpa é toda dele e Carina não vai querer ver você assim. Precisamos ser fortes por ela, Dra. Aurora...

- E-eu não podia ter a deixado sozinha... não depois de ouvir as ameaças, mas eu juro, Maya, se eu soubesse que algo assim poderia acontecer, jamais a teria deixado sozinha... eu juro!

-Eu sei e ela também sabe disso. Calma! Calma! -Alisei os cabelos da médica tentando acalmá-la.

Temos nossas diferenças. E provavelmente se tivéssemos em outra situação, estaríamos brigando agora mesmo, mas nesse momento só precisamos uma da outra, do apoio uma da outra e, principalmente, apoiarmos Carina em tudo que ela enfrentará. Precisamos nos unir para deixá-la bem.

Senti o corpo da médica pesar e seus braços pesarem no abraço.

- Gabriella? -Afastei-a um pouco e ela estava com os olhos fechados respirando pesadamente- Quando foi sua última refeição?

- Não sei... estou bem!

- Não está mesmo.

Levei a médica para sentar e peguei um copo d' água pra ela.

- Falou com Andrea? -Perguntou depois de dar alguns goles na água e se sentir melhor.

- Sim. Ele está vindo pra cá. Você precisa ir pra casa, tomar um banho, comer e arrumar aquela bagunça. E por favor, tire minha mala do meio do corredor! -Brinquei tentando aliviar a tensão e sorri junto com ela.

- Tudo bem. Quando eu terminar lá, eu volto e...

- Você irá descansar para vir nos buscar amanhã, Dra. Aurora. -Decretei lhe olhando séria.

Não sei se foi o tom firme junto com o olhar intimidador, ou se ela estava fraca demais para contestar qualquer coisa, mas ela apenas acenou fracamente e levantou-se para ir pra casa.

- Quando chegar, me avise! -Pedi vendo-a ir para casa de táxi.

- Tudo bem. Cuide dela!

- Cuidarei.

Fui até o quarto que a enfermeira me indicou e abri cautelosamente. Fechei a porta atrás de mim e fitei a cama. Carina dormia serenamente graças ao sedativo. Seu rosto estava com as marcas de mãos daquele asqueroso, mas continuava incrivelmente bela. Seu pescoço estava arroxeado e praguejei baixinho. Quebrei mais uma promessa que fiz a Carina! Prometi que ninguém nunca mais a machucaria, que eu seria sua heroína e aqui estamos nós. Com ela toda machucada e hospitalizada. Falhei mais uma vez!

Fui até ela e segurei em sua mão. Analisei seus pulsos e estavam marcados, subi meus olhos para seus braços e estavam com grandes marcas roxas. Miserável! Eu vou matá-lo!

My Love - MARINAWhere stories live. Discover now