[1] O planeta com mais anéis

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E aqui está ele, parado na porta, usando uma camisa branca que era minha. Meias azuis, uma caneca verde na mão, é chá de alfazema. Rosto inchado, cabelo bagunçado, um sorriso doce no rosto.

É sábado, nosso dia favorito, está nublado e a temperatura é bem baixa.

Todo sábado, desde que nos mudamos, ficamos em nosso balanço na varanda, jogando conversa fora até a hora do almoço, onde uma discussão besta sobre quem irá pilotar o fogão começa, mesmo que no fim os dois estejam com colheres nas mãos.

— Bom dia, meu bem — desejo enquanto exibo um olhar ainda sonolento e sinto Saturno, nosso gato preto, que ainda é um filhote, se esfregando em meus pés cobertos.

— Bom dia, benzinho — Jimin responde e boceja, porque eu bocejei. Agora Saturno se esfrega em seus pés descalços.

Desço o degrau de acesso à casa e me sento ao seu lado ao tempo que ele pega nosso gato ou filho, no colo.

Descanso minha cabeça em seu ombro, sobre a tatuagem de um dragão vermelho, e guio meu olhar até a rua vazia, não fosse um senhor molhando seu jardim e duas crianças brincando na calçada e agora, um carro entrando no quintal da casa vizinha.

Inspiro e fecho os olhos. Adoro o cheiro da minha pessoa favorita logo pela manhã, é tipo brisa no início da noite. É meio engraçado como minha cabeça processa as coisas, por exemplo, quando olho para Jimin, avisto a praia num fim de tarde. Quando ele sorri, a atmosfera é como estar dentro de uma loja com meus doces favoritos, sua voz é como suspiro derretendo na língua.

Ele é mais que minha pessoa favorita. Jimin, é casa, é conforto, é segurança. É o abraço que te acalenta numa madrugada chorosa. É o aconchego das cobertas em um dia chuvoso. É ouvir sua nova música favorita no repeat. É o fungar de alívio no fim do expediente quando sua cabeça alerta que logo você estará em casa e aí, nada mais importará.

— Dormiu bem? — pergunto, dou um gole no meu chá e esfrego meus pés, está frio hoje. Infelizmente, todo o calor que emana do corpo dele, não me aquece.

Ser uma pessoa defeituosa, é isso.

— Dormi sim, e você? — Beija a lateral da minha cabeça e coloca nosso gato agitado no chão.

Secretamente desejo morar em Jimin e por muitas vezes cobicei a ideia de tê-lo para mim, mas seria egoísta da minha parte. Ele é um lúpus, precisa de alguém também lúpus e eu sou nada mais que uma casca vazia. Ele merece uma família enorme e feliz, algo que não posso oferecer além dos meus sonhos.

Mas tenho seu amor, seu carinho, sua companhia, seu respeito, apesar de saber que nunca o terei por completo, me contento com a sua mão na minha, como agora, onde nossos dedos estão entrelaçados e carinhos sutis são trocados.

— Sim, eu dormi, acordei após um... — me calo, não gosto de contar a ele esse tipo de sonho, pois sei que dói mais nele, do que em mim.

Park compreende meu silêncio, sabe que sonhei com bebês. Pega minha caneca e a coloca junto a dele, no chão.

— Vem — chama e começa a me ajeitar contra seu corpo. Aceito de bom grado.

Estou envolto em seus braços. Não consigo sentir seu cheiro natural, fraco demais em meu olfato, mas o cheiro do shampoo está bem presente no cabelo úmido, que mescla com o cheiro do amaciante da roupa. É um boa combinação, eu gosto muito.

— Sonhei que adotamos mais cinco gatos — ele comenta, desviando meus pensamentos. — Tinha um laranja, tinha preto e branco, um todo branco, um cinza também-

— Podemos realizar esse sonho? — Sei que é falta de educação cortar a fala dos outros assim, mas adoro gatinhos, quero vários.

— Podemos ir em um abrigo essa semana. Que tal? Podemos ter um Júpiter, ou um Urano.

Todos os planetas • pjm + jjk • aboWhere stories live. Discover now