Penumbra - l.s

32

2 semanas depois...

O céu está encoberto por nuvens escuras e o vento úmido traz uma sensação de frio. Me enrolo ainda mais no casaco que estou vestindo e ando com passos decididos pela grama molhada ignorando o tremor em minhas pernas e a vontade absurda de desistir e voltar para casa, entretanto não andei até aqui em vão, por isso respiro fundo e continuo minha jornada.

Mais alguns passos e enfim paro em frente a lápide recém construída do meu amigo, imediatamente duas lágrimas grossas deslizam por meu rosto, e devagar me ajoelho no chão, sem me importar com minhas calças que ficarão sujas. Deposito com cuidado um lírio branco ao lado da foto de Luke e encaro por alguns minutos seu sorriso eternizado no papel antes de desviar os olhos para o campo.

O local que John escolheu para enterrar o corpo do vampiro fica no topo de uma pequena colina coberta por um gramado extremamente verde e algumas poucas flores silvestres. O silêncio aqui é ensurdecedor e a paz que poderia facilmente ser transmitida pela paisagem, hoje está oculta pelo céu nublado e pelos piados de uma coruja solitária.

— Oi idiotão – digo com voz falha voltando a encarar sua foto. — Me desculpe por ter demorado mais de uma semana para vim te ver. Você não tem como saber, mas aconteceram muitas coisas depois que você morreu – conto sentando-me no chão úmido. — Uma delas foi que Louis foi embora. Sim, é isso mesmo que você está ouvindo. Meu namorado me abandonou e eu não soube lidar com tudo isso ao mesmo tempo, quero dizer, perder vocês dois foi muito para assimilar, então... – desabafo tudo o que estava entalado em minha garganta em um só fôlego, desesperado para por pra fora toda a minha angústia. — Me perdoa por não ter estado presente no seu enterro, na verdade precisei juntar força e criar coragem o suficiente para conseguir estar aqui hoje. – Confesso cabisbaixo.

Dou um longo e doloroso suspiro, descansando o queixo em meus joelhos antes de reiniciar o longo monólogo.

— Você deve estar se perguntando o que houve com Louis, não é idiotão? "O que deu na cabeça dele para deixar Harry justo agora?" – faço uma careta um pouco desgostoso. — Bem, segundo ele, precisa de um tempo para colocar os pensamentos em ordem. Precisa ficar sozinho até conseguir de alguma forma se recuperar de tudo o que aconteceu, e eu não vou dizer que não o entendo porque sei que o que houve naquele galpão mexeu profundamente com o emocional dele, afinal pela primeira vez na vida Louis se sentiu fraco e vulnerável. Perdeu você que era o seu melhor amigo, o qual descobriu que sempre o amou, e pior, não teve tempo de fazer absolutamente nada para impedir a sua morte.

Engulo em seco, limpando com a palma da mão as lágrimas que escorrem pelas minhas bochechas.

— Ele ficou transtornado, Luke. Quase perdeu o pai, e por pouco John e eu quase fomos mortos. Então sim, ele teve  motivos para se afastar – desvio os olhos para o horizonte antes de dizer: — O que não entendo é por que Louis ainda não voltou pra mim.. Será que ele me culpa por sua morte, idiotão? Acredito que sim, pois para ser sincero eu também me culpo, você ainda estaria vivo se não fosse por minha causa. Eu deveria ter me entregado para Martha enquanto tinha tempo e evitado toda essa merda – confesso com pesar o que tem me atormentado ao longo desses dias e, com a respiração ofegante, tomo coragem para declarar: — Eu gostaria muito de ter o seu perdão. Você é capaz de me perdoar? P-por favor... – Soluço entre as lágrimas esperando uma resposta que sei que não virá.