53 | Pareces triste...

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Não sejas tão insegura, Blair!, eu tento-me chamar à razão, ainda que uma outra parte de mim esteja em lágrimas.

Não sei de onde provém toda esta insegurança: se do facto de ele não me falar há dois dias ou se está relacionado com o facto de não estarmos juntos desde o último dia de aula que foi, faz exatamente hoje, uma semana. A verdade é que me sinto mal desta forma e, praticamente, não reconheço a rapariga vulnerável que agora se olha ao espelho, tapada por uma toalha branca como o cal e suave como a neve.

Fico alguns minutos a olhar o meu reflexo, procurando algo em mim mesma que justificasse este comportamento estranho de Zayn. Todavia, nada se parecia encaixar na situação, levando-me, por isso, a um desespero enorme e desmedido. Eu queria-o aqui, queria que nada tivesse mudado. O medo aterrorizava a minha visão completamente focada num futuro próximo.

Visto-me apressadamente, visto que a minha mãe já me estava a chamar pela segunda, ou talvez terceira, vez e deixo o meu cabelo negro e comprido molhar a minha roupa acaba de vestir, por não ter tempo suficiente para o secar. Hoje estava completamente desorientada, sem qualquer noção do tempo e tudo aquilo que eu desejava era voltar para a minha cama, acordar e fingir que nada acontecera.

Corro pelo corredor de forma apresada, enrugando os tapetes que protegiam e davam vida à casa, e deixando algumas gotas do meu cabelo molhado caírem. Após entrar na divisão da cozinha, olho em volta vendo já todas as pessoas à mesa, unicamente à minha espera. O sentimento de culpa que eu sentira mal entrara no compartimento agravara-se com o olhar irado da minha mãe.

"Blair, eu não te disse para te despachares? E é assim que vens para a mesa almoçar?"

"Eu não tive tempo de secar o cabelo, desculpa." Eu respondo-lhe num tom de voz seco e frio, devido à irritação que já tinha desde que ela chamara o meu nome a primeira vez. Custa-lhe assim tanto entender que as coisas demoram tempo a fazer e que nem sempre pode ser como ela quer?

Elaine olha para mim quase como se pedisse, sem recorrer a palavras, para eu não lhe responder mais, tendo em conta o tom de voz que me usava. Mordo o meu lábio inferior, retificando uma última vez o meu telemóvel e deixo um suspiro escapar-se ao ver que ainda não havia recebido nenhuma mensagem nova.

"Está tudo bem, Blair?" Ryan questiona, com um ar intrigado e carregado de preocupação. Não tenho nada de muito negativo a apontar ao noivo da minha mãe pois, ainda que não conviva com ele muito tempo, acho-o atencioso e conveniente. "Pareces triste..."

"Sim, está tudo bem. Obrigada pela preocupação." Eu agradeço, ajeitando a minha postura à mesa.

O meu prato é-me retirado da frente para que a comida acabada de fazer seja servida no mesmo. Ainda que sem certezas, acho que desta vez quem cozinhara fora a minha meia-irmã, pelo menos fora o que estavam a comentar quando eu chegara à divisão. Se isso for verdade, justifica o seu ótimo aspeto pois a minha mãe na cozinha é um desastre total.

Nisso também não me posso gabar. Se não sou igual, sou pior.

Levo a comida quente de encontro aos meus lábios carnudos mas, ainda antes de os abrir, o meu telemóvel notifica-me com uma mensagem. Engulo em seco, olhando logo para Elaine, que se encontrava a par de toda esta situação envolvente. No ecrã, o nome de Zayn estava escrito sem qualquer exposição da mensagem. Elaine assente com a cabeça, para que eu prosseguisse com o meu pensamento mas antes de realizar o ato, a minha mãe impede-me.

"Blair, quantas vezes é que é preciso dizer-te que eu não quero telemóveis à mesa?"

"Mãe, eu tenho mesmo de ler."

"Blair, eu acho que só falo uma vez." Ela declara num tom sério, meio ameaçador para o caso de lhe desobedecer.

"Não tem problema, Blair. Está à vontade. Parece ser importante." Mais uma vez, sempre conveniente, o noivo da minha mãe afirma não mostrando qualquer incómodo.

As minhas mãos trémulas pegam a muito custo no meu telemóvel e o meu estômago contrai-se inúmeras vezes, ansiosa por saber o que é que ele me havia respondido. Levanto-me da mesa, receosa com os olhares indesejados que a minha mãe pudesse, eventualmente, deitar ao telemóvel e, uma vez que marco o código, abro a extensa mensagem de Zayn.

O meu olhar percorre o texto inúmeras vezes deixando-me completamente em choque, sem qualquer tipo de reação. Os meus lábios tocam um no outro, procurando algo que saciasse a minha cede repentina e uma respiração ofegante, de susto, sai por entre os meus lábios. A compreensão, após terminar a leitura, atinge o meu corpo, como se de uma seta acabada de ser lançada se tratasse e o desespero de sair daqui faz o meu corpo oscilar.

Isto não podia estar a acontecer. Eu tenho que fazer alguma coisa por ele.

Toxic 》 malikOnde histórias criam vida. Descubra agora