Branco (para guardar as melhores partes de existir)

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Sinopse:

"Eu estou bem?" "Não"

"Estou seguro?" "Sim"

"Onde estou?" "Em casa"

Bucky está melhor do que estava alguns anos atrás, mas as vezes precisa lembrar a si mesmo onde está pisando agora. 



"Às vezes, quando abro meus olhos, não acredito que estou acordado." — O Jardim Secreto



Essa é coisa toda sobre Bucky e esse é um daqueles dias. O sol desliza fácil na paisagem diante dos olhos do ex-soldado. Ele respira fundo o ar quente subindo da caneca em mãos. Camomila. O calor contra a pele e vibranium, os dedos agarrados a cerâmica. Bucky absorve todas as sensações naquelas primeiras horas do dia, porque é um daqueles dias em que ele precisa se arrastar para fora da própria cabeça com um pouco mais de determinação.

Ele sabe como vai ser, já percorreu esse caminho cerca de um milhão de vezes até ali. Todos são iguais, mas também diferentes. Mesmo assim, ele sabe. Ele tem essas pequenas listas na cabeça com perguntas e sugestões, coisas que vão realmente funcionar.

"Eu estou bem?"

"Não"

"Estou seguro?"

"Sim"

"Onde estou?"

"Na nossa cozinha"

— Nossa cozinha — ele murmura para si mesmo. Na cozinha dele e de Sam. Na casa que ele e Sam escolheram. Ele coloca a xícara vazia sobre a bancada da pia e encosta nela observando.

Ainda há uma confusão perturbadora dentro dele, um burbúrio dentro da própria cabeça, um emaranhado de ansiedade pressionando seu peito. Uma guerra infindável contra parte de si mesmo que facilmente vacila sobre o pensamento de não merecer estar vivo.

Bucky respira fundo e segura contando mentalmente até 10 e então solta e repete mais algumas vezes, acima todas as vozes.

— Nossa casa — ele respira fundo. A casa deles. A pequena casa branca de portas verdes, de quintal grande, próximo ao lago a 10 passos da casa de Sara e das crianças.

"Minha família", ele pensa e depois verbaliza. Conta os pratos no escorredor, lembra o dia que escolheram aquele tom de azul e os azulejos brancos na parede da pia. Arrasta os dedos sobre a bancada cinza.

Ele olha para o arco entre a cozinha e a sala - o arco que ele fez com as próprias mãos, todos aqueles detalhes precisos e bonitos - e lembra o quão fácil foi persuadir Sam a concordar em derrubar a parede que ficava ali. Alguns beijos, um bom tempo na lona que cobria o piso de madeira para não manchar com a tinta das paredes.

Bucky dá um pequeno sorriso com a lembrança, sente a vibração calorosa da coisa toda no estômago e no peito. Eles tiveram vários bons tempos por ali, antes e depois da reforma. Ele mal percebe os ombros relaxarem, a tensão sendo diluída aos poucos.

Ele olha para além do arco a pequena e aconchegante sala. Móveis de madeira escura, sofá bege. Pensa em AJ e Cass jogando vídeo game contra ele e Sam. Pensa nas noites de filme e pizza. Na primeira vez que dormiu no sofá daquela família. Aquele não era o mesmo sofá, mas aquela era a família dele agora. Bucky os tem, como teve outras pessoas uma vez a muito tempo atrás.

Com amor, Dezembro.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora