- Bora Rafaela, abre o bico. - Fernando fala assim que chegamos em casa.
- Eu quero fazer alguma coisa para ajudar mulheres que passam pela mesma situação que eu passei. - Falo e Fernando fica em silêncio. - Pode parecer doideira, eu só tenho 21 anos e tenho muita coisa pra aprender... Mas, alguma coisa me diz que eu preciso ajudar mulheres que passam pela mesma situação que a minha.
- Tá... E como você quer fazer isso? Uma ong? - ele pergunta interessado.
- Não sei, Nando. Talvez começar com publicações no Instagram, ir visitando umas casas, sei lá Fernando... Mas, eu quero fazer alguma coisa. - Falo quase roendo a unha de tão nervosa.
- Eu aplaudo tua coragem e só quero dizer que tu pode contar comigo pra tudo, neguinha. - Ele fala e me abraça.
- Eu tenho que falar com o coringa né... - Falo.
- É, mas isso vai ser fácil. Ele já tá com os quatro pneu arriado por tu. - Ele diz e eu dou uma risadinha.
- Bora lá nele... - Falo e dou um tapa na perna de Fernando.
- Bora. - Ele cata as coisas dele e eu cato as minhas. - E a menina de ontem?
- Foi só um pente e rala. - Fernando diz fazendo um gesto com a mão e eu reviro os olhos.
- Isso não é certo, Fernando. - Falo pensando em como a menina deve se sentir.
- Eu falei com ela, pô. Mas, ela só quis um pente e rala, aí deixei por isso mesmo. - Ele fala sentido e aí eu entendo.
Dou uma risada e então saímos de casa, subindo aquele morro totalmente fadigada mesmo antes de dar 2 passos.
(***)
- aí tô morta. - Falo já tentando recuperar todo o ar. - Assim que sairmos daqui eu vou comprar uma moto, tô falando sério.
- Sedentária. - Fernando fala, mas tá todo suado.
- Ata, bobão. Bate palma logo aí. - Falo e ele bate três palmas altona.
- CORINGAAAAA... - Além da palma, ele grita.
Pulmão do menino tá em dia, por que puta que pariu.
Logo aparece uma mulher, aparentando ter entre 40 e 45 anos.
- Quem é? - Ela pergunta assim que abre o portão.
- Oi, boa tarde. Tem como a senhora falar que a Rafaela e o Fernando tá aqui? - Falo e na mesma hora ela abre um sorriso.
- Você é a tal diaba? Puta que pariu! Sou tua fã, porra! Dá um abraço aqui. - Ela diz e me puxa pra um abraço, eu retribuo, obviamente. - Mulher, graças a Deus que tu conseguiu matar ele. Sinto muito por tudo o que você passou, pode entrar, sinta se em casa. - Ela diz me soltando e dando passagem.
- Oi.. - Fernando fala todo tímido.
- Você é o Fernando, né? Dá um abraço aqui menino, sinto muito pela sua mãe. - Ela diz e abraça o Fernando.
Fernando fica um pouco mexido e eu nem imagino como deve estar a cabeça dele.
Eu tentei falar com ele sobre a mãe dele, mas ele sempre diz pra deixar quieto, então eu não falo mais e aguardo o momento em que ele vai querer falar.
Passo pra dentro e Fernando também, ao entrar na sala da casa dela, sou recepcionada por um ar gelado abessa e meu corpo se arrepia.
Ela fecha a porta e fala pra gente sentar por que vai chamar o coringa.
- Se vocês quiserem água pode pegar na cozinha, a casa é de vocês. - Ela fala e sobe as escadas.
- Tu viu que mulher dahora? Minha mãe era assim.. - Fernando fala e eu sinto um aperto no peito.
Pego na mão do Fernando e apenas tento passar carinho pra ele.
Eu não sei o que dizer, sinceramente.
Coringa desce as escadas correndo e a mãe dele desce junto com ele.
- O que devo a honra da visita de vocês? - Coringa pergunta e se joga em uma poltrona preta que parece até daquelas que faz massagem.
A casa de coringa é grande e muito bonita por dentro, fico feliz pelo que ele conquistou mesmo que tenha sido com o dinheiro errado.
- A gente quer falar com você, pô. - falo e o coringa olha pra minha mão que tá segurando a do Fernando.
- Se assumiram? - Ele pergunta.
- Para com essa porra... Desculpa tia. - Fernando fala e a mãe do coringa só ri.
- Meu nome é Maria de Lourdes, mas pode me chamar de tia. - ela diz sorrindo e senta no sofá. - Vocês querem alguma coisa?
- Não não, quantos anos a senhora tem? - Pergunto curiosa, pois ela é muito bonita e parece ser mais a irmã de coringa do que mãe.
- 56 anos. - Ela diz e na mesma hora minha boca se abre.
- É o que? Só acredito vendo a identidade. - Fernando fala também chocado.
Ela alcança a carteira que tá em cima da mesinha e pega a identidade, mostrando pra gente que realmente ela tinha 56 anos.
- Se permite, a senhora é muito gata e tá muito bem conservada. - Falo e ele sorri.
- Obrigada menina, você que é linda. Qualquer dia desses te chamo pra ir num pagodinho comigo. - Ela fala.
- Eu vou ficar esperando esse convite, hein. - Falo sorrindo.
- Fala aí pô, tu curioso. - Ele diz e eu respiro fundo antes de falar.
Só rezo para que ele aceite minha ideia.
Maria de Lourdes - 56 anos
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