CAPÍTULO 1 - Realidade

2.2K 148 27
                                    


Como eu poderia dizer isso de uma forma mais simples? Quer dizer... Tem sido assim nos últimos 14 anos de minha vida, acordo quase diariamente chorando chamando por minha mãe. Meu pai já se acostumou com meus gritos em meio a madrugada, ele vem até meu quarto com um copo d'água e me acalenta com um sorriso acolhedor, até que eu volte a dormir. Eu tinha 9 anos quando aconteceu meu pior pesadelo, minha mãe foi morta brutalmente em minha frente, por bandidos que invadiram nossa residência em busca de objetos de valores. Como éramos pobres, por ódio eles a levaram para a morte.

Acordei com o despertador me avisando que era hora de me arrumar pra faculdade, minha adorável faculdade de artes.

- Vamos lá, Esmeralda Grace, mais um belo dia para viver!

Disse para mim mesma, me sentando na beira da cama.

Meu cabelo curto e preto como a noite estava amarrotado em minha testa, bocejei esticando os braços. Levantei me, e prontamente fui tirando meu pijama rosa de unicórnios no caminho pelo banheiro para uma ducha. Passei somente um batom rosado, com os cabelos soltos e franja no seu devido lugar, e minha costumeira saia com meias ¾.

-Bom dia, papai!

Disse sorrindo para o mesmo. O encontrei na sala com a xícara de café entre os lábios.

- Bom dia, querida! Acordou bem disposta hoje, hein? - Está frio, não vai de calça dessa vez? Disse sorrindo em minha direção.

- Que isso, pai, eu estou sempre disposta.

Continuei em passos lerdos até a cozinha

- Sabe que não sou grande fã dessa roupa, meu casaco está bem quentinho, olha! -Disse me virando rapidamente, apontei para minha roupa e sorri.

- Tudo bem, não vou discutir com minha filha teimosa. -Está linda, meu anjo.

Voltou a tomar seu café e eu segui para a cozinha para tomar meu café da manhã.

-Estou de saída, pai, até mais tarde.

Disse passando por ele na sala, que continuava sentado, dessa vez concentrado ao celular. Respondeu com um breve aceno sorrindo. Eu estudaria até o meio dia, no período da tarde eu era a babá do pequeno Ariel, um garotinho adorável de 4 anos. Ocorreu tudo nos conformes naquela manhã, nada de diferente como nas últimas semanas, exceto uma ansiedade crescente por dentro.

- Agora devo estar pirando! Definitivamente preciso parar de ficar até tarde da madrugada pintando aquelas telas

Disse baixinho enquanto deixava os portões do campus rumo à minha casa. Mas aquela sensação diferente não foi embora.

- Ariel! Agora é a vez da titia. 

Disse ao garotinho, enquanto brincávamos com seus brinquedos coloridos. A criança me olhava gargalhando enquanto eu fazia cócegas em sua barriga. O pequeno dormiu no tapete da sala, o acomodei entre almofadas confortáveis e deitei ao seu lado. Me peguei pensando sobre o pesadelo dessa noite, a morte. Mesmo com isso acontecendo quase diariamente, eu era feliz com a vida que tive ao lado do meu pai. Ele costuma dizer que eu sou seu pequeno ponto colorido de alegria e vontade de viver. Talvez mamãe esteja de algum lugar me dando forças para seguir em frete. Em meio a devaneios, eu adormeci.

Era noite e eu estava em meu quarto, terminando uma de minhas telas.  Encarei com um leve sorriso a pintura, era um riacho num jardim mágico de fadas. Tirei algumas fotos para postar em meu site, onde eu fazia vendas do mesmo. A renda extra das telas me ajudava muito a manter os gastos diários, que não eram muitos. Novamente me deitei e fui levadas aos sonhos, mas dessa vez sonhei que estava as margens de um belo castelo, com pessoas de todas as idades transitando por aquela ponde alta. Senti a brisa suave na minha pele, queria morar nesse lugar acolhedor e bonito. Andei por um campo verde e cheio de vida, o sol brilhava forte, mas era agradável. De alguma forma, eu senti aquela mesma ansiedade por dentro. Talvez o destino estivesse prestes a mudar em minha vida?

No sonhar, em seu majestoso reino, estava Morpheus. Em mais um de seus dias monótonos, o senhor dos sonhos se sentia apático. Desde que foi aprisionado por Roderick Burgess, Morpheus perdeu parte da sua afeição pela humanidade. Ele havia reconstruído o sonhar e tudo seguia em perfeita ordem, assim se passou algumas anos. Pela primeira vez ele se sentia sem um propósito, como se estivesse faltando algo em sua existência, mas Morpheus gastava horas do seu tempo refletindo sobre isso. Se sentia vazio. Suas idas ao mundo desperto se tornaram raras, as vezes se encontrava com sua queria irmã, morte, em passeios por parques verdes, ou quando ela o puxava para alguma sorveteria a fim de entender aquela aura distante do irmão. Eles conversavam sobre a preocupação da irmã, que nunca viu Morpheus tão diferente, em eras. De alguma forma, ele se sentia estranho por ter dificuldades em expressar seus sentimentos a mais velha, que gentilmente o entendia.

- Querido irmão, vai mesmo passar o dia todo aqui alimentando esses pássaros? Quando foi a última vez que sorriu?
Morte disse pacificamente enquanto pousava uma de suas mãos em minha perna. Estávamos sentados em um parque onde os humanos tiravam tempo de suas vidas para relaxarem.

- Eu não vejo motivos pra tal coisa, irmã

Eu disse encarando o chão, enquanto refletia sobre as coisas que ela tagarelava sem parar, em meio a insultos e sermões.

-Sonho... Já conversamos sobre isso, que tal darmos uma volta? Quem sabe você não se divirta? O que acha?

Seus lábios esticados sorriam pra mim. Joguei os restos de migalhas aos pássaros e me levantei, passando as mãos umas nas outras, afim de me limpar

- Vamos lá

Disse minimamente em meio sorriso a ela, que rapidamente se levantou e laçou seus braços ao meu. Andamos alguns passos, enquanto passávamos entre as pessoas, alguns casais deitados na grama conversando alegremente. Eu observava aquilo sem animo. Mas foi quando o mundo pareceu estar em câmera lenta, eu a vi. Uma mulher com roupas estranhamente coloridas e sorriso largo. Foram seus olhos que vieram em direção aos meus, parei de andar no mesmo instante e a fitei, estranhamente congelado no lugar.

Em bilhões de eras, eu nunca havia visto criatura tão bela e excêntrica como ela. Ela estava sentada sobre um pano amarelo, com um garotinho batendo palmas pra ela, os dois gargalhava graciosamente.

- Sonho? Está tudo bem?

Minha irmã me cutucou me tirando os olhos daquela criatura pequena.

-Eu, é... Sim, está tudo bem. Só pensei ter visto algo
Morte me encarava com uma interrogação estampado no rosto. Quem era ela? Seu rosto era tão angelical, sua pele clara contrastava com o cabelo escuro, seus olhos avelãs ficaram grudados em minha mente. Naquele dia eu precisaria descobrir quem era aquela mulher que roubou meus pensamentos tão rápido.

Ah, pobre sonho, o destino já havia traçado o seu destino ao dela.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Cometem o que acharam ❤️
Até o próximo capítulo

Link da playlist pra quem quiser. Ou só pesquisar " Sweet angel - Morpheus" no spotify

https://open.spotify.com/playlist/2ZsrLJKKHcP4siXKtZ5nZK?si=xeHnu4rtSj2vFk5P2aGFmg&utm_source=copy-link

Grupo no whats pra nos divertimos e discutir sobre o livro❤️
https://chat.whatsapp.com/DvxHX8KiI9vIh2SyCRkkrn

Sᥕᥱᥱt ᥲᥒgᥱᥣ - 𝙼𝚘𝚛𝚙𝚑𝚎𝚞𝚜 - 𝙰 𝚜𝚊𝚗𝚍𝚖𝚊𝚗 𝚏𝚊𝚗𝚏𝚒𝚌𝚝𝚒𝚘𝚗Where stories live. Discover now