Capítulo XII

15 5 12
                                    


Fiquei ali alguns segundos, sem processar nada do que tinha acabado de acontecer, não queria pensar, nem compreender por alguns minutos, no entanto, David recebeu uma mensagem de Laura, era a única coisa que sabia. Uma mensagem pode dizer muitas coisas. Porém, também não conseguia ficar sem saber com a dúvida a corroer o meu estômago já em chamas. Por isso, levantei-me e segui-o. Nem conseguia chorar, apenas milhares de pensamentos surgiam contraditórios entre «sabia que era bom demais para ser verdade» e «porque ele disse que tinham acabado, ele disse isso, não disse?» e outros mais confusos «então, por que me beijou? Porque veio ter comigo?». Deixei-os passar, voar, sem me prender a nenhum argumento enquanto não tivesse certeza de nada. Tinha de ver. Só os meus olhos poderiam dizer a verdade e só assim é que poderia acreditar.

Ele começou a estacionar, depois de algum tempo a conduzir, estava a observá-lo no táxi em que entrei assim que saí de casa para o seguir. Estávamos perto de um restaurante com vista para o mar. Enquanto ele estacionava o carro, paguei ao taxista e pedi-lhe para me dar o número da central para depois ligar quando tivesse de sair dali.

Ao contrário do que pensei, em vez de entrar no restaurante, ele deu a volta e foi ter à pequena praia para onde o restaurante tinha vista. Perto de um muro estava Laura, a tremer ou a chorar e o meu coração esqueceu-se de bater. Fiquei ali sem ar, a ver ele a aproximar-se e a abraçá-la.

- Ele... de-deixou-me... não queria nada... sério... tinha na-na-namorada... - soluçou Laura e o meu coração voltou a bater por compaixão dolorida.

- Sabes que estou sempre aqui para ti, porque precisavas de fazer isto?! - a voz dele refletia a dor e raiva dele. A dor dele e a minha dor entrelaçavam-se em espinhos sangrentos. O meu coração rasgado com aqueles espinhos sangrava mais ainda a sentir a emoção na sua voz, uma emoção que ele nunca me tinha mostrado.

Ela chorou mais no seu ombro e murmurou qualquer coisa que não consegui ouvir. Ele disse que a amava e beijou-a.

O meu coração a sangrar caiu num abismo sem fim. Nem consegui sentir o baque para tomar consciência que se partiu.

Sim, finalmente, compreendi que neste romance a protagonista não sou eu. É aquela mulher a ser beijada pelo homem que amo.

E eu?

Eu sou a tola que ele gosta de enganar quando ela lhe dá com os pés.

Só queria que estas lágrimas fizessem uma barreira para impedir o meu amor por ele, mas estou condenada ao papel secundário, aquela que ama, mas nunca é amada... Como já é hábito para mim... por que pensei que desta vez pudesse ser diferente?

Por muito que os nossos amigos queiram nos ajudar, eles nunca podem fazer muito quando o nosso coração está partido

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Por muito que os nossos amigos queiram nos ajudar, eles nunca podem fazer muito quando o nosso coração está partido. Ajuda falar, sim. Estamos a falar e falar, mas nunca conseguimos parar nem curar tudo até nos conseguirmos calar. Por essa razão, não quis ir ter com a Amélia após de seguir o David. Ela ia falar mal dele, ia dizer para o esquecer e eu sei que ela teria razão, mas mesmo assim, só queria que ele me enviasse uma mensagem. Como uma pessoa pode desaparecer assim? Trocar a minha companhia de uma forma tão fácil... Tão simples. Como eu tivesse sido uma camisola que ele usou enquanto a sua favorita estava a lavar. Talvez, eu tenha sido menos importante do que isso. Fui um mero passatempo.

Senti-me a afundar no meu desespero, as lágrimas eram as minhas companheiras e as minhas recordações eram como um dente que doí, mas que não conseguia deixar de tocar constantemente. Os dias tornaram-se noites sem que desse por nada. As persianas continuaram fechadas e o telemóvel desaparecido na confusão da minha casa. Talvez, sem bateria, quem queria saber?

Agora, já era tarde para esperar uma mensagem. David e Laura deveriam estar juntos. Talvez na casa dela, talvez na dele. Juntos. A beijarem-se a tocarem-se com uma intimidade que ele nunca teve comigo. Uma intimidade e cumplicidade que eu nunca senti. A dor corria por mim como um rio corre pela montanha. Tanta precaução para não me apegar, para não falar o que sentia, tudo isso para quê? Fui enganada na mesma, o pior é que nem me lembro dele se esforçar por enganar-me, ele nunca disse nada... Fui eu quem se iludiu sozinha. Fui eu que quis ser a mais importante, a que morava no seu coração.

Liguei a televisão só para fazer barulho e com ela ligada sem ver nada do que passava, escrevi páginas e páginas que depois rasguei, chorei, comi até ao limite do meu estômago, sempre com ânsia de mais e mais. Fiz de tudo para esquecer o mundo que me dizia que depois de uma grande dor a vida continua. Esqueci que existia trabalho e compromissos. Esqueci-me do Henrique e da editora. Tudo era pequeno e fraco perto da dor e da minha imaginação que me rasgava com o que poderia estar a acontecer e com o que nunca poderia ter.

 Tudo era pequeno e fraco perto da dor e da minha imaginação que me rasgava com o que poderia estar a acontecer e com o que nunca poderia ter

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Queridos leitores, 

Tive algumas ideias para melhorar a história, por isso posso demorar algum tempo a publicar o resto da história, mas vou tentar ser o mais breve possível! 

Grata por darem vida a esta história!

Abraços com carinho!

MS

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Mar 09 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Amar ou Ser Amada? (Rascunho)Where stories live. Discover now