Capítulo VI

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Quando estamos felizes, o tempo não passa, voa. Foi o que aconteceu nos dias que se seguiram. Quando vi estava a entregar o manuscrito que milagrosamente consegui completar pelas minhas três noites sem dormir por estar a explodir de felicidade ou ansiosamente à espera de que David ligasse.

As sessões de marketing começaram, mas por muito que me tentasse concentrar era difícil porque não tenho nenhum interesse pelo tema. Fazer uma estratégia de marketing, parece fazer todo o sentido quando é dito e explicado. Quando vou aplicar na prática parece-me sem sentido e completamente ilógico. O que um livro tem de interessante que se possa falar todos os dias nas redes sociais? Mesmo que seja apenas três vezes por semana, parece-me impossível. Além do objetivo parecer claro: vender. Agora, como mostrar fotos minhas (e ele sabe o quão difícil é elas saírem bem?) pode ajudar a vender um livro ou como escrever artigos sem contar a história do livro e despertar a vontade dos leitores? Tudo isso parecia-me impossível ao ouvir a teoria de marketing. Henrique, ao observar a minha cara desesperada, convidou-me para almoçar. Calculei que queria falar sobre as minhas dificuldades ou pior repreender-me por falta de motivação. O motivo foi muito diferente do que estava à espera.

- Linda, obrigada por vires – disse quando nos sentámos à mesa do restaurante – queria mesmo falar longe das pessoas da editora.

- Dizer o quê? Não é sobre a sessão de hoje sobre marketing? Aquilo parece-me impossível de colocar em prática!

- Nada disso, vou-te ajudar e vais ver que é mais fácil do que parece, dá é muito trabalho...

Entretanto, chegou o nosso almoço e falamos um pouco sobre a comida, bitoque para ele, uma salada para mim (tinha vontade de comer muito mais, mas à frente de pessoas de trabalho nunca mais).

- O assunto que queria falar contigo, é que estou interessado em ti e gostava de sair contigo para nos conhecermos melhor, isto é, se também quiseres.

Engasguei-me com a salada. Tal foi a situação que quando passou estava a chorar e tive de ir à casa de banho. Ele estava a falar a sério? Será que não estava a gozar comigo? Pensei nas hipóteses mais loucas, desde ser obrigado por José até ter feito uma aposta. Pura e simplesmente não consegui acreditar que ele estava a falar a sério tão descontraidamente. Respirei fundo e mesmo sem saber como enfrentar a situação, sem saber o que dizer, voltei para a mesa. Henrique esperava por mim e sorriu quando me sentei.

- Apanhei-te de surpresa?

- Sim, muito. Não consigo compreender de onde veio esse interesse em mim...

- Fiquei interessado em ti desde o primeiro momento em que te vi – olhou diretamente para os meus olhos e consegui ver que estava a ser sincero.

- Lamento, mas já tenho alguém – ia para dizer namorado, mas pensando bem a minha relação com David não estava definida e eu tinha demasiado medo para a esclarecer.

- Estou a ver... - Henrique ficou cabisbaixo por alguns minutos – se algo se alterar ou se quiseres de sair comigo, por favor avisa-me. Também só quero conhecer-te melhor e depois veremos o que poderá surgir – sorriu sensualmente de canto. Estava de volta: Henrique, o sedutor. Nem uma recusa o conseguia abalar.

Sorri timidamente. Confesso que se não tivesse interessada já no David e ainda mais correspondida, era difícil recusar a sua proposta. Ele era um homem lindo e muito atraente. Sabia aceitar um não, logo passou aos temas de marketing e nunca mais falou da sua proposta. No entanto, o meu ego estava envaidecido. Quase acreditava que uma fada ou bruxa tinha colocado uns pós em mim e os homens não conseguiam ver a minha aparência, mas a de uma modelo para de repente estarem tão interessados em mim. 

Pensei que o ambiente com Henrique ficasse estranho depois do que ele me disse. Embora me sentisse mais tímida do que habitual, ele falava comigo ainda mais gentilmente e agia como se tivesse cumprimentado o fato dele. Ele bem disse ser apenas um interesse por mim, não é que ele estivesse apaixonado por mim, nem nada disso. Talvez, estivesse mais apaixonado pelo meu livro do que por mim. Sim, isso fazia muito mais sentido. Por vezes, gostarmos do livro não quer dizer que vamos gostar do autor. Com este pensamento, fiz por esquecer a pergunta do almoço e esforcei-me para entender a teoria e a prática do marketing. Ele insistia para que publicasse alguma coisa para começar, mesmo que ainda não tivesse o plano de comunicação preparado. As pessoas precisavam de entrar em contacto comigo e eu não fazia ideia o que publicar. Já não publicava nada fazia muito tempo e após perder o hábito, já não é tão fácil partilhar comidas ou paisagens que gostamos. Tudo parece vazio porque não temos ninguém em específico com quem falar. Estamos a contar a redes sociais a nossa vida para um ego ou algo assim se orgulhar. Henrique dizia para eu publicar para os meus leitores. Mal sabia ele que isso só me fazia mais dúvidas. Eu não fazia ideia o que os meus leitores queriam, ou querem, nem muito menos o que gostam. Por uma razão simples: nunca os conheci. Não faço ideia quem poderá gostar dos meus livros (com o meu nome) e não faço ideia como fazer como as pessoas gostem de mim (se nem eu o consigo fazer).

- Não precisa de ser nada de especial, por exemplo – aproximou-se Henrique e colocou-se ao meu lado com a mesa cheia de documentos e o computador onde estava a trabalhar e tirou uma foto e partilhou no meu Instagram.

A descrição da foto tinha apenas duas hashtags #trabalho #umagrandesurpresaparavocês. Fiquei a olhar para a foto (horrível, como sempre fico) da minha rede social com um homem lindo que só reforçava a minha falta de beleza e que atraiu muitos gostos e de repente parecia que éramos mais do que colegas. David nem reparou na foto. Nunca disse nada sobre o único homem nas minhas redes sociais ser outro e não ele. Deveria achar estranho? Por que sinto como se tivesse feito algo errado?

Finalmente, depois dias de tortura sobre marketing digital, ficamos com uma estratégia digital e um plano por fazer numa tabela Excel para cada rede social. Apesar de os objetivos estarem claros e ficar definido que apenas ia partilhar os bastidores do meu trabalho sem artigos específicos sobre o meu trabalho, tudo parecia muito para preencher. Henrique disse que assim que começasse os preparativos do lançamento teria muito para colocar, mas só de pensar em tirar um dia apenas para preencher redes sociais deixava-me cansada. Os escritores não deviam apenas escrever e pronto? 

#cansadasódepensar

Queridos leitores, 

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Queridos leitores, 

Grata por darem vida a este livro ao lerem e comentarem esta história. 

A  publicação do próximo capítulo vai ser a 3 de fevereiro 2024. Fiquem atent@s

Um abraço com carinho, 

MS

Amar ou Ser Amada? (Rascunho)Where stories live. Discover now