CAPÍTULO 50

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Davi havia escutado Roberto chamá-lo, porém não se atreveu a ir na porta da casa de dona Mariana para atendê-lo.

Eliane e Cácio não estavam e ele não tinha certeza se também dona Mariana estava em casa, pois havia algum tempo que já estava em seu quarto lendo os livros  sobre o Espiritismo.

Um misto de surpresa, excitação e receio  o invadiu, pois não esperava que Roberto viesse até ali atrás dele. Acreditou que Eliane já tivesse deixado bem claro que não era aconselhável que os dois se encontrassem ainda.

 Como se reconhecesse o perigo  naquela voz, Vitório veio correndo do quintal e meteu-se no canto da cama de Davi, como se temesse alguma coisa ruim contra ele.

_Ei! O que foi isso, meu filho?_perguntou pegando o animalzinho no colo e o aconchegando em seu peito._Calma, o papai está aqui com você!

Instintivamente, Davi respirou fundo e fez uma oração silenciosa, com receio do pequeno estar pressentindo a aproximação de Adriano e Márcio!

Ele acreditava que a casa de dona Mariana tinha uma energia forte o bastante para impedir que Adriano e Márcio se aproximassem dele novamente, mas todo o cuidado era pouco e se Vitório estava nervoso, poderia indicar que algum  risco ainda havia.

O herdeiro de Alceu sentiu um arrepio pelo corpo, mas sabia que não era nada de espiritual, mas sim de físico, por saber que Roberto estava vindo a sua procura.

Num dado momento, diante da insistência de Roberto e num impulso impensado, Davi chegou a fazer menção de levantar-se para ir até a porta, mas se deteve avaliando se seria uma atitude sensata.

_Eu só posso estar ficando louco! Imagine se eu deixo ele entrar...nós dois aqui sozinhos...nem pensar! Dona Mariana me bota pra correr e aí vou ter que me virar sozinho com aqueles dois pestes!_falou com o cachorrinho que o olhava como se entendesse o que o dono estava dizendo._Que grite até ficar rouco que eu não vou lá fora mesmo!

Pegou Vitório no colo e foi para o fundo da casa, onde uma amiga de dona Mariana separava algumas roupas que haviam doado para o centro. Ele nem sabia que ela estava ali e sentiu-se melhor ao perceber que não estava sozinho.

_Bom dia, dona Cleide!_disse Davi aliviado.

_Bom dia, Davi! Menino, você tem que ver que homem bonito que chegou  agora a pouco e está lá fora conversando com dona Mariana._disse a mulher sorrindo assanhada._Meu pai do céu!

Davi estranhou ela não mencionar que o homem havia gritado o seu nome e chegou a imaginar que talvez fosse fruto de sua imaginação, mas lembrou-se que a mulher não escutava direito. Estando ali no fundo, talvez não tivesse ouvido os gritos de Roberto na frente da casa.

_Será que ele vai entrar?_perguntou a mulher ainda agitada. 

_Deixa de ser assanhada, dona Cleide!_brincou Davi.

_Se eu soubesse que ele iria entrar, correria agora mesmo lá pra cozinha e passaria um café fresquinho pra ele!_a mulher não se intimidou.

Davi ignorou aquele comentário e pôs-se a separar as roupas, junto com a senhora, tentando se distrair da ameaça que o rondava naquele momento.

Pensamentos perigosos ficaram rondando o médium que aos poucos os ia expulsando, como aprendera, temendo que se tornassem uma porta aberta para a aproximação dos espíritos obsessores. Como se percebesse a batalha que o seu dono travava, Vitório havia deitado em seus pés e, de vez em quando, resmungava baixinho.

Dona Cleide deu início a relatos sobre a sua vida à procura de um outro amor, pois era viúva há mais de dez anos e sentia a falta de alguém ao seu lado.

NINGUÉM FOGE DO PRÓPRIO DESTINO!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayWhere stories live. Discover now