Algumas horas passam. O relógio digital da cabeceira de Camila move os minutos com o vento. Eu já assisti alguns seriados, histórias de animais na savana africana e nada, nada, nada faz o tempo se mover com a rapidez necessária para que eu tenha minha namorada nos meus braços outra vez.

Eu estou quase cochilando assistindo uma série aleatória quando ouço a porta do quarto de abrir. Camila está de cabelo preso agora e sorri cansada pra mim. Eu levanto às pressas, com vontade de abraçá-la e ela nega meu contato, movendo a cabeça em um não.

— Acabei de vir de um hospital, meu amor. — ela acaricia meu ombro para que eu não fique tão chateada. É fofo a forma que ela não me nega carinho cem por cento. Sempre há um toque sutil e seguro para dizer que suas razões não são pessoais. — Vou tomar um banho quente primeiro, ficar limpa e cheirosa pra deitar com você.

Namorar uma mulher mais velha e consequentemente mais responsável me mostrava que antes de ter o mínimo de afeto físico, ela priorizaria se esterilizar inteira. Nem um beijo, nem um cheiro. Nada. Absolutamente nada.

— Você quer que eu prepare um banho pra você? — me ofereço. Ela não parece muito bem essa noite. — Uma água morna, com seus sais… 

Ela negou, mas sorriu.

— Agradeço muito, minha menina. — fechou os olhos, soltando um suspiro exausto. — Vou tomar uma ducha rápida dessa vez. — eu assenti em silêncio. — Aquece meu lado da cama? — era covarde de sua parte estar tão próxima e não deixar que eu a tocasse. — Quero deitar bem agarradinha com você. Na verdade, eu preciso disso.

Driblando uma de suas regras, eu a puxei pela cintura, arrancando um som surpreso de seus lábios enquanto conectava sua boca à minha. Foi um beijo leve, carinhoso, apenas um roçar sutil de lábios apaixonados. Sabia que ela não estava muito bem com aquela notícia e de alguma forma, queria lhe oferecer algum tipo de conforto e carinho.

A senti sorrir entre nossos últimos selinhos. Seu corpo parecia menos rígido agora. Quebrar a regra da esterilização de rua era bom às vezes, mostrei. Ela roçou a ponta do seu nariz ao meu, fazendo um riso manhoso e baixo escapar dos meus lábios.

Eu nunca havia sido tão mimada na vida.

— Eu já volto, baby.

Voltei a deitar na cama, mole de tanto afeto. Deitei ao lado que lhe pertencia para aquecer como ela havia pedido. Camz não demorou no banho. Saiu vestindo uma roupa confortável, com a pele limpa e sem resquício de maquiagem. Antes de se deitar, foi para frente do espelho e aplicou alguns cremes no rosto, junto a uma espécie de gel que saia por um conta gotas. Ver todo aquele cuidado fazia eu me questionar se com o passar dos anos eu também me preocuparia com minha pele daquela forma. E se eu estiver com ela quando esses anos passarem, provavelmente a resposta será sim.

— Como foi lá? — ergui o edredom quando ela caminhou na direção da cama.

Eu nunca tinha me dado conta do quão bela ela era com sua beleza natural. Meu eu apaixonado estava vidrado naquela mulher e encantada por todas as suas formas e versões.  Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo feito com os próprios fios e seu corpo vestia um conjunto de pijama de seda, parecidos com o que ela me deu na primeira noite que eu estive aqui, tirando pequenos detalhes que deixavam a peça única naquele corpo. Uma blusa de alças finas com pequenos detalhes em renda, e um short solto, com os mesmos detalhes na aba. Ela me olhou em silêncio por alguns segundos e sorriu, pedindo que eu chegasse mais perto. Deitei próxima e ela deitou por cima do meu peito, próxima a curva do meu pescoço.

— Clima pesado como eu imaginei que seria durante todo o caminho. — acariciou meu tórax por cima da roupa. Aquele cheiro de banho tomado, sabonete cremoso de camomila e óleo nutritivo de frutas vermelhas havia se tornado meu aroma preferido. — Seja por álcool, remédios, drogas ilícitas… Todo ambiente onde existe um dependente que caiu e ultrapassou um limite violento tem uma energia tão… triste e silenciosa.

OUTSIDERWhere stories live. Discover now