𝟶𝟻. hogwarts express

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Ela segurava uma pequena pedrinha entre os dedos, a observando em silêncio, enquanto uma joaninha subia pelo seu braço fazendo cócegas leves. Outra coisa que ela gostava de fazer quando estava no jardim, era jogar pedrinhas na fonte e fazer pedidos. É claro que sabia que provavelmente não seriam atendidos, uma vez que a fonte não era mágica e ela jogava pedrinhas ao invés de moedas. Mas ela se contentava com a ilusão de apenas jogá-las e acreditar na realização de seus desejos.

Naquele momento, deveriam haver dezenas de pedrinhas no fundo da fonte. Quase todas elas carregavam o mesmo pedido feito pela garota: ser feliz.

Por muito tempo aquilo foi tudo que ela desejou profundamente; a felicidade. Algo que ela nunca havia sentido de verdade. Mas parando para pensar, talvez a fonte fosse mágica, afinal, ela sentia-se feliz naquele momento. Mas seria aquele sentimento realmente felicidade? Ela ainda não conseguia se livrar do vazio em seu peito. Aquele peso que estava sempre ali e que tornava difícil respirar às vezes, parecia nunca ir embora.

Sentia-se radiante, feliz e agradecida por tudo que havia acontecido nos últimos dias. Mas ainda assim, algo parecia faltar, como se um buraco enorme estivesse aberto em seu peito, e apenas alguma coisa específica poderia fechá-lo. Cybele só não sabia o quê.

Portanto, aquele foi o pedido que fez a fonte antes de jogar a pedrinha que segurava, na água cristalina: que o vazio em seu coração fosse preenchido.

Ela passou mais algumas horas observando a joaninha em seu braço antes de voltar à enorme mansão para terminar de arrumar suas coisas para a viagem à plataforma nove e meia.

Ao chegar no porão encontrou seu malão aberto, lembrava-se perfeitamente de tê-lo deixado fechado. Ficou ainda mais confusa quando percebeu coisas que ela não havia adicionado lá dentro. Uma escova capilar de prata que não era a sua e brilhava tanto que parecia novinha em folha, uma escova de dentes ainda lacrada e roupas que ela nunca havia visto, mas que pareciam caber nela perfeitamente. Entretanto, seus três vestidos de flanela continuavam ali, juntos a todos os seus materiais de Hogwarts e o diário de sua mãe, escondido entre os vestidos.

Porém, antes que ela conseguisse desvendar o mistério, a porta do porão foi aberta. O corpo esguio de uma mulher com o cabelo metade preto, metade loiro e uma franja lateral, surgiu na escada. Narcissa Malfoy estava ali, parada à sua frente, a olhando sem emoção e em completo silêncio. Assim como Lucius, a alguns dias atrás, era a primeira vez que Cybele a via no porão. Não entendia o que havia dado neles com essas visitas não casuais inesperadas.

Ela logo temeu o pior. Mas antes que pudesse abrir a boca para perguntar o porquê da presença da bruxa, Narcissa quebrou o silêncio:

─ Pegue a escova de cabelo e venha até aqui ─ ela conjurou um grande espelho da altura de Cybele com um aceno da varinha e prostrou-se na frente dele.

A garota, muito confusa, pegou a escova de prata de seu malão e, meio hesitante, foi na direção da mulher. Entregou o objeto a ela, que o pegou e virou Cybele de costas, deixando-a de frente para o espelho. No momento em que seus olhos encontraram seu reflexo, a garota esqueceu-se completamente da presença de Narcissa.

Era a primeira vez, em muito tempo, que ela se olhava no espelho daquela maneira. Que via como as outras pessoas a enxergavam fisicamente. Ela não era muito alta, embora tivesse apenas dez anos. Tinha grandes olhos azuis, sardas que cobriam seu nariz e bochechas e o cabelo castanho escorrido que ia até o meio das costas. Não havia percebido o quanto sua pele estava branca ou o quanto seu corpo estava magro, até agora. Ambos deviam-se ao fato de ela estar sempre beirando a inanição vivendo com os Malfoy. Talvez aquilo mudasse quando ela fosse para Hogwarts.

GOOD & EVIL ¹ ⪧ harry potterWhere stories live. Discover now