Ovelhas dóceis

300 45 19
                                    

Descarte o corpo dele no rio Han, para que todos saibam o que acontece com quem desrespeita a Yamazai. Foi o que disse para Yangyang, assim que ele entrou no galpão. Shotaro estava morto. Seu sangue manchava a parede acinzentada e ao redor da cadeira onde ele estava amarrado. As minhas mãos e as minhas roupas também estavam sujas. E voltamos a estaca zero. O sangue escorria entre os meus dedos e pingava no chão branco. A direita ainda carregava a arma que utilizei para fazer um buraco na testa do jovem japonês. Ele não abriu a boca, mesmo sendo torturado durante horas, ele não deu um pio. Era inútil.

A minha visão se tornou um borrão quando a voz trêmula de Swan ecoou em minha memória. Eles levaram Renjun. Ela disse enquanto soluçava. Yuta levou Renjun. Meu corpo estremeceu. Deveria saber que aquilo iria acontecer, era óbvio. Deveria ter cuidado melhor de Renjun. Deveria tê-lo afastado enquanto nossos sentimentos ainda eram apenas uma semente. Agora, ela floresceu e eu não sabia onde Renjun estava. Se estava bem, se ele estava vivo. Se eu não fosse tão egoísta, nada disso estaria acontecendo.

Eu baixei a guarda. A Yamazai nunca foi uma organização de ovelhas dóceis, nós erámos os lobos. Era eu quem possuía o espírito cruel. Yuta cometeu erros, e ele iria pagar por isso. Ele pagaria por ter tirado Renjun de mim, por ter ferido Swan e roubado o meu dinheiro. Chega de Lee Donghyuck, agora quem estava no controle era Lee Haechan.

– O que está fazendo? – os saltos de Jinjoo ecoavam pelo galpão.

– O que tem pra mim? – ignorei sua pergunta, erguendo a cabeça para encara-la.

– Já cuidei dos corpos das funcionárias da loja e de Doyun. – a arma escorreu da minha mão e se chocou contra o sangue de Shotaro. – Andei vasculhando as câmeras do estacionamento do shopping e descobri que o carro que levou Renjun é um dos carros que pertence a Choi Youngchul. Ou seja, ele se tornou um aliado do Yuta e está fornecendo carros de fuga para ele. – ela estendeu uma das folhas onde mostrava o carro preto e a placa com a pequena marca de Youngchul do lado. Me levantei da cadeira e com as duas mãos, ainda sujas de sangue, penteei meus cabelos para trás, deixando-os úmidos e com o cheiro do líquido escarlate.

– Perfeito. Vamos fazer uma visitinha a Royalty & Wheels.

...❂...

Royalty & Wheels era uma organização que contrabandeava peças de automóveis. Eles fabricavam carros novos do jeitinho que você pedia. Além, é claro, das pistas de corridas ilegais espalhadas por toda a Coreia do Sul. Choi Youngchul era o chefe da organização. Um homem asqueroso, misógino e mal educado. Ele trabalhava para Seongjin a muito tempo, e se não fosse por isso – mais os impostos que o velho sempre cobrava de Youngchul –, teria feito Choi sumir do mapa a muito tempo.

Aquela noite em específico não estava tão fria. O local aberto nos dava a visão do céu noturno e das várias pessoas que estavam próximas das grades. Os vários carros luxuosos e ilegalmente bem montados estavam dispostos em fila no meio da pista. Os corredores conversavam entre si enquanto os torcedores enchiam a cara e faziam suas apostas.

– Você não precisa ir até lá. – me virei para Jin noona, quando nos aproximamos o suficiente da entrada do Palace on Wheels. Yangyang também nos acompanhava. Já Swan, ela sequer se dava ao trabalho de se aproximar de Youngchul.

– Está tudo bem, eu aguento aquele porco. – ela sorriu de lado.

Concordei, sem insistir mais. Caminhando pelo local aberto, encontrei os dois seguranças de Youngchul. Dois brutamontes de cabeça raspada e acima do peso. Um deles levou o walk tok próximo ao rosto enquanto nos observava. A resposta veio rápida, ele sinalizou para o parceiro e deu as costas para nós. Tínhamos a autorização para andar livremente pelo local. O Palace on Wheels era uma das várias pistas de corridas ilegais que Youngchul possuía. Ele a visitava com frequência, parecia ser a sua favorita – e mais lucrativa por estar próxima do centro.

– Nossa, que surpresa desagradável. – o homem de camisa com estampa de onça e dentes de prata abriu os braços. Youngchul estava no meio de um grupo de homens que pareciam animais raivosos. – Não é muito cedo para a coleta? – ele ergueu uma sobrancelha.

– Não estamos aqui para fazer coleta. – disse, calmamente.

– Então, ao que devo a sua detestável presença? – Choi riu, passando a língua pelos lábios de uma forma nojenta enquanto encarava Jinjoo.

– Yuta Nakamoto. – cruzei os braços, tomando a atenção de Youngchul. – Se tornou um aliado dele, não foi?

– Não é da sua conta. – ele sorriu abertamente. – Com quem eu deixo de fazer contrato ou não, não é da conta da Yamazai. Mas, talvez eu esteja colaborando com ele. – encarou as próprias unhas. – Já que se ele derrubar o velho Woo e você do trono, não terei mais que me preocupar com os impostos de merda que vocês vivem cobrando. – ele me encarou outra vez.

– Eu quero que me diga onde o Nakamoto está se escondendo. – fui direto ao ponto, ignorando seu comentário inútil. Ele achava mesmo que aquilo iria acontecer?

– Eu não vou contar. – ele cruzou os braços, como uma criança birrenta. – Fizemos um acordo, e quer saber? Trabalhar pro Nakamoto é muito melhor que trabalhar para a Yamazai. Eu não preciso de vocês. – não consegui segurar o riso de satisfação ao ouvir aquilo. Era uma abertura e tanto.

– Essa é a melhor coisa que já ouvi. – descruzei os braços, ainda sorrindo. – Já que o nosso contrato foi encerrado, será um prazer matar você, Choi Youngchul. – o sorriso do chefe da Royalty & Wheels morreu no mesmo instante.

– Olha só pra esse cara. – um dos seguranças riu. – Ele acha que pode vir aqui e matar o chefe com apenas dois cãezinhos de guarda? Nós somos vários, e vocês só são três. – o segurança riu outra vez.

– Dois. – Choi disse. – Essa mulherzinha não conta. Ela sequer deve saber como segurar uma arma. – ele riu. – Está aqui para me servir, vadia? – Jinjoo riu de seu comentário. Aquilo não acabaria bem.

– Onde o Nakamoto está, Youngchul? – questionei outra vez, cansado da enrolação e do teatrinho de Choi. – O tempo está correndo e eu estou começando a me irritar com você. – franzi o sobrolho quando ele riu.

– Eu não vou contar nada pra você, Lee. – Choi disse. – Agora, de o fora do meu território antes que eu mande executar vocês. – suspirei de forma pesada, abaixando a cabeça e negando. – Eu estou até mesmo ofendido por vir aqui despreparado, achando que pode pra alguma coisa. – ele voltou a dizer com a mão no peito, como se realmente estivesse ofendido. – Ninguém pode comigo!

– Eu não vim despreparado. – ergui a cabeça e o encarei. – Trouxe a minha arma secreta. – Youngchul ergueu as duas sobrancelhas, ainda com um semblante de deboche na face.

– É mesmo? E qual é a sua arma secreta? – ele questionou com diversão. Sorri contente, que bom que ele perguntou. Inclinei o queixo em direção a Jinjoo, ele riu outra vez, mais alto. – É essa vadia que é a sua arma secreta? – ele perguntou, ainda rindo. – E o que ela sabe fazer além de limpar o chão e se engasgar com um pau? – Jinjoo me encarou, com os olhos brilhando em expectativa.

Apenas maneei a cabeça, voltando a cruzar os braços. Em um movimento rápido, Jin noona tirou as duas pistolas do coldre da cintura e apontou para os homens. Antes mesmo de conseguirem sacar suas próprias armas, eles já estavam caídos, mortos no chão. O grupo que cercava Youngchul não existia mais. Apenas Choi estava de pé, encolhido com os olhos arregalados. As pessoas que estavam no Palace on Wheels começaram a correr para longe enquanto gritavam. Mais homens do Youngchul começaram a se aproximar, correndo em nossa direção com armas apontadas para nós. Entre as pessoas que estavam próximas das grades assistindo a corrida, membros da Yamazai que estavam disfarçados passaram a derrubar os seguranças. Naquela zona de combate não existia mais nada além da Yamazai e Choi Youngchul.

– Bom, acho que agora podemos conversar com mais calma. – disse, me aproximando do dono da Royalty & Wheels.

...

Lendas fazem assim

Faltam três capítulos para terminar a fic! Ansiosos?

Até o próximo <3

I'm not good for you [RENHYUCK]Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon