O gosto amargo da traição

472 72 8
                                    

A primeira coisa que reparei quando abri os olhos foi que não estava no meu apartamento, muito menos na mansão ou na casa de Mark. Estava seminu, deitado em um fino colchão no chão de madeira com bandagens espalhadas pelo corpo. Gostaria de dizer que a minha noite foi boa, mas ela não foi. As dores dos ferimentos não se comparavam com o gosto amargo da traição. Maldito Yuta Nakamoto.

Me lembrava bem da noite passada. Recolhemos uma alta quantia, um peixe muito gordo. Yuta, um dos melhores seguranças que a Yamazai tinha, chegou a comentar sobre como o velho ficaria irritado se perdêssemos o dinheiro. Estávamos em oito. Derrubei cinco, mas Yuta sempre foi melhor na luta corpo a corpo. Ele me deixou para morrer naqueles becos sujos que mais pareciam um labirinto. Na chuva, enquanto perdia sangue e sentia mais frio que o normal, ouvi passos e um par de olhos escuros e pequenos. Achei que estivesse à beira da morte e ele fosse um anjo, ou talvez um demônio, que veio buscar a minha alma – se ela realmente existisse.

Mas eu não estava morto e ainda tinha todos os membros. Mark deveria estar me procurando por toda Seul e Swan deve ter faltado na escola. Yuta pagaria caro por ter me traído, por ter me roubado e tentado me matar. Mas por agora, tinha preocupações maiores naquele momento. Não sabia onde estava, com quem estava. Olhei ao redor e encontrei as minhas roupas dobradas do lado do colchão onde estava deitado, ao lado da pilha, a minha arma e o meu celular. Ouvi passos do lado de fora do quarto, alguém falava no telefone.

Me sentei no colchão, meu corpo estremeceu e a manta fina que me protegia do frio deslizou para o meu colo, deixando o meu tronco à mostra. Envolta da minha cintura e peito, as bandagens estavam sujas de sangue. Também sentia envolta da minha cabeça e outra na minha mão direita. As minhas pernas estavam doloridas, mas nada que me impedisse de acabar com a vida de seja lá quem estivesse lá fora. Meu celular estava descarregado e as balas da arma estavam intactas.

– Eu vou ficar bem, Kun gege. – ouvi a voz soar mais próxima. Encarei a porta de correr e vi a pequena silhueta pelo vidro borrado. – Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. – sua voz era doce e gentil, mas não a reconhecia de lugar nenhum. – Certo, eu te ligo mais tarde.

Ele ergueu a mão para abrir a porta, e eu me preparei para qualquer coisa que pudesse acontecer. Mas apesar de tudo, não tive outra reação a não ser o encarar de forma surpresa. Era aquele garoto da livraria. Ele estava ali, com roupas casuais e os olhos de raposa me encarando de volta. O menor adentrou o quarto e sorriu levemente. Algo em meu peito remexeu, me deixando desconfortável. Ele não era uma ameaça, definitivamente.

– Que bom que acordou. – sua voz seguiu o mesmo tom de antes, quando conversava pelo telefone. – Achei que ficaria mais confortável com a arma perto de você. – seus olhos seguiram direto para as minhas mãos, onde a arma era segurada firmemente.

– Foi você que cuidou de mim? – questionei, observando cada detalhe seu. Ele conseguia ser mais bonito ainda de perto, impressionante.

– Na verdade, foi o meu primo. Ele é médico. – sorriu de forma orgulhosa. Imaginei que fosse a pessoa com quem ele falava no telefone. Kun? – Mas os ferimentos não estão tão ruins, você vai ficar bem.

– Estou muito longe de Itaewon? – larguei a arma no mesmo lugar de antes. E não deixei passar quando o menor relaxou os músculos quando viu que confiava em si.

– Não. – ele deu um passo à frente e entrelaçou os dedos frente ao corpo. – Suas roupas estão limpas. Vista-se e venha tomar café, podemos conversar melhor na cozinha com você devidamente vestido.

– Eu ainda não sei o seu nome. – o assisti sair do quarto e me encarar uma última vez. Seus olhos focaram nos meus e por um momento, senti aquele incomodo no peito outra vez.

I'm not good for you [RENHYUCK]Where stories live. Discover now