1. O demônio dentro da igreja

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Foi em meio a uma cantoria hipócrita, de fé vazia, e sob as mais sagradas luzes, que eu o vi pela primeira vez. Era mais belo do que qualquer outro anjo que eu já houvesse ouvido falar, mas a sua existência por si só, parecia um pecado.

Me lembro perfeitamente do violento arrepio que percorreu meu corpo inteiro no mesmo segundo em que os olhos dele acabaram encontrando justo os meus, logo em meio há tantos.

Era um olhar inofensivamente feroz. Como uma besta, presa numa jaula. Também era tão infeliz, quanto tal crueldade.

E foi naquele exato segundo, que a tragédia me prendeu em suas cordas de martírio e desgraça, sem nem ao menos me dar a piedosa mínima chance de escapar. O veredito dado pelo juiz chamado vida e batido pelo martelo destino, foi o de eu ter meu coração estraçalhado.

Mas como eu, cego pela luz da mais brilhante estrela que já havia visto, poderia ter me dado conta de tal coisa? Seria o mesmo que pedir para um leão não se atirar a um sanguinolento pedaço de carne, apenas por fazer parte de uma cruel armadilha. Ele se atiraria de qualquer forma, porque "armadilha" não é uma concepção existente para ele.

Tampouco "dor" era uma concepção existente para mim, quando pensava em Taehyung.

Mas acho que estou me adiantando em minhas palavras... Sabe, os princípios nem sempre são importantes para histórias, muitas já começam no meio de algo, mas... quando a única coisa que lhe resta são memórias, acho que é um prazer viciante, passar por cada uma delas de novo e de novo, sem jamais se cansar. Acho que passei a viver mais em minha cabeça do que na realidade, nesses últimos tempos...

Mas novamente, estou me adiantando.

Quero falar sobre princípios, porque o fim já está próximo demais.

Após os olhos de Taehyung encontrarem os meus, na quinta-feira mais chuvosa que eu já havia visto na minha vida, acabamos entrando em um joguinho sem nem perceber: quem seria o primeiro a ter a ousadia de se aproximar do outro?

As missas para mim, começaram a se passar sob trocas de olhares subjetivos, onde as bordas da inocência e do pecado se encontravam e trocavam um singelo beijo. Era divertido, enervante e completamente assustador.

E o pior de tudo: viciante.

Essa foi a minha ruína. Me viciar em Taehyung, antes de sequer conhecê-lo. Bom, eu até conhecia, pelo o que as bocas alheias falavam, mas não conhecia de verdade.

Quando cheguei a realmente conhecê-lo, eu já estava preocupantemente viciado, quase como um verdadeiro doente, para poder me afastar. O que eu definitivamente acho que deveria ter feito.

Mas não se engane: mesmo achando isso, se eu tivesse a chance de voltar no tempo, não mudaria absolutamente nada. Bom, até mudaria. Uma única coisa. Mas não mudaria minha aproximação de Taehyung. Não mudaria um mínimo detalhe de tudo que tivemos.

Talvez eu seja meio masoquista ou apenas louco. Ou talvez os dois. Mas acho que isso são coisas que apenas quem tem a coragem de pular no precipício de se estar perdidamente apaixonado, conhece bem.

Acho que estou me enroscando em meus próprios pensamentos muito mais do que deveria... Mas creio que temos tal intimidade para isso, já que vais ter livre acesso às minhas mais preciosas e íntimas memórias, não é?

Bom... Voltando ao que eu estava dizendo... O joguinho entre mim e Taehyung perdurou por bastante tempo.

Mas após duas semanas, ele acabou perdendo.

Taehyung era ousado e não se importava com perigo ou regras. Eu ainda era persistente em seguir meu papel e tentar me encaixar na apertada caixinha em que queriam que eu coubesse.

Vólucre (Taekook)Onde histórias criam vida. Descubra agora