5. Entre euforias e singularidades

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Apesar de fervorosamente tentar me distrair, Taehyung não me impedia realmente de me aprofundar em sua alma.

Como se estivéssemos caindo em um precipício sem fim, e ele me dissesse que estávamos apenas voando.

Mas sabe... às vezes estar caindo nesse precipício não era inteiramente ruim... às vezes de fato voávamos...

Voávamos para bem longe do chão que guardava nossa tragédia, das mãos cheias de sangue e vermes que tentavam contaminar nossas almas e sentimentos.

Voávamos para um lugar seguro. Onde o tempo não parecia importar e nenhum outro problema parecia existir além do fato de nos amarmos demais. Mais do que amávamos a nós próprios.

Um lugar onde o ódio e a incompreensão eram os únicos pecados...

— Para onde você está me levando, Tae? — Pergunto aos risos, enquanto Taehyung cuidadosamente me conduz, com as mãos em meus ombros. Tudo o que enxergo é a escuridão, devido a estar vendado.

Sinto o cheiro de flores e ouço folhas secas e pequenos galhos quebrando sob meus pés.

— Para o meu coração. — Taehyung sussurra em meu ouvido.

— Para o seu coração? Como assim? — Franzo o cenho, continuando a rir.

— Você já vai ver.

— Você e os seus enigmas... — Balanço a cabeça negativamente.

Andamos mais um pouco, até Taehyung me fazer parar.

— É aqui, chegamos. — Ele anuncia. — Está preparado para ter acesso exclusivo e vitalício ao meu coração?

Balanço a cabeça positivamente, mesmo não entendendo por completo o que Taehyung quer dizer.

— Tem certeza? Depois que ter o meu coração em mãos, não vai poder devolver ele, hein.

Rio.

— Eu jamais faria isso. Sou meio possessivo, sabe, não gosto de compartilhar, nem de devolver nada.

Taehyung acaba por rir também.

— Está bem, então... — Começa a desamarrar a venda em meus olhos. — Espero que não se importe com as partes quebradas e bagunçadas desse humilde e artístico coração...

A venda cai dos meus olhos e eu enfim sou capaz de ver.

Sorrio, deslumbrado.

Estamos em uma floresta. Isso eu já havia percebido.

Mas em meio aos diversos tons de verde, se encontra uma casinha de madeira.

Ela não está em seu melhor estado. Provavelmente faz ao menos uma década desde que alguém morou nela. Mas ainda assim, é imensamente linda.

De uma forma que apenas o coração de Taehyung poderia ser.

Há pequenas rachaduras na madeira, e também percebo uma janela quebrada e duas ou três telhas faltando no telhado. Essa casinha já deve ter passado por um bocado de coisas... E no entanto aqui ela continua, em pé, independente de tudo.

Isso é muito corajoso de sua parte...

Tem diversos desenhos, pinturas pequenas, espalhadas de forma nada uniforme pela madeira envelhecida. Um urso polar em cima de uma das janelas, uma máscara digna de um baile dos tempos medievais logo ao lado da porta, um borrão abstrato de roxo perto de nada em específico... e outras diversas coisas, que tomam conta do exterior da casa, por todos os quatro lados.

Vólucre (Taekook)Where stories live. Discover now