Josh

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Ainda dentro do carro, ajeito a gola da camisa enquanto Lamar se aproxima da Espartacus.

Confiro a hora no meu relógio: faltam trinta minutos para a hora combinada com Samantha.Olho para a rua através dos vidros escuros, conferindo se ela está por perto, aguardando o horário de sua chegada. Sem localizá-la, penso que é melhor assim.

Não apenas resolvi a questão da liberação dos contêineres retidos na alfândega como também utilizei meu método nada sutil de convencimento para ensinar àquele funcionário de merda que nunca se deve chantagear um Beauchamp. Meu irmão ficará satisfeito com essa notícia, o que aliviará a acidez do seu humor.

Assim que ultrapasso as portas da Espartacus, sinto o sangue acelerar nas veias,impulsionado pelas batidas do meu coração. Any Gabrielly não apenas chegou antes do horário que determinei, como rebola sobre o palco, direcionando seu poder de sedução para meu irmão,que está sozinho no espaço reservado à família. Paro ao lado dele, que sequer nota minha presença. Também não faço questão de me fazer ser notado. A única coisa que consigo pensar é que Any Gabrielly será castigada por ter me desobedecido.

A morena não consegue disfarçar a tensão que toma seu corpo ao se deparar com minha imagem: o medo está implícito em seu olhar. Como que para fugir da realidade, ela fecha as pálpebras e permanece dessa forma por longos segundos enquanto seu corpo cheio de curvas continua a se movimentar no ritmo da música.

"I cheated myselfLike I knew I wouldI told you, I was troubleYou know that I'm no good"

Quando ela volta a abrir os olhos, nossos olhares se encontram. Eu estou fervendo de raiva daquela cigana sedutora e desobediente! Sinto o corpo reagindo, os músculos tensionados e duros. Misturada à raiva, a excitação. Meu corpo responde involuntariamente às curvas voluptuosas da morena. A pouca roupa incentiva minha imaginação, fértil por natureza.

A música chega ao fim. Olho para Vinnie, que continua encarando o palco. Meu irmão tem um gosto impecável; aprendi com ele a degustar tudo de bom que a vida – e o dinheiro – pode oferecer. Any Gabrielly, apesar de maltratada, é incrivelmente bela, e possui um sex appealinerente, liberado por seus poros junto com seu suor doce, e hipnotiza qualquer pessoa que pare para assisti-la dançar. Percebo que não devo me preocupar apenas em Vinnie não descobrir a história por trás da chegada da nova dançarina. Preciso torcer também para que ele não decida iniciá-la.

Apesar do meu pai ser o chefe da família, há um par de anos decidiu aproveitar a vida e não trabalhar tão pesado. Desde então, meu irmão mais velho se tornou o responsável pelos negócios – lícitos e ilícitos. Obviamente as opiniões de Vincent são respeitadas – o homem que construiu um império do nada jamais poderia se submeter integralmente a quem quer que fosse–, mas a decisão final, em noventa por cento dos casos, é de Vinnie. Logo, a preferência para iniciar a nova dançarina em nosso clube privado será dele, se assim desejar. Isso já me irritou algumas vezes. Também sou um Beauchamp e, por isso mesmo, também tenho pavio curto. Mas, se vier a acontecer essa noite, não sei se serei capaz de me subjugar. Eu preciso castigar Any Gabrielly, e precisa ser hoje.

— Consegui resolver o problema com a alfândega sem perder um centavo! — falo, animado, tirando Vinnie de seus devaneios e fazendo-o olhar para mim. Um vinco profundo surge na testa do meu irmão. Ele olha novamente para Any, e então de volta para mim.

— O que você fez?

— Ensinei para aquele imbecil que ninguém chantageia um Beauchamp.

— E a carga?

— Conferimos e despachamos para o destino final. Está tudo encaminhado, não há com que se preocupar.

A música está no fim. Vinnie olha para o palco. Any Gabrielly elabora os movimentos finais.

Abraçada a uma barra de metal, a mulher joga o corpo para trás, os cabelos cacheados e volumosos quase tocando o chão, a ponta do pé direito apontando para o teto. A música acaba, e ela deixa o palco, não sem antes lançar um último olhar em minha direção.

Vinnie caminha de volta ao reservado, e eu o acompanho. Sentamos no sofá e solicitamos que uma das atendentes traga bebidas.

— Como foram as coisas em Nova York? — ele pergunta, afrouxando o nó da gravata de seda.

— Muito bem. Nosso informante estava certo: quando cheguei, eles estavam tão bêbados comemorando a suposta vitória que não tiveram reação. Após receber o tratamento adequado, o chefe do bando não tardou a entregar o ouro.

— Ordenei uma investigação e descobri que esse traidor tem um irmão que trabalha para nossa família no sul do país. Quero que você vá até ele e recupere todo o valor que o maldito gastou com bebidas, drogas e putas às nossas custas. Depois, livre-se do infeliz.

Anoto mentalmente o compromisso. A bela atendente chega com as bebidas, portando um sorriso sedutor e um corpo envelopado por uma justa calça de couro. Vinnie sussurra algo no ouvido da ruiva, que alarga o sorriso e sai, apressada, a fim de atender a ordem do meu irmão.

— É bom saber que posso confiar um pouco mais em você a cada dia que passa, Josh.

Ele me encara, analisando meu movimento corporal, processando cada gesto e palavra com atenção, como faz desde que éramos meninos.

— Eu posso confiar em você... Não é? — pergunta.

— É claro que sim! Sou um Beauchamp! Família acima de tudo.

Ele continua me analisando por longos segundos até relaxar o corpo e sorver um longo gole de uísque, recostando no sofá. Imito o gesto, aliviado por ter passado pelo teste de sinceridade com louvor. Venho treinando desde que me conheço por gente.

A bela ruiva que trouxe as bebidas retorna acompanhada por Any Gabrielly. A morena tem o corpo ereto, nariz empinado e olhar sério. Diferentemente da forma acuada como entrou no Plaza ontem, Any se sente à vontade – está em seu habitat natural. Permanece com a roupa com a qual se apresentou minutos antes. Não consigo evitar que meus olhos percorram suas curvas, e sei que Vinnie está fazendo a mesma coisa.

As mulheres param em frente ao sofá onde estamos.

— Obrigado, Savannah — Vinnie fala. — Pode se retirar.

A ruiva obedece.

— Qual é seu nome? — ele pergunta para Any.

— Any Gabrielly. Any Gabrielly Soares.

Observo de soslaio meu irmão arquear as sobrancelhas. Suspendo a respiração. Porra, Any Gabrielly!

— Ora, ora... Nome e sobrenome, senhorita Soares?

Any umedece os lábios e mexe nos cachos castanhos.

— Sim, nome e sobrenome. Sou muito bem resolvida, Sr. Beauchamp. Vim para São Francisco determinada a trabalhar na melhor casa da cidade, para os homens mais poderosos da cidade. Não tenho nada a esconder de ninguém. Não me envergonho de minha decisão.

Bebo um gole de uísque para preencher o silêncio que toma o local enquanto meu irmão processa as palavras de Any.

— O que você acha de Any Gabrielly Soares, Josh?

— Ela é gostosa — encaro as pernas torneadas à minha frente. — É sedutora como Carmen, a cigana de Georges Bizet, e é destemida. Eu gosto disso. Gosto de domá-las, você sabe.

Any Gabrielly arregala ligeiramente os olhos e sua respiração acelera. Vinnie torna a analisá-la, em seguida voltando a me olhar.

— Você gostaria de iniciá-la? — ele pergunta.

Samantha conecta o olhar ao meu e para de respirar. Reflito propositadamente por alguns instantes, lançando no ar a sensação de expectativa.

— Talvez... Você está preparada para ser domada, Any Gabrielly?

Any arqueia uma sobrancelha.

— Nunca, Sr. Beauchamp — a voz dela é sedutora.

Vinnie e eu sorrimos numa sintonia perfeita. Any Gabrielly empina ainda mais o nariz, como um cavalo selvagem pressentindo que alguém pretende colocar-lhe rédeas.

— É o que veremos. — Fico de pé e começo a andar para fora da boate. — Venha comigo, Any Gabrielly. Venha desvendar o maravilhoso universo da submissão. Será um prazer indescritível ensiná-la a obedecer. 

ATF- Amuleto✓Where stories live. Discover now