Declínio Sombrio

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"Assim, o que vale a pena neste vale de lágrimas da morte chamado mundo é aprender a viver."

– Filosofia de Deuses e Demônios; p. 104.


Nunca achei que a minha aparência fosse grande coisa. Para ser sincero, nunca me importei de fato com esse tipo de coisa. Estar bonito ou não, agradável aos olhos de alguém. Aquilo não importava. Mas naquele momento, olhando o meu reflexo no espelho, estava começando a perceber certas coisas que me pareciam bastante desagradáveis e que me faziam sentir repulsa de mim mesmo.

O sangue nunca foi um problema, e naquele instante ele estava por toda parte. Na minha camisa que deveria ser branca, nos meus sapatos e no meu rosto. E ele não era meu. Aquele sangue pertenceu a alguma pessoa que uma vez já foi um pai, irmão e filho. Geralmente, era nesses momentos em que costumava me perguntar: O que foi que você fez, Donghyuck? O que foi que eu fiz para chegar até aqui?

A autodepreciação sempre foi um grande declínio sombrio na minha vida. Geralmente o buraco era tão profundo que chegava a passar dias sem me olhar no espelho. Momentos assim eram raros e surpreendentes. Então, divaguei o meu olhar pelo meu rosto. Quando era criança, sempre ouvia comentários sobre a tonalidade da minha pele – e as vezes, ainda ouço esses comentários –, o meu cabelo estava maior do que pensava, e eu não gostava da cor, tão escura quanto a noite. As argolas pratas e pequenas brilhavam sobre a luz pálida do banheiro. Na lateral do meu pescoço, a tatuagem descia até a curvatura e ia até o ombro, algumas pontas do desenho chegavam até o meu peito. Um sol. Quando era moleque, achava a coisa mais legal do mundo. Agora aquele maldito desenho parecia uma maldição.

Com um nó no estômago, abri a torneira e peguei a toalha de rosto branca que estava dobrada em cima da pia. A umedeci e, a contragosto, encarei o meu reflexo outra vez no grande espelho. Quanto mais tentava limpar os rastros de sangue, mais pareciam se espalhar. Vi que minhas mãos também estavam sujas e sabia que deveria ter vestígios de sangue seco em baixo das unhas e entre as digitais. Elas sempre estavam sujas e, provavelmente, nunca deixariam de estar.

Aquela toalha era inútil, e já estava cansado de ficar parado na frente daquele espelho. Tirei as roupas do corpo e segui até o chuveiro. Ao redor dos meus pés, uma poça de água vermelha corria até o ralo. A água estava quente e o sabonete era de lavanda, odiava aquele cheiro, mas mesmo assim me lavei. Quando sai do banheiro e segui até o quarto, sem roupas no corpo e molhando todo o piso, meu celular em cima da cama vibrou. A minha única vontade era ignorar o aparelho, mas aquilo não seria possível. O peguei e li todas as mensagens, suspirando ao ler a última que foi recebida.

"Estamos te esperando aqui em baixo, chefinho 😊"

...❂...


– Como eu estou? – a pergunta foi direcionada a mim. Swan usava um chapéu de praia exageradamente grande, ela movia o corpo de um lado para o outro aguardando a minha resposta.

Aquela noite em Seul estava fria. A chuva tinha dado uma trégua e a minha única preocupação era esperar Mark e impedir que os garotos destruíssem o pequeno bazar do qual fizemos como ponto de encontro. Mas era óbvio que não estava disposto a fazer nenhuma das duas coisas. Mark estava sempre atrasado e aqueles pirralhos eram incansáveis. Eu só queria poder voltar para casa e dormir durante dois dias seguidos.

– Não gosto muito de verde. – comentei, direcionando a minha atenção para o outro lado da rua.

– É. – Swan tirou o chapéu e o devolveu para o cabideiro da loja. – Nem eu.

– E eu, chefe? – Yangyang apareceu na minha frente como uma raposa ágil. Ele usava óculos preto que tinha um nariz e um bigode falso. – Como estou?

I'm not good for you [RENHYUCK]Where stories live. Discover now