3 ◦ Eu, penetra

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Eu devolvi o baixo e saí andando até o recinto adjacente, junto com os demais competidores, comportando-me roboticamente para não deixar transparecer o fato de que o meu coração praticamente saltava de minha boca.

"Porra, eu acabei de tocar com o Arrebol. E nós tocamos uma música feita por mim!", senti os meus neurônios queimando e soltando faíscas. Eu estava eletrizado e queria sorrir igual a um idiota.

Contive a minha vontade de pular e me movi até um assento vago na sala de espera para aguardar pelo resultado da competição. Passei as mãos nervosas pelo rosto e usei a língua para brincar com o piercing em meu lábio inferior, num tique de ansiedade incontrolável. Nestes entrementes, reparei que a minha figura havia se tornado o centro das atenções mais uma vez, com vários olhares pairando em cima de mim. Pela maneira como alguns pareciam acusativos, logo concluí que dessa vez a culpa não era das roupas estranhas que eu usava, mas sim da minha aparição repentina no último dia da competição.

É claro que aquela galera iria se sentir injustiçada com a minha presença ali. Eu conseguia entendê-los.

Para escapar do clima pesado, decidi me refugiar em outro canto.

Seguindo uma placa pendurada no teto, atravessei um corredor em busca do banheiro masculino mais próximo. Chegando lá, tranquei-me num box e respirei fundo.

ㅡ Ah... queria poder postar um tweet sobre o meu desespero ㅡ murmurei, sentando na privada e encolhendo-me.

Um grande ponto negativo dos anos oitenta definitivamente girava em torno da inexistência de celulares. Eu não era do tipo viciado em redes sociais, e geralmente só as usava para lidar com questões universitárias e divulgar os locais dos próximos bares em que eu iria tocar; porém, naquele momento, enfurnado num box fedido e me sentindo levemente culpado por estar tentando roubar o lugar de outra pessoa numa competição, e em completo júbilo por ter tocado com o Arrebol, um videozinho no YouTube seria muito bem-vindo para distrair.

Resignado, olhei na direção do teto e calculei quanto tempo a banda e a equipe da Doors levariam até a divulgação dos resultados.

"Eu gostaria de saber o que eles estão decidindo...", pensei, suspirando fundo.

ㅡ Espera aí! ㅡ Saltei da privada, bati na minha testa e dei uma risada. ㅡ Que idiota, Jimin! Acontece que eu posso saber o que eles estão decidindo! Aaah! ㅡ Esfreguei as mãos e umedeci os lábios com a língua. ㅡ É hora de morfar com a minha skin de mariposa.

Fechei os olhos e mentalizei tudo o que aprendi com o meu guia espiritual. Um instante depois, voltei ao mundo dos insetos, todo avermelhado e do tamanho de um dedo indicador.

Sentindo-me num filme, planei por cima do box e atravessei as passagens de ar. Voltei à sala de espera e, jorrando mentalmente uma gargalhada vitoriosa, passei pelos seguranças para retornar ao salão da competição, onde ocorria a discussão para decidir o vencedor da 5º Chama.

Lá, pousei desengonçadamente no alto da parede logo atrás do palco, bem próxima à mesa da reunião. Em minha quietude de inseto, observei o desenrolar da situação.

Namjoon e Hoseok estavam sentados perto do empresário, Yoongi Min, e discutiam com a representante da Doors. Taehyung tinha se levantado para encher um copo com água e agora retornava para o seu assento ao lado do líder da banda. Jungkook jazia semi-deitado numa poltrona à distância, cutucando o esmalte preto lascado das unhas sem dar atenção à conversa que acontecia.

ㅡ Félix Santana. Ele tem presença, é a cara da Doors! ㅡ disse Cassandra Moura, jogando sobre a mesa a ficha do último concorrente que performou antes de mim. ㅡ E ainda é asiático, como vocês. Combina!

ARREBOL • JiKookWhere stories live. Discover now