04. Run away

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23 de Fevereiro de 1980

Música se tornara para Eddie tão importante quanto o ar que respirava.

Desde o dia que seu tio o presenteou com um walkman e apresentou várias fitas de bandas de rock, a música tem sido sua válvula de escape. Sua forma de fugir dos problemas e da realidade, dos seus pesadelos.

E aprender a fazer música parecia tão incrível quanto ouvir.

Os dedos magros deslizavam pela guitarra, fazendo cada acorde com grande concentração, como seu tio o ensinou. Não estava exatamente perfeito, ainda havia muito o que melhorar, mas para Eddie e sua família isso não importava. Ali naquele palco, ele estava perfeito.

O som dos aplausos de vários pais, alunos e professores veio assim que terminou a apresentação, junto a um grande e sincero sorriso alegre.

Ele conseguiu ver sua mãe ali, bem perto, na primeira fileira. Ela aplaudia e sorria orgulhosa, segurando uma filmadora embaixo do braço, com aquele seu vestido preto e a jaqueta jeans, os ondulados cabelos escuros presos num alto rabo de cavalo e a franja ondulada caindo sobre a testa.

Sua mãe era linda. Linda e perfeita. Mais perfeita que qualquer outra das dezenas de mães na plateia.

Eddie sentiu-se bem em ver aquele sorriso orgulhoso. Ele queria orgulhar a mãe. Deixar ela feliz e orgulhosa como uma forma de agradecer por tudo que ela fazia por ele.

Ele fez uma reverência e saiu do palco, feliz e satisfeito, saindo para os bastidores, onde outros alunos aguardavam sua vez de se apresentar ou apenas estavam ali para apoiar os amigos, pois já haviam tido sua vez.

O Show de Talentos do fundamental era mais agitado do que muitos esperavam. Vários alunos de variadas séries estavam ali. Alguns eram colegas de turma de Eddie, outros de turmas mais baixas.

E ali estava ele. Com o seu cabelo perfeito de sempre. O sorriso brilhante que derretia corações.

Mais corações do que o próprio Steve Harrington poderia imaginar.

— Guitarra maneira — disse ele.

— O-obrigado… — Eddie agradeceu e sorriu tímido, abraçando a grande guitarra.

— Maneira demais, né Steve? — outro garoto se aproximou, ficando ao lado de Harrington. — Demais para você, Munson. Onde alguém como você conseguiu dinheiro para uma Warlock?

— Presente.

— Oh! E quem seria tão generoso? — outro dos amigos de Harrington indagou.

Eddie não respondeu. Apertou a guitarra contra o corpo, os dedos firmes sentindo as cordas contra a pele.

— Não adianta perguntar. Ele nunca fala, não é? — um garoto riu. — Quase não conhecemos a voz dele.

Steve acompanhou a risada dos amigos.

Eddie desviou o olhar. Ele virou-se para ir embora, mas alguém colocou o pé na sua frente. Tropeçou e caiu no chão, logo ouvindo risadas ao seu redor.

Sentou-se no chão, abraçando sua guitarra com ainda mais força, mas não disse uma única palavra. Não se levantou ou fez qualquer movimento, apenas olhou para os garotos que continuavam a rir.

Esconder. Esconder. Ele precisava se esconder.

— Não vai dizer nada, Munson?

— Acho que o estranho Edward ainda não sabe falar.

— Eddie — disse por fim.

— O que disse?

— Eddie — ele repetiu. — Edward, não.

Upside Down Love | SteddieOnde as histórias ganham vida. Descobre agora