00. Prologue

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Eddie Munson nem sempre foi o exemplo de pessoa sociável. Na verdade, com seus 13 anos, o único filho de Alice Munson era bastante tímido, embora bastante gentil e amigável com quem viesse conversar consigo. Talvez um pouco atrapalhado também.

Gostava de ficar em seu quarto, entretido com um cubo mágico e seus fones nos ouvidos. Tanto o walkman quanto as fitas de músicas eram presentes de seu tio para distraí-lo, além do cubo colorido que girava entre os dedos, buscando trazer de volta a uniformidade das cores de seus lados. Sempre ia até a mãe mostrar orgulhosamente quando conseguia organizar todas as cores e receber um grande sorriso por seu feito, para então pedir que bagunçasse a ordem para ele tentar novamente.

Eddie gostava de música. Era legal de se ouvir. Muito melhor que os gritos de sua mãe e do noivo dela toda vez que discutiam. Muito bom para tirar sua mente de pesadelos.

Seu tio quem o apresentou a maravilha que era a música. Lembrava-se perfeitamente. Ele estava no trailer dele, no quarto, encolhido na cama com as mãos nos ouvidos enquanto sua mãe e o noivo gritavam um com o outro na sala de estar. Não era raro que brigassem, principalmente sendo ele o assunto da discussão.

Eddie era o assunto de muitas das discussões, como a daquele dia. Detestava ouvir eles brigarem.

— POR QUE NÃO LARGA ESSA COISA COM SEU IRMÃO DE UMA VEZ? — seu padrasto gritava.

— É O MEU FILHO! — sua mãe respondia.

Os olhinhos estavam marejados, e ele apertava fortemente as mãos contra os ouvidos, apenas aguardando que parassem. As luzes do cômodo piscavam. Seu tio sempre dizia que fiação do trailer era uma merda.

Sua mãe o repreendia quando ele falava palavrões na sua frente. O que, de certo modo, era uma grande hipocrisia, considerando o quanto ela xingava diariamente.

Eddie lembrava de ver seu tio entrar no quarto e sorrir amigável e reconfortante. O homem mostrou a ele um walkman e uma caixa com várias fitas de bandas de rock, apresentando o nome de cada uma delas.

— Não consigo fazer eles diminuírem o tom, mas podemos abafar o som com algo muito mais agradável aos ouvidos — ele disse, colocando uma fita no walkman e os fones no garoto.

Quando a música iniciou de repente, Eddie pulou de susto. Seu tio riu.

— Pode ficar para você. É um presente.

— Presente?

— Sim, um presente — confirmou, sorrindo mais um vez e tocando carinhosamente a cabeça do garoto. — Cuide bem disso, okay? Quem sabe um dia eu te ensine a tocar algumas dessas músicas.

Eddie exibiu um fraco sorriso.

Ele foi deixado no cômodo com o walkman e todas as fitas, as quais ouviu uma por uma. Houve uma fita em especial que ele deixou tocar várias vezes, pois gostara muito do som que vinha dela. E ouvindo repetidamente a fatídica música, ficou quieto na cama, abraçando suas pernas e olhando fixamente para as luzes.

No dia seguinte, na viagem para a cidade vizinha, ele seguiu ouvindo a música, deitado no banco traseiro do carro. Quando ele retornou permanentemente para Hawkins pouco tempo depois também. Em seu primeiro dia na escola. No dia do enterro de sua mãe.

Sempre que ele tinha um pesadelo — o que acontecia com certa frequência —, pegava sua fita favorita e escutava para se acalmar.

E foi sentado num banco do pátio da escola, com a música ecoando em seus ouvidos, em sua primeira semana, no ensino fundamental, que Eddie viu pela primeira vez o garoto de roupas engomadas e penteado perfeito. Rodeado de amigos e com sorriso brilhante.

Steve Harrington.

— Esse garoto novo, Munson… É estranho — um dos amigos de Steve comentou ao lado dele, olhando de soslaio na direção do garoto.

Os olhos de Harrington encontraram os de Munson por alguns instantes, mas não permaneceram muito por ali. Não deu tanta importância ao novato que grande parte já sabia residir no simples bairro de trailers próximo a floresta.

Estranho era definitivamente o adjetivo que Eddie mais ouviria em sua vida, além de muitos outros extremamente estereotipados e pejorativos a medida que encontrava seu estilo em meio a todos naquela pacata cidade. Mas em dado momento, ele deixou de se importar com isso.

Muito diferente de Steve. O garoto popular e perfeito, que morava num dos bairros classe alta de Hawkins, filho de um grande empresário e amigo de outros tão ricos quanto ele, mas mil vezes mais mesquinhos e metidos, o que influenciava sua fama e reputação. Aquele que era a paixão de todas as meninas desde criança.

Eddie com o passar do tempo fez amigos com quem sempre conversava, mas Steve Harrington não era um deles.

Ele certamente não era o tipo de pessoa que se aproximaria de Munson, a menos que as circunstâncias o obrigassem a isso. E foi exatamente o que houve.

Se conheciam pelos corredores, mas certamente não conversavam. Sequer eram da mesma sala, já que Eddie era um ano mais velho. Isso até ele reprovar em seu último ano do Ensino Médio, o que fez eles serem da mesma turma no ano letivo seguinte.

E para a infelicidade de Eddie, ele tornou a reprovar, enquanto Harrington se formava. O que foi um grande tema para provocações.

— Verdade que irá cursar o terceiro ano pela terceira vez, Munson? Olha, espero que seja a vez da sorte! — Steve riu, apoiado sobre o balcão vermelho, vestido num uniforme de marinheiro azul e branco com laço vermelho no pescoço.

— Pelo menos não estou usando um uniforme de marinheiro ridículo porque não passei na faculdade e o papai não quis continuar me sustentando — rebateu.

Estavam na Scoops Ahoy, sorveteria do shopping Starcourt, onde Harrington arranjou um emprego no verão de 1985 após ser rejeitado por todas as faculdades em que tentou ingressar.

Rejeitado pelas faculdades e pela namorada, Nancy Wheeler. Agora, ex-namorada, e atual do garoto que os amigos de Harrington sempre implicavam.

Ele viu de longe o dia que Steve quebrou de propósito a câmera do garoto que futuramente ficaria com a sua namorada.

Eddie sentia certa satisfação nisso. Chamaria de karma, talvez. Os amiguinhos de Steve sempre zoavam ele por ser repetente e, pelo que sabiam, nunca namorar.

Ele já namorou, é claro. Apenas não espalhava aos quatro ventos.

— Pelo menos eu tenho um emprego e já terminei o Ensino Médio. Deveria se esforçar nas aulas tanto quanto com a sua guitarra e sua banda de garagem.

— O atendimento ao cliente aqui é invejável. Acho que vou até elogiar ao gerente — disse sarcástico e rapidamente fechou a cara. — Que tal me dar logo a porra do meu sorvete?

— Steve, dá logo a porcaria do sorvete! — a colega de trabalho de Steve, Robin, disse, abrindo a janela da sala dos funcionários e colocando a cabeça pra fora. — Não quero ser demitida por sua culpa.

Steve bufou, indo atender o pedido.

Eddie jogou o dinheiro brutalmente sobre o balcão, olhando seriamente para Harrington antes de seguir para uma das mesas do local. Cerrou os punhos, respirando fundo.

Adoraria socar aquele sorriso irônico de Harrington. Ele não falaria tanta besteira se soubesse metade dos motivos que faziam Munson se desconcentrar dos estudos e causaram sua reprovação.

Steve não fazia a menor ideia de que por trás do sarcasmo e do sorriso que Eddie exibia junto a uma personalidade alegre e confiante, existia um garoto inseguro e assustador com muitos problemas e assombrações.

Nem sempre conhecemos de verdade o que há por trás do que as pessoas mostram superficialmente.

E mais uma vez, enquanto Steve trocava de lugar com Robin, Eddie pegou seu walkman e colocou sua fita favorita enquanto saboreava um sorvete e tentava não pensar na noite péssima que teve.

Ninguém via, mas aquele garoto de fones saboreando um sorvete estava destruído.

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