Upside Down Love | Steddie

01. The lucky bracelet

1986 era o ano de Eddie Munson.

Com seu aniversário e o recesso de primavera chegando, o fim do ano letivo e as férias de verão se aproximavam, seguidos da liberdade do covil infernal conhecido como Ensino Médio, no qual estava preso no último ano há três longos anos letivos.

Sua fama de repetente era vagamente conhecida entre os alunos do Colégio Hawkins que sabiam de sua existência, e ele estava decidido a acabar com ela. Não se permitiria reprovar novamente e repetir de ano mais uma vez. Não, Eddie não iria.

Nada poderia ficar no seu caminho. Absolutamente nada.

Nem o término com o namorado que foi um verdadeiro babaca consigo. Nem as dificuldades financeiras de sua família que o levavam a vender drogas para conseguir dinheiro. Nem as noites mal dormidas dos últimos anos, causadas por inúmeros pesadelos. Nada.

Eddie vivia cada dia como se fosse o melhor de todos, algo histórico. Ele queria guardar as melhores memórias possíveis antes de se formar e seguir a vida. Ainda existia ali o jovem garoto tímido e gentil que chegou acanhado ao Colégio Hawkins aos 13 anos, mas isso não o impedia de viver alegremente, como ele bem quisesse.

Era sua forma de tentar escapar um pouco dos problemas. Agir por alguns momentos como se eles não existissem. E também, a melhor maneira de esconder todo o medo e ruínas que existiam dentro dele.

Ninguém além dele mesmo conhecia sua dor, e as outras pessoas não precisavam saber. Isso é o que sua mãe dizia.

Ela nunca era invasiva demais sobre o que deixava Eddie mal, apenas estava lá por ele para ajudar quando fosse preciso.

Ah, ele sentia tanta falta de conversar com ela…

Eddie dedilhava sua guitarra com emoção, deixando-se levar pelo som produzindo, o qual junto aos demais instrumentos criava uma bela e agitada melodia. A música ecoava pela garagem junto a sua voz, transbordando todos os sentimentos que queria expressar.

Ouviu os aplausos dos colegas de banda ao fim e uniu-se a eles, todos gritando animados por mais um som bem executado.

— E acabamos por hoje — Eddie disse, bebendo o último gole restante de sua garrafa de cerveja e largando-a junto às várias outras que seus amigos beberam.

Ele guardou sua guitarra e passou a alça da capa onde a guardava por seu corpo, pronto para ir.

— Não quer ficar e beber com a gente, Eddie?

— Hoje eu quero apenas afundar no meu sofá com minha televisão até a hora de ir para a escola amanhã de manhã.

Esse era realmente o seu plano. Apenas descansar com um bom filme e comidas industrializadas que o matariam em alguns anos, sozinho no trailer enquanto seu tio trabalhava no turno da noite.

Até um tempo atrás esses planos envolveriam uma companhia, mas agora ele não desejava tal acompanhante nem que fosse o próprio Rei Midas e transformasse tudo em ouro.

Não. Não queria continuar a se assemelhar a bela estampa em sua camisa do clube de D&D. Ele realmente não era tão "vivido" como muitos pensavam e, na verdade, era alguém bastante sensível, mas não era tolo e ninguém o faria de idiota.

Ele correu a toda velocidade pelas vias de Hawkins com sua moto, até chegar à locadora. O local já era bastante conhecido por ele, pois além de um grande amante de música, Eddie também amava filmes. Qualquer coisa que distraia sua mente era bem vinda a sua lista de gostos e hobbies, e as fitas, musicais e cinematográficas, estavam no topo como grandes vícios desde a infância.

Não se lembrava de muitas coisas da infância, apenas de algumas… Algumas bem ruins. Gostava mais de pensar na parte boa: ver filmes e ouvir música durante boa parte do dia antes de decidirem colocá-lo na escola de Hawkins. Sabia que isso sempre fora um grande conforto quando precisava.
Era reconfortante pensar no garotinho de 13 anos sentado em frente a televisão velha e minúscula no trailer, assistindo a um filme abraçando as próprias pernas encolhido no chão enquanto esperava seu tio e sua mãe retornarem do trabalho com uma nova fita para o dia seguinte.