The H Squad

3765

Xichen não estava dizendo nada e a cada segundo que o ponteiro do relógio marcava sonoramente, os agentes sentiam-se mais próximos de alcançar a insanidade.

— Olha, eu já entendi. Foi errado, precisamos mesmo disso? — Mingjue bufou e o Lan mais velho encarou-o sem mudar de expressão, era impressionante como ele se parecia ainda mais com o irmão quando simulava sua ausência de reações.

— 3765. — Lan Xichen finalmente disse algo e a expressão confusa do amigo foi o suficiente para que ele sentisse sua deixa para prosseguir. — O número total de pessoas salvas por esse time no tempo em que eles estiveram aqui. Eu quero saber, que tipo de líder vocês acham que me tornei, porque quando eu trago vocês de volta ao país e digo que são as únicas pessoas que confio para ajudar esse time, tudo o que vocês me devolvem é desconfiança.

— Irmão... — Lan Wangji arregalou um pouco os olhos e Xichen ergueu a mão para que ele fizesse silêncio.

— Eu demorei muito tempo para saber sobre a existência deles. Estavam aqui por um ano antes de eu assumir a cadeira e vocês não tem ideia do que eles passaram nas mãos dessa organização. — O Lan mais velho ligou o projetor da sala e iniciou uma apresentação de fotos, fotos de coisas que a princípio os agentes não souberam do que se tratavam. — Eles só tomavam banhos gelados com máquinas de pressão, dormiam acorrentados e molhados dos pés à cabeça. Queimaram códigos neles como fazendeiros marcam seus animais.— A ouvir tom sentido que a voz deixava a garganta de Xichen, os agentes preferiam que ele gritasse, algo que o Lan jamais havia feito.  — Demorei dois meses para conseguir uma palavra de qualquer um deles e mais ainda para que eles não tivessem medo de mim. Eu construí essa confiança e eles nunca, nem mesmo uma vez me desrespeitaram.

Xichen manteve o projetor ligado, as fotos explícitamente pintando a imagem semi nua de cada um dos demônios severamente desnutridos. Nie Mingjue sentiu que poderia chorar.

— Então imaginem quando fui confrontado com condições para que eles não fossem tratados como animais? Pensei em simplesmente deixá-los fugir, mas eu sabia que se isso acontecesse e os pegassem outra vez, eu não poderia fazer absolutamente nada. Querem saber quantas reclamações eu ouvi quando eu expliquei que eles precisariam fazer o pior trabalho que qualquer ser vivo poderia imaginar? Nem mesmo um questionamento. Uma condição.

Xichen deslizou um papel para o meio da mesa, rabiscado com algumas letras trêmulas.

— Mo Xuanyu me deu isso um dia, duas semanas depois da primeira missão quando libertaram 250 crianças de um esquema internacional de tráfico. Tudo que ele queria era um cobertor mais quente e pra quem era chamado de monstro a todo momento, a forma que as mãos dele tremeram quando me deu esse papel me fez sentir como se nós fossemos mais dignos desse título. —Se Song Zichen derramou uma lágrima ele morreria dizendo que jamais aconteceu. — Se não vão confiar nos seus companheiros de equipe que nunca fizeram nada para merecer desconfiança além de não serem humanos, deveriam ao menos confiar em mim, o dono dessa organização e o chefe de vocês. Se houver mais uma situação como essa, vou desmontar a equipe e vocês podem retomar seus postos no país onde estavam.

Lan Xichen não desligou o projetor quando deixou a sala e nenhum dos restantes conseguiu resistir ao impulso de passar pelas diversas imagens e vídeos de algo que não poderiam descrever como nada menor que criminoso.

                           —X—

Xiao Xingchen era responsável por um dos poucos momentos em que cada um dos demônios sentia paz absoluta. Toda vez que houvesse oportunidade e conforto, o Xiao sentaria e tomaria seu tempo penteando e estilizando os cabelos de todos os irmãos.