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23 de março,
1986.
will byers.

Passamos a noite na estrada com um corpo morto e muito sangue na vã. O silêncio preenchia, depois das inúmeras perguntas de Argyle quando decidimos contar tudo para ele. Ele surtou 10 vezes mais que o Henry.

Aliás, o mesmo estava estranho. Parecia pacífico com tudo que tinha acontecido, e mantinha os olhos bem abertos, sem nenhum sinal de cansaço.

Já era de dia, e estavamos numa espécie de ferro velho. Jonathan disse que ali seria um bom lugar para se esconder, e enterrar o corpo. E é o que estamos fazendo agora enquanto escutamos Argyle andar de um lado para o outro, falando coisas sem sentido.

— Argyle! Nós vamos resolver, ta bom? Só precisamos... abrir a mente. - Meu irmão tentou cala-lo.

— Abrir a mente?! Tem um cova aberta na minha frente! - Ele gritou.

— Cara! Me escuta, - Jonathan se aproximou do amigo e segurou seus ombros. — Relaxa, ta bom? Relaxa! Vai la na vã e.. dá um tapinha.

— Um tapa na pantera? - Disse, agora mais calmo.

— É!

— A onda passou.

— É, a onda passou.

— Eu tô emotivo.

— É, tá emotivo.

— Foi mal. - E com isso, Argyle saiu caminhando até a vã.

— Jonathan, - Eu o chamei. — Mais maconha? Será que é uma boa ideia agora?

— Você tem uma ideia melhor pra ele se acalmar? - Ele rebateu e pegou a pá novamente. — Vamos terminar isso.

Nós quatro continuamos com a areia. Muitas vezes eu observava o Henry, pensando em como ele estava quieto e em sua calmaria com tudo. Será que ele está bem?

Depois que acabamos de enterrar o corpo, eu e Henry estavamos sentados no teto de um carro velho. E este era o momento perfeito para perguntar o que estava de errado.

— Ei. - Ele direcionou o olhar a mim. — Você está bem? Parece tão.. calmo com tudo.

— Eu estou. É só que.. - Fez uma pausa e olhou para o chão, mas depois voltou a me fitar, como se estivesse tomado coragem. — Você já sentiu como se... como se soubesse que algo ia acontecer?

Fiquei alguns segundos em silêncio pensando na pergunta. Do que ele estava falando?

— O que? O que você sabia que ia acontecer?

— Will, eu sabia que aquele homem ia morrer. Quando ele me levou pra casa, logo que ele entrou no carro me deu uma falta de ar, eu não conseguia manter os olhos abertos e quando fechava-os, conseguia ver o momento exato em que ele tomava aquele tiro. - Seus olhos começaram a lacrimejar, como se revivesse aquilo. — Não consegui parar de pensar nisso desde então. Você deve achar que eu sou um louco. - Limpou os olhos e desviou o olhar do meu.

— O que? Eu não te acho um louco! - Tomei coragem e segurei uma de suas mãos. — Henry isso... isso é muito sério. Você já teve algo parecido antes? - Eu sentia sua mão tremer, e a apertava tentando lhe passar segurança.

— Já. Mas foi há muito tempo atrás. Só que, tive sintomas diferentes e não vi ninguém morrer. - Respirou fundo. — Poder te contar foi um alívio. Obrigado por acreditar em mim, Will.

— Você pode contar comigo sempre, ouviu? - Eu sorri. — ... As vezes, eu acho que dá medo de se abrir desse jeito. - Comecei a falar depois de um tempo, e ele me olhava atentamente. — Dizer o que está sentindo. Ainda mais, pras pessoas que são importantes pra você. E se... se elas não gostarem da verdade..?

— Muitas vezes a verdade não pode ser escondida pra sempre, não é? Eu tentei esconder a minha, mas de algum jeito, ela veio a tona. O que causou muitos desentendimentos, e que duram até hoje. - Sua voz continha muito sofrimento por trás de tudo, e eu concordei com a cabeça.

— Ei! Alguém sabe o nome do cara que morreu? - Escutamos a voz de Argyle.

— O que? - Jonathan foi quem perguntou.

— Tô fazendo uma lápide pra ele. - Mostrou a caixa de pizza cortada.

— Você percebeu que a gente passou a manhã toda escondendo o corpo?

— Eu acho que vou escrever "Aqui Jaz Senhor Agente Herói Desconhecido. Salvou Argyle, Jonathan, Will, Henry e Mike da morte certa".

— Você vai escrever nossos nomes nessa caixa de pizza ai?

— São nomes bem comuns. - Deu de ombros.

— Ta cara, faz o que você quiser. - Jonathan desistiu.

Vimos quando Mike foi até Argyle e pegou a caneta de sua mão, começando a mexer nela. Nos olhamos e fomos correndo até lá.

E wow, tinha um papelzinho com números na caneta.



Resumindo, tentamos ligar para o número, não funcionou. O número parecia estar conectado com um computador, algo assim. E para descobrir o que era isso, precisaríamos de uma hacker. E neste momento, estamos descendo da vã em frente a casa da Suzie. (Sim, "turn around, look at you see" eu fiz essa piada.)

Quando Mike bateu na porta, fomos recebidos por um garotinho com um arco e flecha de brinquedo.

— Oi, a Suzie tá aí? - Mike se arriscou a perguntar.

Mas a única coisa que recebeu, foi uma flechada bem no meio da testa, o que arrancou muitas risadas de Henry.

Decidimos entrar, e á cada cômodo que passávamos, tinha crianças gritando e brincando.

— E essa penca de filhos? Eles são eram religiosos? - Henry sussurrou.

— Acho que eles não tem televisão em casa, brother. Sabe como é. - Argyle sussurrou de volta.

Achamos uma pessoa que aparentava ser da nossa idade, mas ela nem ligou para nossa presença. Nos aproximamos dela, pois era nossa única chance de achar a Suzie.

— Quem são vocês? - Ela finalmente nos viu.

— Argyle. - Ele deu uma risadinha. — E você é?

— Éden.

— Igual o jardim...

— A gente ta procurando a Suzie. - Jonathan interrompeu.

— Terceiro andar, segunda porta á esquerda. - Nos apressamos para ir às escadas. — E se acharem ela, dêem um empurrão naquela egoísta quatro olhos!,

Entramos no quarto, que estava vazio, por sinal.

— Ah que legal, ela não tá aqui. - Jonathan reclamou.

— Não é pra empurrar..? - Mike disse e correu para a janela aberta. E achamos ela pendurada no telhado. — Suzie!

— Eu? - Se virou. — Quem são vocês? E o que estão fazendo no meu quarto?

— Nós somos amigos do Dustin! - Me apressei em explicar.

Contamos uma história idiota sobre o número ser um código secreto para conseguir um vídeo game de aniversário para o Dustin, e funcionou. Mas descobrimos que o computador de Suzie havia sido confiscado e sido trancado.

Então, com ajuda, elaboramos um plano de desligar a energia e fazer o pai de Suzie sair do escritório para ligar. E assim, teríamos tempo de entrar e ter acesso ao computador enquanto as crianças faziam armadilhas para o mais velho.

Quando conseguimos a informação que queríamos saímos da casa agradecendo a Suzie, mas quando fomos chegando perto da vã, estava tomada por fumaça.

E então, abrimos a porta de trás, e lá estavam Argyle e Éden dando "um tapa na pantera".

𝐦𝐚𝐠𝐞 𝐨𝐟 𝐦𝐲 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 , will byers.Where stories live. Discover now