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23 de março,
1986.
will byers.

Já era outro dia de manhã, estávamos presos dentro de casa, com dois agentes mofando em nosso sofá, e Mike não parava de encarar a carta que ganhou da El. Aquilo estava me dando nos nervos.

— Ficar encarando a carta não vai mudar nada, sabia?

— É, é... verdade. - Ele finalmente jogou o papel no lixo.

Suspirei e me sentei ao seu lado na cama, e ele começou a contar que haviam brigado antes de El ir embora. Eu tentei consola-lo, mas não sei se ajudei com algo, já que definitivamente não tenho experiências com brigas de namoro.

— Bom, parece que vai sobrar pra gente salvar Hawkins de novo. - Mike disse com desânimo.

— É sempre assim, né. - Eu disse, arrancando uma risada fraca dele.

— Por isso não dá pra ficar aqui. - Jonathan apareceu de repente na porta do quarto, entrando e puxando a cadeira da escrivaninha. — Olha só, vamos supor que os amigos do Owens estejam falando a verdade. Não dá pra ligar pra Hawkins sem alertar os militares e colocar a El em perigo, então a gente vai ter que ir até eles.

— Ir pra Hawkins?

— Como?

— Tão com medo de que? Dos dois rosquinhas ali? - Ele disse com humor na voz. — Eles tão quase dormindo vendo golf.

— Não, Jonathan. A gente não tem carro, dinheiro...

— A gente arranja uma carona. — Ele levantou o papelzinho da Pizzaria Surfer Boy, onde Argyle trabalha.

Ok, isso foi inteligente.

Jonathan nos instruiu a descer pros agentes, e dizer que estávamos com fome. E foi o que eu e Mike fizemos.

— Senhor? Com licença, senhor! - Mike os chamou, mas os dois visivelmente ignoraram. — Com licença! - Ele disse mais alto e eles nós olharam.

— Nós estamos com fome. - Eu os mostrei o papelzinho.

Parece que funcionou, eles ligaram para pizzaria mas pelo visto, não tinham paciência para aguentar o falatório do Argyle. Então, Jonathan se ofereceu para ligar, e os agentes deram de ombros e entregaram o telefone, mas disseram que era pra fazer o pedido na frente deles.

Meu irmão discou o número no telefone, e esperou para ser atendido.

— Oi! Eai! Então, eu vou querer duas pizzas grandes de... calabresa. E se vocês puderem vir bem rápido, eu agradeceria muito! Estamos com muita fome. - Dizia tudo com uma voz monótona, provavelmente Argyle estava fazendo muitas perguntas. Os agentes não notaram quando Jonathan tossiu falso e falou "Henry" no meio. — Isso! Pode trazer... as pizzas! Certinho? Brigadão! Até.

Corremos para os quartos, começando a arrumar nossas "malas". Nem sabíamos direito o que colocar nelas, na verdade.

— Já arrumou a mala? - Eu perguntei quando Mike entrou no meu quarto, com sua bolsa já fechada.

— É, eu nem cheguei a desfazer. - Ele se sentou na cama. — Valeu, aliás. - Disse de repente.

— Pelo que?

— Por colocar juízo na minha cabeça. Eu tava sendo um idiota reclamão.

— Eu não falei isso. - Respondi com humor.

— Nem precisou. - Devolveu no mesmo tom. — ... Aliás... sobre esses últimos dias..

— Não precisa falar nada. - Eu Interrompi. — Eu tava sendo um mala com a El. Eu mereci.

— Não. Não! Você não merece nada. - Acabei ficando confuso com a resposta, e me virei para ele.
— Olha, a verdade é que, esse último ano foi esquisito, sabe? Quer dizer, a Max, o Lucas e o Dustin são legais. São ótimos. Só que, Hawkins não é a mesma coisa sem você.

Acabei sentindo meu coração bater mais rápido, e esqueci o que ia dizer. Fiquei em silêncio apenas deixando ele continuar.

— E eu acho que fiquei preocupado demais com a El. E sei lá, eu sinto que te perdi de alguma forma. Isso faz sentido? - Eu apenas concordei com a cabeça. — E eu não faço ideia do que vai acontecer, mas o que seja, a gente deveria trabalhar junto. Eu acho que vai ser mais fácil trabalhando junto. Como amigos... melhores amigos.

— Legal. - Foi tudo que eu consegui dizer, sentindo a garganta secar e meus olhos lacrimejar.

— Legal. - Mike disse também com um sorrisinho.

Mas fomos interrompidos por um barulho de pneus adentrando o quintal.

— Mas que rápido. - Mike disse.

— Menos de trinta minutos.

Jonathan entrou no quarto. — E ai? Prontos? - Nós respondemos em uníssono.

Nos levantamos quando escutamos a campainha, mas levamos um susto com um barulho de tiro na mesma hora.

E eu realmente não sei explicar o que aconteceu depois.

Tiros, janelas quebradas, muita correria, e muito desespero compunham isso.

Saímos correndo da casa quando o agente que estava nos protegendo levou um tiro, e bem na hora, Argyle e Henry haviam chegado.

Eles olharam desesperados quando entramos com o homem abatido na vã.

— Isso aí é sangue de verdade?! - Argyle perguntou.

— ANDA! - Foi apenas o que dissemos.

— Ta bom, ta bom! - Ele se virou pra frente.

— Puta merda, aquele cara ta armado? - Henry falou quando viu um dos atiradores vindo em nossa direção.

— Caralho, uma arma! - O outro disse.

— ANDA! - Nós três gritamos de novo.

E então ele pisou no acelerador, atropelando algumas lixeiras.

— Ele tá perdendo muito sangue! - Mike gritou.

— Ah cara! Vai manchar toda a vã.

— Pega uns guardanapos! - Henry jogou os que tinha achado num compartimento do automóvel.

— Argyle, leva a gente pra Santa Maria! - Jonathan disse.

— Acho que rezar não vai ajudar esse cara não. - Respondeu.

— Não, seu idiota! O hospital!

O agente começou a falar um monte de coisas sem sentido, mas entendemos que era algo dizendo que El estava em perigo. Ficamos desesperados, ele disse que tinha um tal número, mas antes mesmo de conseguir escrever, o cara morreu.

— Ei, ei, ei. Por que ficou tudo tão calmo aí atrás? Ele morreu? - Argyle perguntou.

— Agora tem sangue e um cadáver na vã, parceiro. - Henry disse para o cabeludo.

— ELE MORREU? - Questionou de novo.

Nenhum de nós três respondeu, quando vimos um outro carro atrás, só alertamos para sair da estrada.

      

𝐦𝐚𝐠𝐞 𝐨𝐟 𝐦𝐲 𝐡𝐞𝐚𝐫𝐭 , will byers.Where stories live. Discover now