Poeta fajuto.

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As últimas provas chegaram e com elas o sentimento de despedida. Ainda teríamos um ano inteiro juntos no terceiro e ele seria o mais nervoso dos três, pois era o ano da decisão. O ano que vem seria o ano que escolheríamos nosso futuro, fosse ele na faculdade ou não. Eu sabia que teria que me dedicar mais que nesse ano, mas deixava as preocupações e desafios do futuro para quando ele chegasse. Sofrer por antecipação não fazia sentido e eu já tinha sentido na pele o que isso causava.

N - Vocês acham que foram bem? - Perguntou Neandro no fim das últimas provas.

B – Eu já estou pensando nas provas do ano que vem. - Disse Bee confiante.

L – É bom mesmo, assim você foge da reunião com a 'general'. - Disse Laura.

I – Falando em general, você vai ser o líder no ano que vem Eduardo? - Perguntou Ingrid para mim.

E – Eu não pensei nisso ainda. - Eu disse sincero.

N – Esse ano eu votei nulo, mas ano que vem você tem meu voto. - Disse Neandro batendo no meu ombro.

Nós estávamos perto da 'casinha branca'. Decidimos passar a tarde no parque com a turma toda. Olívia estava calada.

E – Por que você tá tão calada? - Perguntei me aproximando dela.

O – Por nada. Eu estava só pensando que aconteceu muita coisa divertida esse ano. - Disse ela sorrindo.

B – Verdade. O Festival vai ser uma das melhores lembranças da minha vida, eu tenho certeza. - Bee disse.

L - Você é sempre exagerado. - Disse Laura dando um tapa na cabeça dele. - Mas dessa vez eu concordo. - Disse contente.

B – Ano que vem eu espero parar de ser um saco de pancada. - Bee disse irritado.

N – Nossa meta para o terceiro ano é arrastar tudo. Ganhar o Festival e o Torneio. - Disse Neandro convicto.

I – Acho que você tá sonhando demais. Esse ano a gente mais perdeu que ganhou no Torneio. - Disse Ingrid.

B – Mas a gente vai ter tempo até chegar o próximo Torneio. É o nosso último ano, então tem que ser mais memorável que esse. - Disse Bee levantando o dedo.

Eu não desejava tanto, se o ano que vem fosse tão bom como esse eu já estaria feliz. O ano em que conheci Olívia. O ano em que me apaixonei pela primeira vez. O que passei esse me fez perceber que a vida é imprevisível. Me fez perceber que eu estava olhando a vida parado da janela até então.

Olívia me chamou para fora. Eu vi que os dias nublados são lindos, mas que os dias ensolaradas são surpreendentes e que os dias de chuva são aconchegantes. Percebi que as emoções são o motor da existência e que eu não me conhecia tão bem.

O – Eu vou sentir falta daqui quando tiver fora. - Disse Olívia quando sentamos na grama do parque. - Quando eu voltar quero continuar as aulas de bicicleta. - Ela falou com uma expressão encantadora.

E – Acho que nem vai dá tempo sentir saudade. - Eu disse com um meio sorriso.

O – Os sentimentos não obedecem as leis do tempo, Eduardo. - Ela disse apertando minhas bochechas. - Eu mesmo me apaixonei em poucos segundos. - Ela falou olhando nos meus olhos.

E – Eu me apaixonei aos poucos. - Disse eu olhando para ela que desviou o olhar.

O – Desculpa não ir com você a festa da cidade. - Ela disse tentando mudar de assunto corada.

E – Mas você volta depois do natal, né? - Perguntei.

O – Sim. - Ela disse curiosa.

E - Então... - Eu disse tomando coragem. - A gente pode passar o ano novo juntos. - Eu disse corando.

B – Boa ideia! - Disse Bee colocando a cabeça entre nós dois. - Ano novo é mais divertido em grupo. - Ela falou abraçando eu e Olívia. Ficando bochecha a bochecha.

L – Perfeito. Então dia trinta e um a gente se encontra pra virada no parque. - Laura disse.

Olívia parecia animada com a ideia então eu também fiquei. No dia seguinte ela iria viajar e mesmo eu dizendo que não daria tempo de sentir saudade não era assim que eu sentia. Eu já estava com saudades dela, mesmo ela não tendo ido.

E – Você vai levando muita coisa. Tem certeza que não vai é se mudar. - Eu disse rindo e ajudando ela a levar uma mala. Ela estava levando uma mala grande, uma mochila e uma mala pequena com coisas como notebook e livros.

O - Só tô levando o básico. Você é homem, não entende nada. - Ela disse sarcástica.

E – Agora me senti ofendido. - Eu falei descendo as escadas.

O - Você anda muito sentimental. - Ela disse rindo da minha cara.

E – E você continua direta como sempre. - Eu disse já me sentindo um pouco triste pela despedida.

Quando Olívia entrou no carro para ir embora eu me vi o dia acinzenta. Ver ela se distanciando fez meu peito doer. Mesmo que fossem só algumas semanas já era demais para mim. Eu agora tinha de pensar em uma forma de movimentar meu dia sem Olívia. Não queria voltar a ver o mundo tedioso de antes.

"Você já tá com saudades?" recebi essa mensagem dela assim que cheguei em casa no dia da sua partida.

"Você se acha demais" enviei com uma carinha pensativa.

"Então não tá com saudade?" ela perguntou em outra mensagem.

"O que você acha?" enviei e esperei a resposta.

"Essa pessoa está com saudade" ela enviou uma foto dela com Nicolau dirigindo ao fundo.

"Quem? Você ou Nicolau?" perguntei com carinhas de riso.

"Nicolau é claro.", "Não para de falar em você.", "Disse que antes das férias acabarem vai levar você também.", "Nem que seja por um dia". Ela enviou quatro mensagens.

"Eu vou." eu enviei com um sinal de positivo.

"Você é muito fácil de convencer" ela enviou em um áudio. Escutar a voz de Olívia me deixou extremamente feliz. Talvez eu tenha repetido aquele áudio seis ou sete vezes.

"Se for com você eu vou para qualquer" eu enviei em um áudio.

Olívia demorou alguns minutos para responder. Tempo suficiente para eu me arrepender de ter enviado aquele áudio. Será que havia sido direto demais?

As paranoias e teorias começaram a tomar conta da minha cabeça até eu escutar o barulho de mensagem recebida.

"Você falando assim pode acabar me iludindo que está apaixonado" ela enviou e eu me senti com o rosto quente.

"Às vezes as ilusões podem ser mais reais que a própria realidade" eu enviei tentando parecer misterioso, mas acabei parecendo um poeta fajuto.

Daquele momento em diante eu bolava um plano para o ano novo.

Água com açúcarWhere stories live. Discover now