Com quem você dançava tango?

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Nos dias seguintes ao meu aniversário o clima entre Olívia e eu estava diferente. Eu sentia que havia palavras engasgadas entre nós dois. Sabe quando se deve tomar banho às 4 da manhã de um dia frio e a água do chuveiro é gelada? Você sabe que a água vai bater na pele como uma lâmina, fica resistindo covarde para entrar embaixo do chuveiro, mas em dado momento entra de repente e senti todo o frio que se pode suportar, frio esse que depois passa e você se acostuma.

Olívia foi essa lâmina de água fria que atravessou a minha vida de repente, mas que com o tempo eu me acostumei. Só que agora parecia que eu havia desligado o chuveiro e voltava a parte do medo de liga-lo. Eu só tinha duas opções voltar para a minha cama confortável e quente ou ligar o chuveiro e senti a lâmina fria de novo. A minha 'cama' era voltar a ignorar Olívia como no início enquanto 'abrir o chuveiro' seria falar tudo que eu queria falar para ela. Nesse momento eu estava olhando para o chuveiro com a mão pronta para liga-lo e com medo de girar.

As provas já haviam chegado e no mês de maio eu tive muita coisa para resolver como líder junto com Clara que em tese tinha contribuído para aquela situação. Mas Clara não era única culpada, na verdade eu fazia algo que nunca tinha feito. Eu comecei a criar paranoias em volta das coisas e Bee contribuía.

B - Então ela tem um ex-namorado? - Ele perguntou assim que falei sobre a ligação que havia escutado.

E - Eu não disse isso. Eu só disse que a forma como ela falava era como se esse cara fosse bem próximo. - Eu disse tentando ajustar as minhas ideias.

B - Mas ela disse no desenho que aquele seria o segundo beijo dela certo? - Ele falou rodando a minha cadeira do computador e com a mão no queixo.

E - Você acha que ela tá mentindo? - Eu perguntei confuso e ele parou a cadeira com os olhos arregalados.

B - É uma possibilidade, mas ela não teria por que mentir. - Ele disse levantando e começando a andar com uma das mãos para trás. - Dependendo da idade, pode ter sido um namoro inocente. - Ele disse levantando uma das sobrancelhas. - Como o meu com a Danielle. - Ele falou.

Danielle era uma garota que estudou com a gente quando nós tínhamos dez para onze anos e Bee considera ela até hoje como a primeira namorada. O máximo que eles faziam era andar de mãos dadas.

E - Mas você não tem contado com a Danielle certo? - Eu falei sugerindo que poderia ser uma ligação mais forte.

B - Eu estou surpreso. - Ele falou sentando na cadeira e começando a rodar de novo.

E - Com o que? - Eu perguntei curioso.

B - Você está com ciúmes. - Ele disse rindo.

E - Eu não! - Falei me defendendo.

B - Então o que explica essa preocupação toda? - Ele perguntou.

E - Eu só não gosto de ser enganado. - Eu falei olhando para baixo. - Se ela tiver um namorado e tiver só querendo brincar comigo... - Eu falei sentindo meu estômago ficar ácido.

B - Então você tá com medo de se apaixonar e depois sofrer? - Bee disse indo até a janela.

E - Você tá levando para um lado muito meloso. - Eu disse indo até a janela também. Olívia não estava do outro lado. - Eu só ando confuso com tudo que anda acontecendo. - Falei voltando. - Se ela tiver me enganando com tudo isso... - Eu disse me jogando na cama. Mas não conseguia entender nem o que eu queria falar para completar aquela fala.

Eu não conseguia iniciar uma conversa com Olívia, pois sempre vinha duas frases na minha cabeça. A primeira era 'estou com saudades' para um alguém que eu não conhecia. A outra era 'pena que o último não aconteceu' e essa estava se acumulando com os olhares dela e as expressões que eu reparava.

Água com açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora