O abraço.

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'Não precisa se preocupar, eu vou de carro. Você quer uma carona?' foi a mensagem que Olívia me mandou após eu perguntar por que não precisava esperar ela. Minha resposta a ela foi não.

Olívia iria de carro e eu tinha um pressentimento de que não era com meu tio ou minha tia. Por isso não fiquei tão surpreso quando vi, da janela do meu quarto, ela entrar em um carro desconhecido sorrindo. Lá dentro havia um homem que nunca tinha visto. Ele poderia ser chamado de moço, pois não demonstrava ter mais que vinte anos. Olívia falou algo como 'você chegou cedo' para ele e ele respondeu 'eu quero aproveitar o máximo de tempo ao seu lado'. Isso foi o que escutei.

Eu estava confuso demais para criar alguma paranoia na minha cabeça.

Talvez aquele cara fosse amigo de Olívia e nada mais. Talvez fosse até irmão. Mas eu nunca tinha escutado que Olívia tinha um irmão. Ela nunca tinha falado sobre amigos próximos também. O que eu sabia era que aquele cara era alguém muito importante para ela. Alguém que fazia ela perder horas de sono antes de uma viagem cansativa. Alguém que fazia ela sorri como eu queria que ela sorrisse. Alguém que fazia ela deixar de me beijar. E alguém que fazia ela voltar para casa rapidamente após me beijar. Era esse alguém que me fez desistir da minha confissão naquele dia.

M - Não esquece que eu vou deixar seu jantar na geladeira. - Disse minha mãe assim que eu desci as escadas. - E não vá dormir tarde. - Disse repreendendo.

E - Que horas vocês voltam? - Perguntei.

M - Amanhã as nove ou dez talvez a gente já esteja em casa. - Ela disse com uma colher de madeira na mão assim que eu cheguei na cozinha.

Meus pais e meus tios iriam a um casamento de uma amiga da época de escola. Eles estudaram no mesmo colégio que eu, mas a amiga não morava mais na cidade. Então eles teriam que viajar por algumas horas até chegar onde seria realizada a cerimônia. Iriam antes do meio-dia e só voltariam amanhã.

M – Qualquer coisa é só ligar ou falar com o Guto e a Fabi. - Ela disse citando os pais de Bee. - Se dê eu trago algumas coisas saborosas pra você. - ela disse como uma criança gulosa.

E – Meu vai pai, certo? Então é provável que não sobre nem pra quem vai tá lá. - Eu disse rindo.

M - Tomará que eu não passe vergonha. - Ela disse apreensiva. - De novo. - Falou se virando.

Eu me senti esquisito ao ir para a escola. Solidão era uma palavra fraca. Saudade era uma palavra forte. Eu só sei que foi o caminho mais longo de todos. Eu pensei em tudo que deveria pensar. Passei pelo parque que era o mesmo, mas estava diferente.

B - Olívia chegou bem cedo. - Disse Bee quando cheguei na 'casinha branca'. - Então ela não veio mesmo com você? - Ele perguntou me olhando triste.

E - Não houve pedido, declaração, rejeição ou aceitação. - Eu disse chateado. - Não houve nem encontro. - Eu disse enquanto andávamos pelos corredores da escola.

B - Você tá bem? - Ele perguntou e eu parei.

E – Confusão. - Eu disse olhando para o chão. - É só isso que eu consigo sentir. - Eu falei sem me importar com quem estava ao redor.

Nós chegamos na sala e meus olhos se encontraram com os dela. Ela sorriu, mas eu não consegui sorri. Talvez tivesse sido frio, mas eu tinha várias questões na minha cabeça. Eu tinha que perguntar pra Olívia quem era aquele cara. Eu tinha que perguntar.

C – Eduardo. - Disse Clara me balançando. Eu estava com a cabeça abaixada na mesa. O intervalo havia começado a pouco tempo. - Você tá bem? - Ela perguntou preocupada.

Água com açúcarOnde histórias criam vida. Descubra agora