Passos quentes.

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Mesmo eu dizendo que foi sem querer, não foi. Eu fiz de propósito. Comecei a ver as fotos na minha galeria até chegar naquela foto. A foto que ela sorria do lado da estátua. Eu queria lembrar apenas daquele momento do passeio, mas sempre vinha na minha mente o som do celular tocando e a expressão dela ao atender a ligação. Do nome entre os corações. Da forma como ela falava no dia do meu aniversário. Das várias faces que ela tinha e que eu pensava conhecer, mas que na verdade poderia ser só ilusão.

Quem observa a lua vê ela iluminada e pode pensar que ela brilha iluminando o céu junto as estrelas, mas o brilho da lua na verdade é um reflexo da luz do Sol. Eu consigo ver a lua a noite, bela e brilhante, mas a real natureza daquela luz é o Sol. E se eu olhar para o Sol com todo seu brilho posso ficar um pouco cego de tão perigoso que pode ser suas chamas imponentes. Aquele brilho da lua tem uma origem alheia e perigosa em alguns sentidos. Será então que o brilho que eu via naquele sorriso era verdadeiro? Ou o Sol que o iluminava se escondia dos meus olhos?

Esse tipo de pensamento me deixava sem ar. Tentei dormir mais cedo no dia anterior a apresentação de Olívia, mas só consegui depois de uma da manhã. Olívia teria que ir mais cedo que o normal até mesmo para o Festival. Eles iriam ensaiar um pouco mais antes da apresentação.

Quando acordei meus olhos pesavam e meus ouvidos doíam com o barulho do despertador. Pensei que melhoraria após o banho, mas o sono permanecia. Olívia sorriu assim que me viu. Quando chegamos na escola ela estava quase vazia, mas em pouco tempo chegaram na sala os que iam dançar com Olívia.

Eu me encostei na parede e comecei a escutar música. Não sei em que momento dormi mais me acordei com Bee balançando meu ombro.

E – O que foi? - Perguntei tirando o fone. Olhei ao redor e a sala estava movimentada.

B – Cara, você dorme como uma preguiça. - Ele disse rindo. - A exposição já vai começar e eu não vejo qual relação há entre a Argentina e você dormindo aí. - Ele disse puxando meu braço para eu levantar.

E - Cadê Olívia? - Eu perguntei assim que levantei.

B – Ela saiu com os outros pra ensaiar mais um pouco. - Ele falou e eu cocei os olhos.

Saí para o banheiro. Fui lavar o rosto. Pelo menos não havia babado. Quase não vi Olívia até a hora da apresentação. Eu já havia visto todas as salas, algumas mais de uma vez. Resolvi ajudar na exposição. O pessoal da dança estava ensaiando em algum local da escola que não sabia onde era. Deveria ser um local bem escondido para ninguém das outras turmas ver.

C – Agora vem o 'grande fine'. - Clara disse na hora que chegamos no local da apresentação de dança. Chegamos cedo e sentamos nas primeiras cadeiras. Das últimas vezes eu estava no palco nervoso e agora os papéis se invertiam.

E – O que você achou da nossa sala? - Perguntei para ela.

C – A dança vai determinar tudo, mas nós temos grandes chances de ganhar. - Ela disse contente. - Fomos a única que conseguiu manter a regularidade na exposição e nas apresentações. A dança é o último teste. - Ela falou um pouco apreensiva. - Mas eu acredito na força dramática do tango. - Ela falou confiante. - Ela vai conquistar todos logo no início. - Clara falou e soube que se referia a Olívia.

Eu não tinha visto muitos ensaios, mas sabia que todos tinham evoluído. Sempre que via Olívia no ensaio ela estava mostrando algum passo. Não a vi com a roupa da apresentação então para mim tudo era uma surpresa. Por isso quando eles foram anunciados e a cortina começou a cortina subiu eu estava com a expectativa lá no alto.

Quando a cortina subiu tudo ao meu redor pareceu desaparecer. Eu só via aquela garota de vestido longo vermelho. Ela estava à frente dos outros. Seus olhos estavam fechados e fazia uma pose seria. Eu olhava admirado para ela e acredito que todos faziam o mesmo.

Água com açúcarWhere stories live. Discover now