𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 37 - 𝕺 𝖎𝖓𝖎𝖈𝖎𝖔 𝖉𝖔 𝖈𝖆𝖔𝖘 - 𝕻𝖆𝖗𝖙𝖊 1

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"O que há por trás de um herói? E de um vilão? Talvez a mesma história, talvez a mesma jornada. E o que muda suas vidas? Bem, a verdade é que as chances de tudo isso ser uma mentira, são grandes. Até as melhores pessoas são as vilãs da história de alguém e a única coisa que defini o certo e o errado é quem está contando a história."

Há muito tempo, antes do início...

Fazendo da curva da lua seu leito, uma mulher dava a luz a 9 crianças. O marido, que encarava apreensivo o meio de suas pernas, tirava cada um de seus filhos com toda a pouca delicadeza que tinha e os entregava para a mulher. O parto foi a pior experiência que a Deusa havia passado na vida. A lua estava cheia de buracos causados pelos seus murros de dor e após tanto sangue perdido, só não perdera a vida graças a sua imortalidade. Exausta e traumatizada, a mulher forçou a voz para dizer ao marido que jamais permitiria que as estrelas dele entrassem em seu ventre de novo, mas o Deus não se agradou com o anuncio.

   — Se eu descobrir que colocastes mais uma única estrela dentro de mim, darei um jeito de sumir com a criança e com seu ''amigo''!

A Deusa mal conseguia se manter consciente, mas o homem viu em seus olhos prateados quanta verdade havia em suas palavras engasgadas. Ele assentiu, concordando em se contentar com seus 9 descendentes.

Entretanto não demorou muito para o Deus Aidus concordar plenamente com a esposa, afinal de contas eram 9 bebês. Nove seres que precisavam de toda a atenção completa dos deuses, ainda mais da deusa, cujo os seios às vezes sangravam de tanto amamentar. Com isso, o caos começou a dar as caras no universo. Explosões que eles não podiam se concentrar para controlar, buracos negros que eles nem sequer sabiam da recém existência, tudo estava do avesso. Aidus tentava ao máximo mesclar e equilibrar todas as funções, agora dobradas pela ausência da esposa, mas sempre falhava. Parecia que nem os maiores deuses eram páreos para quase uma dezena de crianças. E a deusa, apesar de amar infinitamente seus filhos, já sentia um cansaço absurdo consumi-la dia após dia.

Uma noite, o Deus retornou para seus aposentos e se deparou com sua esposa sentada na cama e em absoluto tremor. Os joelhos próximos do peito lhe serviam de apoio para os cotovelos que levavam as mãos à cabeça da mesma. Seus olhos perolados estavam fixos no nada enquanto os dedos agarram o próprio cabelos. A sinfonia era o choro esganiçado de Arissa, que por sorte ainda não havia acordado seus irmãos e irmãs.

   — Tarana... — Deus Aidus se aproxima com cautela, falando em sussurros para não assusta-la.

   — Faça-a parar! Por favor faça isso parar! — suplica ela, escondendo o rosto entre as pernas, sem sequer olha para ele. A voz desafinada e embargada já denuncia as lágrimas que estão por vir.

Aidus assente silenciosamente e nina a bebê, fazendo-a dormir rapidamente. E então, por ao menos um instante, o silêncio esteve presente. O ruivo encara sua mulher e se senta, cuidadosamente, ao seu lado, pegando-a logo em seguida e a colocando em seu colo na exata posição em que ela estava. Ele a envolve com seus longos braços e acaricia seus cabelos ébano, tentando acalma-la como pode.

   — Precisamos de ajuda... — Tarana sussurra. — Vamos acabar enlouquecendo nesse ritmo.

   — Mas para quem nós pediríamos ajuda? Não acho que as estrelas poderiam fazer algo como cuidadoras.

   — Estou falando sério Aidus! — ela dá um tapinha com a parte de trás da mão no peito do marido.

   — Também estou, Tarana! Nós dois somos os único em todo o universo que podem cuidar de outro ser. Quem viria nos ajudar? — A Deusa se cala, pensando se deve falar o que está pensando.

Irmãos da RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora