𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 26 - 𝕮𝖎𝖉𝖆𝖉𝖊 𝖉𝖊 𝕬𝖗𝖊𝖎𝖆

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"Taparam minha boca com mãos de gás pesado. Calei minha voz e estufei meu fraco peito. Engoli minha voz, que desceu por uma garganta seca e embriagada. Meus braços já sangram depois de tantos beliscões, minha realidade não muda, e nem vai."

Lucy Vaughan

Minha obrigação. Meu dever guiado pela minha inconsciente necessidade moral. Para mim, hoje, está moralidade se transformou em correntes que puxam meus pulsos e meus pés para esse dia frio e solitário banhado pela frustração de uma vida que não será vivida. Os dias se passaram de forma rápida e torturante até chegar no hoje, um dia antes da união política que me entregará em matrimônio a um rapaz que eu nem sequer conheço, alguém com quem eu nem ao menos conversei. A tristeza que está estabelecida em meu rosto e nos rostos de todos aqueles que me acompanharam até aqui é evidente e está refletida até mesmo no céu, que se tornou cinza e deprimente. Passamos esses últimos dias treinando e aperfeiçoando algumas técnicas físicas que eu já aprendi a muito tempo. Parece que além de não poder viver a vida que quero, nunca poderei treinar os poderes que eu tenho por ser quem eu sou. "Uma rainha não pode ter poderes."

Estou na área de treinamento extravasando minha raiva em um dos sacos que pancada velhos que tem aqui, quando sinto o peso de um par de olhos cor de gelo, aquecido pelo sol da tarde, sobre mim.

   — Você é forte. — O Príncipe dessa província desce em um pulo da mureta que está atrás de nós.

   — Obrigada. — Dou as costas para ele e vou em direção ao banco de madeira, onde está a toalha que eu trouxe para secar o suor que escorrem no meu rosto.

   — Acho que fui muito indelicado com você essa semana, nem ao menos me apresentei. Me chamo Maxy.

   — Me chamo Lucy — Respondo, permanecendo de costas para ele.

   — Não vai olhar pra mim? O fato de eu não ter um olho de cada cor te incomoda tanto assim? — Arrogância é o nome do veneno que escorre de seus lábios. Como uma cobra peçonhenta ele desliza em minha direção e se põe em minha frente e o que eu vejo é algo que eu definitivamente não esperava. O menino que está diante de meus olhos não condiz em nenhum aspecto com a frase que eu acabei de ouvir. Com certeza o que eu esperava eram olhos maliciosos, uma boca contraída em um sorriso debochado e os ombros relaxados após a piada irônica e maldosa. Mas o que eu vejo é alguém triste, tenso e, ouso dizer, até preocupado. Fico curiosa com essa espécie rara de pessoa que está na minha frente, mas não abaixo a guarda, sei que isso pode ser só um disfarce.

   — Não sei do que você está falando. — Ele abaixa a cabeça e ri cinicamente. Como eu suspeitei, seu rosto era disfarce para sua mente ensandecida.

   — Entenda uma coisa Lucy. Aos seus olhos, eu posso até ser arrogante e sem filtro, tal qual meu pai, mas eu não sou cego como ele. Eu vejo como vocês se olham, como falam um com o outro. Isso até me fez pensar em separar vocês durante esses dias, mas, de qualquer jeito, eu já farei isso amanhã. - Ele me esfaqueia com sua adaga de palavras envenenadas. Eu não queria me lembrar disso em momento algum. Passei a semana toda evitando esse fato, já que até agora a ficha à respeito da minha situação ainda não caiu. Não, até esse exato momento. Amanhã estarei casada, nunca mais verei Ivan, Rutts e minha tia Maggie. Estarei sujeita a ser o bibelô desse lugar fadado a desgraça e esposa de um homem que me fará afundar ao seu lado. - A pergunta que me atormenta é a seguinte. Por que está tão pacífica? Não à vi chorar, gritar, nem espernear perante tudo isso. Você não tentou fugir nem discutir sua situação. Como está assim?

   — Eu... - Milhares de memórias passam pela minha mente e formam suas próprias resposta. Eu poderia dizer que quero ajuda para o resgate dos meus pais, que não quero guerra e tudo mais. Mas há uma palavra que mais entra em foco na minha cabeça. — Meu povo. — Ele ergue uma sobrancelha em sinal de surpresa. Com certeza não era essa a resposta esperada. — Eu sou a herdeira de Renne, de um jeito ou de outro, e aquelas pessoas estarão sob os meus cuidado. Eles são meu povo. Minha obrigação.

Irmãos da RosaWhere stories live. Discover now