Prólogo.

466 47 3
                                    

     Kiara observava fixamente a mansão Carrera no final da paisagem, distante, mas perto o suficiente para que fosse o destino daquele carro

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

     Kiara observava fixamente a mansão Carrera no final da paisagem, distante, mas perto o suficiente para que fosse o destino daquele carro. Com um sorriso desconcertado, e o mutuar de seus dedos batucando sob suas coxas, o automóvel estaciona na frente da residência. Depois de pagar e agradecer o táxi, pela primeira vez, em muito tempo, kiara coloca os pés em Outer Banks.

        Uma sensação nostálgica e libertadora atingiu seu ventre quando ouviu o ranger da porta ao adentrar a casa, porque pela primeira vez, ela estava sozinha ali. Era somente ela e a Kiara de anos atrás.

        Seus dedos passeavam pelos móveis cobertos de poeira, e sua mente passeava por cada lembrança já vivida ali. Ela sempre achou que jamais estaria pronta para encarar tudo aquilo de novo, mas naquele momento, como nunca antes, kiara se sentiu em casa.

       Pendurada em uma das cadeiras, estava o casaco escarlate da Sra. Carrera, sua mãe. Ali em frente, sob a mesa, estavam papéis, que logo kiara reconheceu como envelopes. Entre todos eles, havia uma caixa dourada, juntamente de um envelope, também dourado. Carrera virou o verso do envelope, a procura da identificação do autor da carta, sentindo suas pernas fraquejarem ao reconhecer a caligrafia inesquecível.

       Quase que imediatamente, kiara deixa que seu corpo se desfaça sob a cadeira, com os dedos trêmulos. Reluta antes de abrir a caixa, mas desfaz o embrulho e abre a caixa.

        Era uma câmera.

        Era aquela câmera.

        Com os olhos já marejados, as lembranças bagunçando sua visão, kiara abre o envelope, forçando seus olhos a ler o conteúdo da carta que nem sequer soube do envio, e que ao ver a data, era de anos atrás.

Boston, 19 de janeiro de 2024.
Hey, kiara.

Ontem foi seu aniversário. Você não estava aqui, mas Mike estava. É trágico, porque sempre que eu olho pra ele eu lembro de você.

Fim do fundamental, uma kook-pogue fazendo uma festa, e, como se não bastasse aquela kook-pogue era minha melhor amiga. Eu não fazia ideia do que te dar, não havia nada que eu achasse a altura. Sendo honesto, ainda que eu considera-se algo realmente bom presente, eu não tinha dinheiro algum pra comprar. Enquanto muitos iriam levar presentes caros, eu não tinha custão nenhum no bolso.

Até que eu lembrei de uma coisa. - É, parece que seu aniversário e lembranças andam lado a lado. - Você amava cachorros, especificamente, pugs! Eu e John B, e até mesmo sarah, zoava o seu gosto esquisito, questionando a preferência por uma beleza duvidosa. Você sempre batia o com força no chão, dizendo que era essa a razão pela qual ainda andava com a gente. Todos, os três, donos de uma beleza questionável. Eu não posso dizer que concordava, mas se eu continuar rebatendo isso, vou fugir do foco dessa carta.

E então, eu te dei um pug. E eu posso dizer com convicção, kiara. De todos os anos, dias, horas, minutos e segundos que passei com você um dia, aquele é o mais inesquecível até hoje. Você fez com que eu me sentisse a melhor pessoa do mundo quando se colocou de joelhos na frente de todo mundo apenas para abrir a simples caixa, que sequer tinha embalagem, e colocar o "adorável" cachorro em seus braços. Anos mais tarde, você me devolveu o favor. Mais uma vez, seu aniversário. Dessa vez, a kook-pogue não era kook-pogue. Ela era pogue , ela era você. Você me deu um golden retriever, o nome dele era Mike. A grande diferença é que Mike não era seu, muito menos meu. Mike era nosso. Porque naquele momento nos estávamos juntos. Juntos pra valer, kiara.

Agora, ele está aqui no dormitório, enquanto escrevo essa carta. Correndo para todos os lados, explorando tudo que pode, e as vezes, me arrumando problemas com meus colegas de quarto também. E eu sei, que quando está inquieto assim, ele está procurando você. Assim como eu.

Até hoje. Eu não entendi o que aconteceu, ou talvez, eu não queira entender. Eu não sei como começar a escrever isso, como colocar em palavras o que eu realmente queria dizer pra você. Eu consigo escrever o que eu sinto. E o que eu sinto e o que eu quero falar pra você são coisas diferentes. Muito diferentes.

O que eu sinto? Ah, kie. Até hoje, o que eu sinto é seu cheiro, saudade dele. Saudade das manhãs, tardes e noites em que ele transbordava de você. É uma das coisas que mais lembro, e é triste, porque tenho medo de acabar esquecendo seu rosto, de não poder mais imaginar você comigo de novo. Mas, a lembrança dos seus cachos entre meus dedos, toda vez que eu te abraçava, está intacta. E eu espero que esteja pra sempre.

Apenas para lembrar que apesar de amar as ondas do mar, eu sempre vou preferir surfar nas suas ondas, nos seus cachos.
eu te amo.
JJ. Maybank.


seus cachos intactos. - jiara.Where stories live. Discover now