Nada lhe ocorreu.

Visualizava seu futuro em quinze dias como uma tela em branco em sua mente.

Não conseguia se imaginar em uma casa nova.

E onde arranjaria um emprego que gostasse tanto quanto fazer fotografias?

Mal sabia dizer em italiano que não sabia falar italiano. Não fazia ideia de onde começar a procurar emprego em algum lugar onde falassem ao menos inglês, que era o único idioma que ela dominava além do português.

Impossível.

Rafael era quem falava italiano e muito bem. Quando decidiram morar na Itália ela nem pensou que podia ter problemas com a língua porque estaria sempre com ele.

É claro que não morreria de fome, nem acabaria morando na rua.

Tinha um bom dinheiro guardado. Era o dinheiro que ela e Rafael usariam para comprar uma casa e ainda tinha a renda do apartamento alugado no Brasil e o dinheiro que recebia trabalhando para Graziella, mas a questão não era o dinheiro.

Talvez Graziella tivesse razão.

Melissa também achava que tinha se acomodado e que estava bom dessa maneira.

Ela havia decidido sair do Brasil pra se reconectar com o que um dia teve com Rafael. Mas a verdade era que estava fugindo disso quando estava lá e vinha fugindo disso agora que estava na Itália.

Nunca imaginou que a verdade era que seria doloroso demais tentar reviver em seu coração todas as lembranças boas, os momentos de felicidade que teve com ele. Era doloroso porque queria de volta tudo o que viveu com ele, era doloroso pensar em morar em Positano como havia planejado porque queria ainda queria ter vivido aquilo com ele e agora, fazer qualquer coisa sem Rafael parecia errado.

Melissa sabia exatamente o que Graziella estava fazendo e isso a deixou com mais raiva ainda.

Ela não tinha o direito de obrigá-la a fazer aquilo.

Seguir em frente era uma decisão que ela tinha o direito de adiar o quanto quisesse.

Mas... se não ocupasse a cabeça acabaria definhando.

Precisava arranjar outro emprego e já que não gostava tanto assim daquele apartamento, até que não era uma ideia ruim alugar outro lugar.


⚘ ⚘ ⚘


Melissa acordou por volta das cinco da tarde.

Não pretendia ter caído no sono e muito menos ter dormido por tanto tempo, mas talvez seu sistema estivesse sobrecarregado demais e simplesmente apagou.

Ela remexeu os dedos dos pés e sentiu algo estranho.

Apoiou as mãos no colchão e se sentou na cama. Deu uma olhada nas solas dos pés, estavam cobertas por uma pomada e, por mais impossível que parecesse, estavam bem melhores. Não estavam mais tão vermelhos e as bolhas haviam secado.

Imediatamente o coração de Melissa disparou e ela olhou alarmada na direção da porta, estranhou ao sentir um cheiro muito bom e inspirou bem fundo.

— Comida?

Nem se lembrava quando havia comido qualquer coisa pela última vez.

Olhou para o lado e havia um prato envolto em um guardanapo com um garfo enfiado no meio do nó em cima do criado mudo.

— Ai meu Deus. Alguém entrou aqui. Droga, droga. Quem entrou aqui?

Ela se remexeu agitando os braços e se os pés estivessem bons teria se levantado e saído correndo pela casa, mas tudo o que podia fazer era se chacoalhar sem sair do lugar.

P O S I T A N OWhere stories live. Discover now