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M E L


— Ela foi mesmo embora. Ela me deixou mesmo sem emprego e sem uma casa. E foi mesmo embora.

Melissa encarava a porta do quarto há uns quinze minutos depois que Graziella partiu ao lado de Paolo.

Antes de irem, os dois haviam entrado no quarto de Melissa, Graziella deu um abraço demorado de despedida na amiga, Paolo se atreveu a se aproximar e dar um beijo estalado em seu rosto ignorando a cara fechada dela.

— Eu sei que parece que eu estou fazendo uma grande loucura e que estou sendo uma péssima amiga. — Disse Graziella com um sorriso atrevido no rosto. — Mas eu conheço você, Mel, se eu não fizer isso, você vai ficar acomodada aqui pra sempre.

Depois disso ela e Paolo saíram do quarto sem nem olhar para trás.

Melissa queria gritar, queria xingar e dizer que Graziella não passava de uma traidora.

Mas não fez isso.

Ela não disse nada.

Às vezes odiava o fato de ser tão condescendente quando na verdade devia brigar.

Por mais idiota que fosse, Melissa esperou que Graziella voltasse.

Custou a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo, que a única amiga que tinha na Itália, a única pessoa com quem achava que podia contar simplesmente a deixou para trás.

Aquele dia só piorava.

Sua cabeça estava a milhão.

Tinha sido abandonada pela amiga e não sabia o que ia fazer sozinha e incapacitada.

E aquele dia havia começado da pior maneira.

Não conseguia parar de pensar na estupidez daquele grosseirão, e ele pode até ter ajudado, mas conseguia ser tão irritante e tão rude que tudo o que Melissa pensava era no momento em que ele a jogou na areia e todas as coisas grosseiras que ele havia dito.

Também não conseguia parar de pensar na sensação que quase a dragou quando ele acelerou a moto. Sentiu a morte agarrando seus calcanhares exatamente como no dia do acidente dentro daquele avião.

O pânico que sentiu a pegou de surpresa.

Quando topava situações perigosas como fotografar paraquedistas saltando de um avião, ou surfistas enquanto dirigia um jet sky já estava preparada para sentir aquele medo de novo e enfrentar aquela fraqueza como na primeira vez em que decidiu entrar em um avião meses depois do acidente, era assim que tinha decidido desafiar e afrontar a morte, mas não imaginou que uma simples carona em uma motocicleta também provocaria aquela sensação e a fizesse paralisar de medo e isso realmente a pegou de surpresa.

Ela suspirou tentando não pensar naquilo.

Apesar do banho com vinagre e azeite que Lucca havia dado em seus pés mais cedo, agora eles ardiam e queimavam de dentro para fora como se estivessem fervendo.

Melissa havia dado uma olhada, as solas estavam bem vermelhas e umas bolhas haviam se formado mesmo que ele tivesse dito que isso não aconteceria.

Não havia o que fazer a não ser curtir a dor. Aquilo não era nada perto do que havia passado na época do acidente. Ossos quebrados não se comparam a umas bolhas idiotas.

Melissa se ajeitou na cama, deitou-se como um defunta com as mãos sobre a barriga e ficou encarando o teto.

Fechou os olhos um instante e tentou visualizar como estaria sua vida em quinze dias.

P O S I T A N OWhere stories live. Discover now