Céus. Como eu queria que ela acordasse por mais uma horinha apenas. Era tudo o que eu precisava para dormir um pouco satisfeita.

Foram longas semanas a observando em silêncio após aquele beijo. Quando sua boca se encaixou na minha, conheci o céu e o inferno no mesmo instante. A parte física do seu beijo era celestial, doce. Me levava para as alturas. A emocional era quente como o inferno, parecia que ela esperava por aquele momento tanto quanto eu. Qualquer coisa após esse primeiro contato era mínima suficiente para eu imaginar a gente nessa cama, loucas, suadas, gemendo uma para a outra enquanto trocavamos olhares 

Quando sua mão segurava o copo de suco no café da manhã, eu imaginava seus dedos na curva da minha cintura. 

Quando suas mãos agarravam com autoridade uma maçã, minha mente viajava para o momento em que ela fosse tomar minha bunda com a mesma pegada.

Quando seus dedos giravam os botões do controle daquele vídeo game, eu me perguntava se ela tinha a mesma habilidade em me estimular enquanto me fodia por trás com o dildo.

Disposição ela teve até onde seu corpo permitiu, mas confesso que eu aguentava muito mais.

Muito mais.

Só não quero assustar a menina. Foi muita coisa rolando durante uma noite. Preciso pedir para Emma reforçar o café da manhã levá-la ao meu nutricionista para passar vitaminas adequadas para sua idade. Com urgência.

Toquei em sua nuca, fazendo ela se mexer de forma confortável na cama. Respirou tranquila, abriu os olhos por alguns segundos e voltou a dormir relaxada em meus braços. Afastei o cabelo que prendia a visão da parte traseira do seu pescoço. Observei a tatuagem da libélula, delicada, quase escondida. Fechei os olhos e me aproximei, sentindo seu cheiro.

Lauren tinha um cheiro suave naquela área. Livre de perfumes artificiais por conta do banho. O cheiro dela, cheiro de inocência camuflada de rebeldia. Eu via isso de longe.

Apenas uma menina. Ao menos, do meu quarto para fora. Aqui dentro ela vira uma linda mulher.

Se fecho meus olhos, ainda lembro da sensação desesperadora de pensar ter sido assaltada quando eu saía da reunião com o advogado para assinar a guarda compartilhada de Henry. Estava estressada, deprimida e tendo um dia péssimo. Nada pior do que quando o pai do seu filho, o homem que você julgou ser o mais doce do mundo um dia, te expõe de maneira cruel para o profissional responsável por decidir com quem ficaria nosso amor em comum. Mesmo se revelando o próprio diabo quando a raiva o consumia ou quando seu ego lhe era arrancado, eu sempre, sempre, mantive minhas dores com ele longe do nosso filho que não tem culpa em nada em ter pais problemáticos.

Eu estava distraída quando minha bolsa foi tomada de minhas mãos e com o súbito susto, gritei. Apenas uma jovem de cabelos negros que passou por mim num "assalto" mais rápido que presenciei e sofri na vida. Estranhamente divertida, por não querer a bolsa em si. Estava certa, não cabia um mísero dólar ali, mas sua inocência desconhecia o valor da Armani, usada apenas para carregar meus remédios naquele dia. A pequena bolsa voou no rosto do policial. Ela só queria se defender. Demorei a processar tudo o que estava acontecendo e ao vê-la ali, indefesa e encurralada nas mãos dos agentes, algemada como o maior perigo visto na sociedade.

Soube que precisava fazer algo, ou logo o mundo estaria tendo uma segunda eu para demonizar.

Não há nada pior do que o olhar das pessoas quando descobrem suas fraquezas. Lembro de uma vez estar andando na rua, arrependida por ter virado a noite com a oxicodona e caminhei a pé para o centro de recuperação mais próximo. Minha maquiagem estava borrada, cabelo embaraçado e minha roupa social deplorável. Todos que passavam me olhavam com pena, dó, desgosto, nojo.

OUTSIDERWhere stories live. Discover now