À minha turma
Lecionando para crianças, atingi o ápice do meu pensar, o auge do meu questionamento do mundo e das minhas ações, enquanto pessoa.
No início, pensei que seria apenas um trabalho monótono e desgastante, mas no fim foi para mim enriquecedor e até mesmo alarmante.
Logo de cara fui recebido com muita animação e carinho por aqueles novos rostinhos que adoraram as minhas brincadeiras e jeito bobo, mas com o passar dos dias as coisas foram ficando difíceis.
Fui conhecendo o melhor e pior de cada aluno, àqueles com problemas de atenção, aqueles mais solitários, os tímidos, os tristes, os felizes ao extremo, os carinhosos, os amedrontados, os chorões, birrentos e irritados.
Era, e ainda é extremamente difícil para mim, olhar aqueles pequenos olhos cheios de sonhos e questões, e imaginar que em breve serão adultos, e isso foi o que sempre me assustou, que tipo de adultos seriam...
Sempre ouvi sobre o reflexo que as ações dos adultos poderiam causar nas crianças, mais foi apenas ao conviver com elas, que entendi isso de fato.
Revivi meus dias de infância, correndo feliz e fazendo amizades pela turma, minhas intrigas e posicionamentos com meus "tios e tias", como eles adoram chamar. Revivi minha infância da forma mais árdua possível, revivendo meus medos e problemas que me acometeram em tal fase. De todas as coisas que a criação dura e agressiva de meu pai causaram à mim, e tudo que as lágrimas de minha mãe me ensinaram a temer, e foi assim, entre aulas e intervalos, entre broncas e sorrisos, que eu me emocionei com aqueles pequeninos adultos.
Foi no dia a dia, que eu passei a compreendê-los, e vê-los da forma que nunca fui visto. Minha paciência renasceu em mim, e a atenção redobrou, à tudo que eu dizia, e como dizia.
Desde então, esforço-me para ser o melhor educador de suas vidas, e que mesmo que minha colaboração em suas vidas seja pequena e complexa, eu rezo para que lembrem de mim com carinho, e sempre com positividade. Que mesmo nas infâncias mais obscuras, ou nos traumas mais difíceis, eu possa ser a luz.Tio Alef
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Cartas para o amanhã
Short StorySerá que somos capazes de expressar o turbilhão de sentimentos dentro de nós? O que fazer com as palavras travadas, engolidas com choro? Onde aplicar tanta dor e o próprio amor da forma mais sutil possível? Eis aqui a resposta: Cartas são a melhor o...