Carta 10

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Sandra, meu amor 

Existem amores inesquecíveis, que resistem anos, resistem após feridas e provações. O nosso já passou por tudo isso, sobretudo, tem resistido à distância. Não nos vemos há anos, talvez, não nos falamos há meses, e curiosamente, o sentimento nunca se esvaiu. 

Às vezes chego até a esquece-lo, mas basta que eu ouça determinada música, ou veja determinada flor, para que ele arda dolorosamente, e nossas lembranças rodeiem meu imaginário. 

Se um dia ficaremos juntos? Eu não sei, e talvez essa incerteza seja o que mantenha esse amor imortal. O maldito talvez.

"Talvez ela pense em nós." "Talvez daqui a uns anos." "Talvez quando ela estiver solteira." "Talvez quando eu tiver a minha independência." "Talvez em outra vida..." 

Não lhe culpo pelo nosso afastamento, ou o seu sumiço repentino de minha vida, eu entendo seus motivos, e justamente por entende-los, farei isso de uma vez. 

Segurar essas incertezas estão me prendendo a um passado que talvez nunca volte. Me aprisionam no talvez, enquanto você vive o possível, e o agora ao lado dele, creio que esteja na hora de eu fazer o mesmo. 

Estou nos soltando de vez, meu amor. 

Por mais que me doa abrir mão disso, já se estendeu por anos demais essas dúvidas insanáveis... 

Continuarei lhe fitando de longe, vibrando com suas conquistas e me emocionando com teus sonhos, mas agora serei apenas um expectador, e aceitarei meu lugar, ao invés de ficar atrás das cortinas, torcendo para recuperar meu protagonismo em sua vida. 

Não há despedidas que caibam nesse adeus, e quem sabe, nesse até logo. Tolo não?

Até em minha árdua despedida, em penso no nosso talvez...


Ismael.


Cartas para o amanhãOnde as histórias ganham vida. Descobre agora