Carta 13

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Pai:

A vida inteira me disseram infinitas vezes, que meu pai estava em que me criava, na mulher forte e guerreira que havia cumprido sozinha um papel que há muito, eu acredito que deva ser cumprido por dois, mas na falta do seu nome em meu conhecimento, é assim que vou me referir a você, pai.

Não culpo minha mãe por se recusar a me relembrar seu nome, ela com certeza sabe que eu o procuraria por cada canto do mundo. Com que propósito? Eu não sei, afinal, eu entendo que você partiu por escolha, e igualmente consciente escolheu não voltar.

A minha última lembrança do seu rosto foi em nossa desavisada despedida. Eu brincava na garagem como de costume, você veio me abraçar e disse que iria resolver um problema para mais tarde brincar comigo, mas você nunca voltou. Mais tarde naquele dia, vi mamãe chorar e se lamentar com uma amiga que você havia nos deixado por outra mulher, e outra vida.

Na época o meu coração se partiu, o que me fez dormir chorando todos os dias por longos malditos anos, sempre pensando que sorte eu teria se fosse surpreendido pela sua chegada repentina. Eu estava sempre disposto a te perdoar.

Os anos se passaram, e o seu nome foi sumindo de minha memória, assim como seu rosto que parece cada vez mais embaçado e difícil de reconhecer... Na adolescência isso me desesperou, pois, como poderia eu esquecer tudo que me restava de meu pai?

Curiosamente, durante toda a escola eu me destaquei. Fui o aluno mais esforçado e dedicado de quem já ouvi falar, e tudo pela ideia estúpida de que você apareceria em uma premiação por orgulho, mas isso também nunca aconteceu.

Tudo que eu recebi foi o vazio da sua cadeira, que eu fazia questão de reservar na primeira fila, para que eu pudesse lhe ver enquanto você me assistir brilhar. Inutilmente eu te esperei em feiras da escola, em apresentações em que eu falava para todos, em premiações por meus desempenhos, em minha formatura de ensino médio e faculdade... tão inutilmente quanto essa carta que nunca lhe alcançará.

Mas hoje meu querido pai, é o dia do meu casamento com o amor da minha vida. Eu temi relações por medo de algum dia fazer o mesmo que você, mas foi preciso apenas conhecê-la, para saber que nós jamais seremos os mesmos.

Daqui a algumas horas eu subirei ao altar e farei juras de amor àquela que hoje ocupa a primeira fileira da minha vida, cujo lugar você nunca mais poderá ocupar. Ao lado dela está a mulher excepcional que construiu o homem que eu sou, e acompanhando-as está meu pequeno Oliver. Meu doce filho, capaz de me emocionar apenas com sorrisos.

Eu o amo, e o acompanho dia após dia como você nunca fez, e luto incansavelmente para que ele encontre em mim, tudo aquilo que eu precisei em você.


Mathias.

Cartas para o amanhãWhere stories live. Discover now