42. Muralha, a gigante

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Bufou, porque existir era confuso e assustador. Como já estava na UP2U, resolveu trabalhar. Algo bem operacional, que impedisse sua cabeça de mergulhar em pensamentos. Sentou à mesa e ligou o notebook, chateado. Estava cansado de se detestar por tudo: por não conseguir superar Jimin, por não enxergar Nayeon como deveria, por ter sucumbido ao seu desejo de se aliviar de forma rápida na noite anterior, mesmo sabendo que seria ainda pior. Não fora maldoso com ninguém, não tratara ninguém mal, não ofendera nem uma mosca. Claro, não era perfeito e sua cabeça mostrava-se traiçoeira, mas ninguém era perfeito. Por que era tão difícil abraçar os próprios problemas?

Queria que Jimin estivesse ali. Queria que Jimin o obrigasse a contar tudo de ruim. E queria ser abraçado depois de ser tudo de pior.

E se detestou por deixar seus pensamentos voltarem a Jimin.

Suspirou, aliviado, quando o computador ligou. Abriu sua caixa de e-mails. Nada como um trabalho insuportável para servir de remédio ao depósito de merda chamado "cabeça de Jungkook". Lá, viu várias notificações do seu aplicativo de organização de tarefas pessoais. Estranho.

Ao abri-lo, lembrou que Nayeon o obrigara a compartilhar com ela. Reparou a maior parte das coisas já em andamento. Tudo muito organizado: havia anotações minuciosas do que tinha sido feito em cada ponto; passos faltantes para conclusão, dependendo de agentes externos; arquivos em anexo com o resultado do trabalho.

Abriu alguns destes e deu de cara com fluxogramas minuciosos dos processos da empresa, com gargalos de cada etapa mapeados em quadradinhos seguindo um código de cores representando o tipo de problema, junto a uma estimativa de impacto financeiro.

Será que Jimin sugerira tal tarefa a Nayeon?

Não, não.

Nayeon era organizada como o cão.

Era isso que deveria pensar.

Jungkook levantou quais das tarefas dependiam de algum movimento seu para serem concluídas e começou a resolvê-las. Gostou. Gostava daquela sensação de estar resolvendo algo; sendo útil. Lembrou-se por que adorava tanto trabalhar. Deveria focar mais no trabalho naquele momento ruim. Adorava focar no trabalho em momentos ruins.

Refastelava-se com a sensação de produtividade quando foi interrompido pelo som do elevador; sinalizando estar no andar, arrastando suas portas metálicas. Estremeceu, como se o barulho o sentenciasse a uma pena cruel: ter de encarar a realidade.

Respirou fundo. Talvez fosse só algum uper que esquecera algo... Ficou quieto. Estático. Como se a imobilidade pudesse torná-lo invisível.

Logo viu, entre as baias de vidro que davam entrada ao Coração, Hoseok aparecer. Ele caminhava cuidadosamente, como que com medo de assustar um animal selvagem. Quando viu Jungkook, os olhos cheios de lágrimas terminaram de marejar.

Não conseguiu se conter. Todo o cuidado foi soterrado por urgência; correu em direção a Jungkook, que o encarava constrangido. Mal notou a expressão do amigo, feliz demais em ver sua presença. Vê-lo lá, inteiro.

Jungkook sentiu, aéreo, o impacto de quando Hoseok jogou-se em seu colo, fazendo a cadeira de rodinhas afastar bons centímetros. Seus ombros foram enlaçados pelo publicitário, que chorava cada vez mais alto. Teve os cabelos afagados nervosamente. Hoseok tremia de necessidade dele.

Após alguns segundos de apertos cada vez mais firmes, Hoseok enfim afastou o rosto do ombro de Jungkook para encará-lo diretamente. Espalmou as mãos na bochechas alheias enquanto o verificava de cima a baixo.

— Você tá se sentindo bem, Gookie? — perguntou Hoseok, afoito. Sua voz era lamurienta. — Algum lugar dói? Você tá bem?

— Eu... — Jungkook suspirou. Era difícil. Não estava bem. — ... eu tô inteiro.

Empresário • jikookWhere stories live. Discover now