Morte encefálica

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Se a minha faculdade de raciocínio
Um dia parar
Desliguem
Não me castiguem
Por permitir que o meu coração
Se mantenha nesse mundo mal

Nas minhas veias não correram sangue
Joguem-as fora
Vou parar de respirar
Desliguem
Entreguem meus pulmões
Comigo eles não vão funcionar

Tirem-me as cordas vocais
Se hoje eu não falei
Desliguem
Não será no âmbito de morte
Que conseguirei gritar

Meus rins não me purificarão
Desliguem
Deem-o
A quem consiga se embriagar

Os meus olhos fechem
Tendo a única visão dos que deixei
Aqui ficar

O meu coração a tempos parou de bater
Desliguem
Permitam que o grande vazio desse peito seja preenchido
A geleira que tanto persistiu na minha carne penetrar
Que alguém o ganhe, sem devoluções, talvez ele volte a funcionar
E que cuide melhor do que um dia fui capaz de cuidar

Eu prefiro que o meu corpo viva
Em outras pessoas
Mas que a minha cabeça morra
É a única que tenho comigo.
enquanto ainda possuo para rimar.

Não me basta rótulosWhere stories live. Discover now