Nina

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Era noite, estava frio. Nina se mexia em sua cama, provavelmente estava tendo mais um dos seus pesadelos noturnos. A jovem sonhava com a noite, a qual havia levado a pior surra da sua vida.

Nina tinha dez anos, quando pegou sem permissão o cavalo favorito do seu pai, para ir cavalgar pelo campo. No caminho uma forte chuva começou a cair, se transformando logo em uma tempestade. O cavalo acabou se assustando com o barulho dos trovões, saindo louco em disparada. O animal então tropeçou, caindo, derrubando Nina no chão. A garota nada sofreu, mas o pobre animal havia quebrado uma das suas patas. Nina retornou as pressas para a mansão da família, contando sobre o ocorrido. O seu pai saiu as pressas da residência em companhia dos seus funcionários, para buscar o animal. Tempo depois, o homem retornou completamente molhado da chuva.

Calmo, o homem segurou a mão da filha, a levando até o estábulo. No local se encontrava o cavalo deitado no chão. O pai falou para a garota, que o animal não tinha mais salvação. Ele então pegou um vergalhão de ferro, e sem pestanejar o atravessou no pescoço do cavalo, que relinchou de dor, morrendo logo em seguida. O animal foi sacrificado alí na frente de Nina, que ficou chocada com a cena. A garota olhava fixamente nós olhos do animal, já sem vida. Sem pronunciar uma palavra, o pai da jovem pegou em suas mãos um chicote, golpeando o rosto da sua própria filha, provocando um corte em sua testa. O sangue quente corria pelo rosto da garota, enquanto ela era chicoteada pelo o seu pai. Todos ouviram os gritos da jovem, mas ninguém se atreveu a fazer nada.

Após aquilo Nina ficou um mês sem falar, por causa do trauma. A garota também tinha terríveis pesadelos, com aquele dia. Ela ainda podia ouvir o cavalo, no momento da sua morte, e lembrava do olhar cruel do seu pai. Em um pulo, a jovem acordou do pesadelo. A garota parecia assustada, os seus olhos pretos vagavam pelo quarto. Nina então se acalmou, ao perceber que estava sonhando. A jovem estava ensopada de suor. Ela odiava sonhar com aquele fatídico dia, desejando apagá-lo da sua memória, mas infelizmente ela não conseguia. Nina então se levantou da cama, indo em direção a janela do quarto, se sentando no batente. A noite estava fria, e o céu cheio de nuves. A jovem parecia olhar para o nada, seu olhos pareciam vazios.

Nina era uma linda jovem de cabelos longos, cor de cobre, os seus olhos brilhantes como as asas de um corvo. Os seus lindos lábios eram cheios, e vermelhos, e a sua pele era branca, quase pálida. Ela acabará de completar dezenove anos. Muito jovem, e bonita, porém muito triste. A garota sabia que enquanto ficasse alí, ela nunca iria conhecer a felicidade. O seu pai fazia questão de maltratá-la todos os dias. O homem havia avisado que pretendia casá-la o mais rápido possível, com algum pretendente rico da Espanha, pois seria bom para os negócios da família. O pai parecia odiá-la, Nina tinha vontade de matá-lo, pensamento que a deixava assustada. A jovem passou os dedos sobre a testa, sentindo a cicatriz que havia ganhado naquele dia, fazendo o sentimento de raiva vir a tona. A garota decidiu que quando tivesse a oportunidade, fugiria para o mais longe possível dalí, para nunca mais voltar. Esse era o único sonho que a jovem tinha.

Todos os dias eram iguais. Nina acordava cedo, tomava o seu café da manhã, e ía as aulas de boas maneiras da madame Cornélia, uma mulher de meia-idade, que nunca havia se casado, e que se considerava a elegância em pessoa. As alunas eram muito piores. Moças estericas, em busca de um marido rico. Eram tão desesperadas, que qualquer homem rico servia. Para Nina elas não passavam de meninas mimadas. A única pessoa que a jovem gostava naquela aula, era a sua prima Dora. Ela era gentil, doce, e inteligente. Infelizmente Dora não frequentava a casa da prima, pois seus pais não se davam bem, por isso a jovem evitava de ir para lá. Então Nina aproveitava as aulas de etiqueta, para ver a sua prima. Elas sempre conversavam muito sobre livros, lugares que gostariam de conhecer. Aquelas com certeza, eram boas horas. A pior parte do dia era a noite, a hora que o seu pai chegava do escritório para o jantar.

O Jardim Das CaméliasWhere stories live. Discover now