40. Bueiro, o imundo

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Porém, como não o faria? Como esperado, ele carregava muito dos traços que Jimin observava todos os dias pelo espelho do banheiro. E caminhava em sua direção a passos que tentavam fingir normalidade.

A expressão dele era neutra, o que deixava Jimin ainda mais aflito. Estava em uma situação nebulosa, quase labiríntica e, independentemente de todas as outras vezes nas quais se colocara em uma posição desconfortável, instável, lastimável e todos os outros "ável" dos quais fugira por toda a vida, a angústia em fazê-lo não cedia. Era sempre apavorante, mesmo sabendo dar bons frutos muitas vezes. Um pedacinho de si sempre flertava com a fuga, com a possibilidade de voltar a ser o de sempre.

Ele sentou em sua frente, mas nenhuma palavra deixou seus lábios. Jimin também parecia engasgado. Apenas reconheceram-se com o olhar e com um acenar de cabeça. A fim de anuviar tal desconforto, Jimin chamou o garçom.

Anos sem ouvir a voz alheia e a primeira frase registrada por seus ouvidos foi "um pedaço da pizza de calabresa, por favor". Não que tivesse performado melhor. Pediu batata frita.

Continuaram em silêncio enquanto a comida era preparada. Tinham muito a falar, porém a atmosfera entre ambos fornecia algumas informações sem precisar de palavras. Tensão não hostil. Cheiro de medo, gosto de hesitação. Os fios azuis de Jimin e suas roupas coladas. O cabelo longo do outro e a roupa mais desleixada. Sim, as aparências também contavam histórias, pois apenas lembravam-se de cabelos de negrume asseados, roupas de grife elegantemente neutras, sem nada a dizer.

A constante era o olhar baixo. Porém, mesmo este era diferente. A aflição da necessidade de ser melhor havia trocado de dono, transportado-se entre lampejos de luz nas íris igualmente castanhas, emolduradas por pálpebras idênticas.

Comeram sem trocar nenhuma palavra, e até quando o garçom veio recolher as louças vazias, o único esclarecimento até então foram os olhares um no outro. Jimin observou a mão esquerda dele buscar o copo de suco, repleta de anéis e, inclusive, um bem distinto no anelar.

— Casou? — Jimin perguntou, observando o olhar dele erguer-se em sua direção, um tanto espantado. Terminou de dar o gole em sua bebida.

— Sim — respondeu. E Jimin assentiu, já imaginava. — É aquela que você já conhece. Não fizemos cerimônia, apenas trocamos alianças e fomos ao cartório oficializar. Papai e mamãe não sabem também...

— Você conversa com eles ainda?

— De vez em quando falo que tô vivo. Pessoalmente... não lembro qual foi a última vez. E você?

— Pra ouvir perguntas de quando vou terminar a faculdade.

— O que tá achando da faculdade?

— Hm... Era pior antes. — Deu de ombros. — E o que tá achando da vida de casado?

— Pouca coisa mudou... Eu já morava com a Sunmi há um tempão. Mas sempre foi bom... — Meneou a cabeça e foi como se o movimento acendesse uma luz. — Ah, acho que nunca te falei como ficou minha vida depois que... que eu te deixei. Na verdade, a gente nunca mais conversou, né? — Uma risada nervosa, triste e desesperada.

— Você não me deixou — Jimin murmurou.

— Você realmente acha isso? — O tom dele era cheio de temor. Incredulidade.

Empresário • jikookWhere stories live. Discover now